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02/02/2017 11h14

Ministério Público investiga instalação de eletrodo em São Vicente de Minas

A princípio, o material seria colocado em Andrelândia, mas oposição fez empresa rever a proposta

O Ministério Público está investigando o processo de licenciamento da implantação do Sistema de Transmissão Rio Xingu em São Vicente de Minas. O projeto faz parte da construção da Usina Hidrelétrica Belo Monte, no Rio Xingu (PA). A transferência de energia passará por cinco estados brasileiros, entre eles, Minas Gerais.

As cidades que vão compor a linha de transmissão foram analisadas e diversos estudos foram feitos, como possíveis impactos ambientais causados pela implantação do sistema de energia.  Pesquisas do tipo foram realizadas pela Concremat Engenharia e Tecnologia.
A linha de transmissão deverá passar, entre outras cidades do Estado, em São Vicente de Minas; Andrelândia; Arantina e Bom Jardim de Minas. A instalação do eletrodo estava prevista para ocorrer em Andrelândia, mas durante Audiência Pública do último dia 30 de janeiro, a Concremat decidiu que a colocação do material na terra deve ocorrer em São Vicente de Minas.

Audiênica Pública discuti sistema de transmissão/Foto: Jornal Informal

No entanto, de acordo com o Promotor de Justiça, Alex Fernandes Santiago, a mudança aconteceu devido a forte oposição da sociedade civil e do Ministério Público. Foram apontadas diversas falhas nos estudos, como desconsideração das áreas de preservação permanente e do próprio Rio Turvo, que seriam afetados pelo eletrodo; desconsideração do tombamento da Pedra do Índio e da proteção ambiental do Morro do Serrote, que seriam afetados pelas linhas de transmissão.

Para o MP, São Vicente será o principal município afetado, pois o eletrodo abrange uma área total de 68 hectares – 680 mil metros quadrados, com área construída de 4,8 hectares. “Os riscos para pessoas e animais também devem ser investigados, pois o empreendedor se limita a afirmar que não serão atingidos, mas necessita melhor comprovação. Além disso, o eletrodo pode promover aquecimento do solo e ressecamento. O empreendedor não apresentou a identificação das áreas de preservação permanente, fragmentos florestais e cursos d’água, com especificação de locais, coordenadas, e sua distância em relação ao eletrodo, limitando-se a afirmar, sem qualquer comprovação, que não as atingirá”, afirma o Promotor de Justiça, Alex Fernandes Santiago.

A Concremat, no entanto, informa que todos os dados relativos ao eletrodo estão contidos nos estudos já protocolados no IBAMA e na Promotoria de Justiça, sem prejuízo da apresentação complementar de detalhamentos específicos solicitados na Audiência Pública. Por meio de nota, a empresa disse ainda, que o município mais afetado pelo empreendimento no Estado será Unaí. Além disso, a companhia apresentou em audiência que os estudos e critérios ao eletrodo foram estipulados de acordo com referidas normas nacionais e internacionais impostas.

A partir de agora, será discutida a viabilidade ambiental da implantação do projeto em São Vicente de Minas. O MP diz que só após a obtenção da licença prévia poderá discutir a instalação do empreendimento. “Já se demonstrou essa inviabilidade em Andrelândia, agora cabe verificar se São Vicente a possui”, conclui o Promotor Alex Fernandes Santiago.

Autoridades regionais discutem proposta de instalação de eletrodo/Foto: Jornal Informal

A Usina de Belo Monte e a Linha de Transmissão Xingu-Rio

Parte da energia gerada na Usina Hidrelétrica de Belo Monte será transmitida pela linha Xingu-Rio, com 2.534 km de extensão, cortando os estados do Pará, Tocantins, Goiás, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A capacidade da linha será de 7.800 MW, suficiente para transportar metade da energia produzida por uma usina do porte de Itaipu. Aliás, a tecnologia selecionada para esta linha - a transmissão em corrente contínua em ultra alta tensão -  é utilizada no Brasil desde a construção de Itaipu, mas é pouco disseminada.

A eletricidade, gerada em corrente alternada nas máquinas da usina de Belo Monte, é convertida em corrente contínua ainda no Xingu e injetada na linha a 800 kV, sendo convertida novamente para corrente alternada ao chegar no Rio de Janeiro, no município de Paracambi. Apesar de apresentar algumas desvantagens, a transmissão em corrente contínua gera menos perdas elétricas e permite a construção de linhas de custo menor, além de tornar o sistema mais robusto frente às oscilações elétricas. Porém, esta técnica requer a construção de estações conversoras nas duas extremidades das linhas (que convertem a corrente alternada em contínua e vice-versa) e só se torna economicamente viável quando a linha é muito longa.

Usina de Belo Monte no Rio Xingu (PA)


As Linhas de Transmissão em Corrente Contínua e seus Eletrodos de Terra

Diferente das linhas de corrente alternada, que usam três fases (“fios”), as linhas de corrente contínua requerem apenas dois polos. Em caso de emergência, quando um dos polos é interrompido por qualquer motivo, tais linhas podem operar com retorno pela terra através de dois eletrodos gigantescos, situados perto das extremidades da linha. Ou seja, uma linha de corrente contínua pode operar temporariamente com apenas um “fio”: o retorno pela terra faz o papel do segundo “fio”.  A corrente elétrica é injetada na terra através do eletrodo de uma das extremidades e retorna pelo eletrodo da outra.

Esse recurso aumenta muito a confiabilidade do sistema, pois permite que a linha continue a funcionar enquanto se busca solucionar o problema. Por motivos técnicos, porém, a operação através dos eletrodos é temporária. No caso da linha Xingu-Rio, o limite estabelecido é de 30 minutos por vez.

Como é um eletrodo?


Há algumas configurações possíveis para um eletrodo. No Brasil, as usadas são as verticais, como na linha Porto Velho – Araraquara, e as horizontais, como na Xingu - Rio.

Os eletrodos verticais são instalados a dezenas de metros de profundidade, diretamente em camadas de solo com boa condutividade elétrica. A corrente tende a penetrar rapidamente nas camadas mais profundas e gera poucos efeitos na superfície.

Já os eletrodos horizontais, como os da linha Xingu – Rio, ocupam grandes áreas mais ou menos circulares, com diâmetros que podem se aproximar de 1 km. São instalados a poucos metros de profundidade (de 2 a 5 metros, em geral) e seu custo de construção e manutenção é bem menor que o dos eletrodos verticais. Requerem a abertura de valas extensas com alguns metros de largura, que são fechadas depois da instalação.  A distribuição das correntes na superfície do solo nas imediações de um eletrodo horizontal é muito dependente das características elétricas do solo – as quais podem variar muito de um local para outro ou mesmo ao longo do ano, em função das chuvas -, exigindo muitas medições para que se possa estimar com alguma precisão até onde seus efeitos serão sentidos.

Colaboração Especial: Jornal Informal Andrelândia

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