Na segunda metade do Século XIX, um casal de libaneses deixava a cidade de Amchit, no Líbano, com destino ao Brasil. Os recém casados, Yussef Zakia Saleh e sua esposa Salime Miguel Saleh, traziam no colo a filhinha Julia, com três meses de idade.
A viagem teve início no porto de Beirute, capital do Líbano, e tinha a previsão de durar entre 3 e 4 meses, até o navio atracar no porto do Rio de Janeiro.
Não era uma viagem turística, mas, uma busca de melhores condições de trabalho e de sobrevivência, num país gigantesco e de oportunidades intermináveis. O chefe da família, marceneiro, experiente e trabalhador por vocação, tinha certeza de que seria bem sucedido na sua profissão, num país onde tudo era superlativo e cheio de oportunidade para todos que para aqui viessem. Os planos do casal era trabalhar duramente durante alguns anos, amealhar uma pequena fortuna e retornar triunfante ao seu país de origem. Por isto, não tiveram a preocupação de se desfazer de nada do que já possuíam, tal era a convicção de um dia retornar.
Na chegada ao Brasil, pelo porto de Rio de Janeiro, a preferência foi por morar numa cidade pequena, mais fácil de se adaptar e adquirir o traquejo necessário para ganhar o país e enriquecer. Não se afastaram muito da capital e algum tempo depois vieram parar em Bom Jardim de Minas, procedentes de Mendes e Barra do Piraí, no Estado do Rio de Janeiro.
O tempo foi passando, a família aumentando, e a riqueza continuava um sonho. Vieram outros filhos e filhas, e alguns anos se passaram, quando a mesa de refeições ficava composta pelo casal, a filha Júlia trazido nos braços do longínquo Líbano, e os outros descendentes, nascidos no Brasil: Ezequiel, Miguel, Elias, João, Mariana, Madalena. Os costumes trazidos de longe permaneceram por longo tempo, e na alimentação, a tradição foi mais longe. A mesa era farta de comida árabe, quase não se misturando com a culinária brasileira.
A família cresceu, as despesas aumentaram, e a riqueza continuava em sonho. Nunca mais puderam voltar, nem mesmo a passeio. O contato com os familiares, no distante Líbano, foi se rarefazendo e durante as duas guerras mundiais, na primeira metade do século XX, tornou-se impossível. O vínculo com a terra natal foi desfeito. A perda de contato foi irreversível. E a saudade tornava um suplício para a matriarca da família Saleh falar sobre o assunto.
Já os filhos, sadios e trabalhadores, foram crescendo mais brasileiros do que libaneses. Formaram novas famílias, diversificaram as profissões, alguns deles tornando-se mascates, uma rendosa profissão naquela época. A Júlia, casou-se com o José; o Ezequiel casou-se com D. Celina; o João, com D. Oscarina; o Miguel, com D. Ana Chaves; a Mariana, com o Antônio Mendonça e o Elias, o caçula, com D. Aurora de Carvalho.
Assim começa a história que está justificando toda esta euforia comemorativa de meio século de sacerdócio do Padre Elias: a união de Elias José Saléh e D.Aurora de Carvalho Saleh.
A ausência dos pais e demais parentes é a única sombra que ofusca o brilho desta solenidade, marcada pela conduta ilibada de um sacerdote que dedicou a vida à sua fé inabalável.
Colaboração: Família Ezequiel e Celina Saléh