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20/09/2018 14h16

Estudo realizado em São Lourenço irá eleger o espaço símbolo do município

Arquiteta e urbanista Michela Perígolo Rezende escolheu a cidade para realizar o trabalho

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 Foto: Adriana Lemos

Michela escolheu a cidade para fazer sua pesquisa de Doutorado

A arquiteta e urbanista Michela Perígolo Rezende irá realizar na cidade de São Lourenço uma pesquisa para eleger o espaço símbolo do município. A pesquisa intitulada “Estudo de significância e representatividade da cidade de São Lourenço – MG” faz parte de uma parceria efetivada entre a Prefeitura local e o Programa de Pós-graduação em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável da Universidade Federal de Minas Gerais, onde a pesquisadora desenvolve tese de doutorado.

Michela explica que a história de São Lourenço, desde sua fundação, tem sido marcada pela sua grande diversidade cultural. Esta importante qualidade atribui a estudos como este, grande riqueza por fornecer coleta de dados importante para se estabelecer um perfil cultural de uma região.

O trabalho se dá a partir de levantamento histórico e documental, e também de entrevistas com alguns atores relevantes no processo cultural da formação da identidade dos moradores, mapeando os principais grupos culturais da região. “Em uma segunda etapa, será abordada a visão da cidade pelos estudantes de algumas escolas. Com previsão para realização em 2019, a pesquisa será aberta para o público através de formulários digitais online. Ao final da pesquisa, muito além de se eleger o espaço símbolo da cidade, esperamos apresentar à comunidade envolvida um estudo cultural de relevância que poderá amparar muitas outras iniciativas para reconhecimento e fortalecimento da identidade local”, ressalta a arquiteta.

Entrevista

Qual o motivo de sua mudança para São Lourenço?

Sou natural de Belo Horizonte, onde também morei a maior parte de minha vida. Tenho grande carinho pela cidade onde cresci e tive minha formação acadêmica, profissional e também espiritual. A prática da espiritualidade e busca pelo sagrado sempre esteve presente em minha vida. Estes valores também nortearam minha formação profissional como arquiteta onde sempre busquei estudar e compreender este ofício de forma também sagrada. Sempre procuro trabalhar conceitos de Feng Shui, Radiestesia e arquitetura sagrada em meus projetos. No compasso desta busca fui apresentada ao Movimento Dedico há quase vinte anos, instituição que faço parte até hoje, e onde direciono meu caminho espiritual. Deste modo, minha mudança para a cidade de São Lourenço se deve a um projeto de expansão da Dedico de Belo Horizonte com a fundação de uma nova sede nesta cidade onde estabeleci residência. Hoje não me vejo em outro lugar e me considero mesmo uma cidadã de São Lourenço.

Porque sua pesquisa será importante para a cidade?

Quando fui convidada a fazer parte da Dedico São Lourenço já estava com meu doutorado em andamento em Belo Horizonte. Contudo, quando comecei a conhecer a cidade, me surpreendi com sua riqueza cultural, arquitetônica e de paisagens naturais privilegiadas. Aos poucos fui conhecendo um pouco mais sobre sua história, costumes e valores. Também tornou-se claro sua vocação turística e sua consolidação como grande polo para muitas filosofias e instituições espiritualistas. Percebi então, que seria muito oportuno, para não dizer “obra do destino”, colocar uma pesquisa na cidade de São Lourenço como objeto de estudo. O programa de pós-graduação da qual faço parte é interdisciplinar e minha pesquisa tem como foco o patrimônio e a representação. Eleger o espaço símbolo da cidade, ou mesmo, os espaços símbolos, poderá desencadear inúmeras repercussões na cidade. Desde a movimentação popular que será fortalecida em sua identidade cultural até a construção de um documento sistematizado e oficial que contenha dados e informações históricas e culturais atuais que oriente a tomada de decisão de futuros projetos culturais na cidade. A importância e consequências efetivas para a cidade e seus moradores, entretanto, será quanto maior de acordo com o envolvimento do poder público e da comunidade. Nenhuma pesquisa que se defina cultural alcança seus objetivos sem a participação popular. Neste intuito, foi efetivada uma parceria entre a Prefeitura local e a Universidade Federal de Minas Gerais para assegurar o comprometimento acadêmico e público no amparo ao projeto.

Como a Prefeitura e a população poderão contribuir na realização da pesquisa?

