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Leia agora o Correio do Papagaio - Edição 1897
Regional
09/02/2017 16h01

Pobre suflê de cenoura...

Junto ao curral do hotel fazenda onde estávamos hospedados, naquele final de madrugada, depois de curtir o nascimento do sol que ainda atrás da colina ali não havia projetado seus raios, a dar início ao seu ciclo por mais um dia, dois ordenhadores preparavam-se à tarefa diária, quando alegres e espavoridas se chegaram três mulheres visando, por anunciar em bom tom, que queriam tomar leite direto da fonte.

Olhando-as, tive vontade em alertá-las do possível risco que correriam. Todavia me contive, afinal não queria dar uma de intrometido e inconveniente em querer aparecer, já que eram bem “grandinhas” e deveriam saber o que estavam fazendo. Deslumbradas, debruçadas sobre a cerca do curral, pediram aos peões que as servisse do leite a entregarem suas canecas, no que foram atendidas, como também me foi oferecido numa outra caneca. Agradecendo, declinei o oferecimento, justificando pelo risco a ingerir o líquido inatura, já que como urbano, tal hábito alimentar não faz parte do costume, em que estamos acostumados pelo leite industrializado, cujo teor de gordura é bem menor.

Saboreando suas canecas, com direito a repetições, as “dondocas” lambendo os lábios, irreverentes e um tanto irônicas, desprezando minhas orientações certamente ouvidas ao recusar o oferecimento do peão, diziam que este risco era pura lenda, pois se fosse verdadeira, pobre dos bezerros. Com discreto sorriso meneei a cabeça acatando o sarcasmo, a me retirar do local sem antes desejar-lhes boa sorte e sucesso no dia que se iniciava magnífico a uma prática bem salutar.

Antes do almoço ao passar pela recepção, o gerente preocupado, abordou-me a indagar se eu era médico, pois carecia de um atendimento a três mulheres que se encontravam em estado de pura incontinência intestinal e dores abdominais. Mas o que o deixava assustadíssimo, era o fato que iriam processar o hotel por servir alimentos contaminados, como foi o suflê de cenoura servido por ocasião do jantar o qual se excederam na degustação. Acalmando-o, após o informar de não ser médico, solicitei que indagasse das “dondocas” se gostaram do leite inatura ingerido hoje ao fim da madrugada, onde diziam ser pura lenda haver riscos a efeitos colaterais...

Moral da história: Quando a cabeça não pensa, o corpo é quem paga. E como paga quando se é cabeça dura e se tem os intestinos moles...
Ah... Esses “turistas cabeçudos” quando pelas suas autossuficiências se veem em situações aflitivas e colocam a culpa em outras razões ao verem-se suas ironias a descerem privada a baixo, só nos resta agradecer pelos momentos pitorescos que nos proporcionam...

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