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07/11/2014 10h47

Plantações de café ameaçadas pelo aquecimento global, diz relatório da ONU

IPCC reforça cenário assustador anunciado em março deste ano relativo ao cultivo de café e às ameaças das mudanças climáticas

por Deborah Penna

O relatório da ONU, Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), sobre as bases científicas da alteração climática foi divulgado no dia 2 de novembro, em Copenhagen, Dinamarca.

Para elaborar as avaliações o IPCC divide-se em três Grupos de Trabalho (GTs). O GT I é responsável pela "Base Científica da Alteração Climática", o II lida com "Impactos da Alteração Climática, Adaptação e Vulnerabilidade" e o III está a cargo de explicar a "Mitigação da Alteração Climática".
O IPCC foi estabelecido em 1988 e é formado por milhares de climatologistas, geógrafos, meteorologistas, economistas e outros especialistas que representam mais de uma centena de países.

O relatório GT I, divulgado no último domingo (2), vem reforçar o GT II, que foi divulgado em março de 2014 no Japão.

Dados do GT II indicam que a combinação de altas temperaturas, a escassez de recursos hídricos e os fungos que atacam as plantações podem vir a reduzir as áreas destinadas ao cultivo do grão de café no mundo, especialmente o da variação arábica, que corresponde a 70% da demanda global.

O relatório afirma que no Brasil, maior produtor e exportador de café, o aumento de 3ºC na temperatura irá reduzir as áreas destinadas ao cultivo de café em dois terços, principalmente nos principais estados produtores, como Minas Gerais e São Paulo e poderá extinguir por completo as áreas de cultivo em outros estados.

Mauricio Galindo, chefe de operações da Organização Internacional de Café, está bastante preocupado com a realidade. “A mudança climática é a maior ameaça à indústria. E se não nos prepararmos vamos enfrentar um grande desastre”, afirma.

O relatório IPCC divulgado no domingo reforça as problemáticas apontadas pelo GT II e prevê impactos graves e irreversíveis para todo o Planeta e todos os setores, caso não sejam tomadas providências imediatas.

O Secretário Geral das Nações Unidas, Ban Kimoon, se pronunciou neste domingo, pedindo atitude das autoridades políticas. “O tempo não está do nosso lado”, afirmou.

O relatório aponta claramente para os perigos que o Planeta enfrenta com a mudança - como as graves ondas de calor, temperaturas extremas, chuvas intensas, falta de alimentos e aumento da violência, entre outros - , mas deixa bem claro que é possível controlar essa mudança climática, com ações urgentes e imediatas, e, inclusive, reverter a pobreza global.

“Ações rápidas e decisivas podem construir um futuro mais próspero e mais sustentável”, declarou Ban Kimoon, que pediu ainda a redução de investimentos em combustíveis fósseis e mais estímulos a economias baseadas em energias renováveis.

“Nós temos os meios para controlar a mudança climática. As soluções são muitas e permitem o contínuo desenvolvimento econômico e humano”, garantiu o diretor do IPCC, Rajendra Pachauri.

Numa entrevista dada ao Instituto Humanitas Unisinos (IHU), o cientista brasileiro Antonio Donato Nobre foi contundente: “A mudança climática já chegou. Não é mais previsão de modelo, é observação de noticiário”.

Antonio Nobre, especialista em questões amazônicas, pertence ao grupo do IPCC, explica a ligação da seca com as mudanças climáticas e com o desmatamento da Amazônia.

“Na Amazônia as árvores são antigas e têm raízes que buscam água a mais de 20 metros de profundidade, no lençol freático. A floresta está ligada a um oceano de água doce embaixo dela. Quando cai a chuva a água se infiltra e alimenta esses aquíferos”, esclarece.

“O desmatamento leva ao clima inóspito, arrebenta com o sistema de condicionamento climático da floresta. Ao desmatar, destruímos os mecanismos que produzem esses benefícios e ficamos expostos à violência geofísica. O clima inóspito é uma realidade, não é mais previsão. Era preciso ter parado o desmatamento há dez anos. E parar agora não resolve mais”, continua.

Ainda assim, o especialista acredita que é possível contornar a situação com o que ele chama de ‘esforço de guerra’. “Temos que replantar florestas, refazer ecossistemas. É a nossa grande oportunidade”, sublinha.

O ‘esforço de guerra’ a que Antonio Nobre se refere é o reflorestamento das áreas destruídas. Não apenas a Amazônia, mas também a Mata Atlântica, e deve ser feito, segundo ele, numa atitude coletiva de toda a sociedade.

“E não é replantar eucalipto”, exalta o cientista. “Monocultura de eucalipto não tem este papel em relação ao ciclo hidrológico. Tem que replantar florestas e acabar com o fogo. Poderíamos começar reconstruindo ecossistemas em áreas degradadas para não competir com a agricultura”, sugere.

 

 Gráficos relativo aos dados divulgados pelo IPCC

 Fontes: Infográfico/Estadão ; Público.pt ; Folha de São Paulo ; World Resources Institute

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