O apoio na divulgação, o incentivo e a predisposição na participação individual de cada morador ou turista será fundamental para um estudo significativo. Será necessário acesso às escolas, fonte de importantes informações e onde a cultura deve estar sempre em evidência. Mas também em todas as instituições e comunidades informais onde a cultura popular seja evidenciada.
A pesquisa empírica será realizada em duas etapas. Na primeira, serão realizadas entrevistas semiestruturadas com algumas pessoas de singular representação cultural na cidade. Sabe-se que não conseguiremos entrevistar os tantos personagens importantes desta rica história. Contudo, objetiva uma coleta de amostragem qualitativa e não quantitativa. Será importante que os entrevistados estejam vinculados às manifestações sócioculturais de forma ampla não privilegiando nenhum recorte histórico ou social. Em um segundo momento, a pesquisa será aberta. Muito mais que um simples plebiscito, a metodologia proposta pela pesquisa irá levantar questões culturais e de representação relevantes para grupos culturais específicos. A plataforma de aplicação da pesquisa nesta fase será via internet e conta com a participação de todos.

Como você vê a vocação turística da cidade?

São Lourenço é uma cidade muito rica em história e cultura. As atuais políticas de proteção e reconhecimento cultural mundiais apostam no fortalecimento da heterogeneidade cultural como forma de sobrevivência da identidade local. O tema da globalização tem sido em muito debatido nas esferas do turismo com uma forte preocupação na preservação da cultura e identidade locais. O turismo massificante, estilo Disneylândia, tem sido duramente criticado pela repercussão cruel que incide na comunidade local, com possíveis processos de gentrificação e com o “esvaziamento do sentido do lugar”. Como já citado, São Lourenço é rica. Não há necessidade de forçar um estilo ou um falso histórico. Sua riqueza está na pluralidade, este é seu maior patrimônio. Alguns elementos histórico-culturais podem se destacar naturalmente ou por incentivo de uma postura de marketing turístico, mas a história como um todo precisa ser valorizada. Posturas muito engessadas em um único viés histórico acabam por deixar míope o turista, os moradores e as políticas de orientação e preservação culturais locais. Este juízo de valor unilateral é responsável por grandes perdas patrimoniais no decorrer da história. Para se valorizar é preciso, primeiro, conhecer. Não é questão de feio ou bonito, mas de identidade e memória. Mas este sentimento e crença precisam ser reavivados e fortalecidos primeiramente em seus habitantes para depois ser oferecido com orgulho e generosidade a todos os visitantes. A vocação turística de São Lourenço merece maior projeção internacional com o foco em um público que valorize mais o que a cidade tem de mais precioso para oferecer.

Do ponto de vista da arquitetura e urbanismo como você vê a cidade?

Uma boa arquitetura é um resultado de dedicação, respeito e investimento de tempo e de recursos. A epidemia de nossos dias é síndrome da falta de tempo que vem potencializada pelo lucro a qualquer custo. Este diagnóstico é responsável pela desvalorização e destruição de exemplares patrimoniais importantíssimos. Na história que me faço como arquiteta e urbanista, vejo na cidade de São Lourenço “pérolas” preciosas, ou mesmo, uma paisagem cultural única. A formação urbanística inicial e alguns exemplares arquitetônicos de relevância, ainda mostram força, embora muito camuflados pela confusão visual que demonstra o desconhecimento daqueles valores. Porém, se esta “negligência salutar” (...salutar?) os mantiveram até o momento em condições mínimas de preservação, é preciso fomentar iniciativas públicas e privadas urgentes para que este patrimônio volte a fazer parte da vida dos moradores como bem de imensurável valor, inclusive financeiro. Reafirmo mais uma vez, sem receio de me repetir, São Lourenço é rica.

Sobre a Arquiteta:

Michela é doutoranda do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável (2016 - em andamento), Arquiteta e Urbanista graduada pela Escola de Arquitetura da UFMG (1998), onde também adquiriu o título de mestre em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável (2009). Iniciou graduação em Engenharia Civil pela Escola de Engenharia da UFMG (1991 a 1994 - interrompida). Foi professora do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, em Belo Horizonte. Responsável pelo gerenciamento do projeto arquitetônico e compatibilização do Centro Tecnológico da Vale, em Nova Lima (MG). Desenvolve pesquisas direcionadas à percepção e representação espacial focadas na arquitetura e urbanismo. No campo do patrimônio, mantém atuação em projetos sociais vinculados às culturas tradicionais. Membro do ICOMOS - Conselho Internacional de Monumentos e Sítios - Brasil. Atua também no 3º setor como integrante do Movimento Dedico - Despertar da Divina Consciência, instituição filantrópica que promove o desenvolvimento integral e a cultura da paz.

Qualquer sugestão, informação e colaboração, entrar em contato pelo e-mail: simbolosaolourenco@gmail.com

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