Lá estávamos nós uma vez, a desfrutar daquele hotel fazenda à gostosa localidade de Raposo, ao norte fluminense, lugarejo famoso pelas águas minerais cujas qualidades inigualáveis, prioritariamente, do tipo magnesiana, - Infelizmente hoje no sul de Minas está praticamente esgotada – quando curtíamos o pequeno e bem agradável parque hidromineral nos próprios da fazenda, um senhor “bem vivido” que sentado a um dos bancos, nos solicitou ao passar, se poderíamos encher seu copo à fonte magnesiana. Claro que os atendemos e que ao retornar, sentamo-nos ao seu lado, no que se pôs a prosear enaltecendo o belo recanto
Dizendo-se a chamar Idelfonso, capixaba oriundo de Cachoeiro do Itapemirim, ES, fez questão de contar que pelo menos de três a quatro vezes ao ano vem a Raposo deliciar-se com estas águas, que dizia possuir propriedades medicinais que traziam a longevidade. Prova são seus 92 anos e há 38 vem aqui se aproveitar destas fontes de juventude depois de se aposentar da Estrada de Ferro Vitória – Minas, onde serviu por 35 anos interruptos no expresso Vitória-Minas-Vitória.
Diante da sua revelação e sendo eu um pesquisador sobre fatos inerentes aos trens, me fiz a conhecer, no que então passou a narra momentos trazidos da boa memoria, que de certa forma, segundo revelou, marcaram indubitáveis a sua vida ferroviária às estações e a bordo do Vitória-Minas.
Entre alguns discorridos, recorda-se de um especial, que embora na época a repercussão fosse um tanto dramática e muito triste a deixar toda cidade bem desolada pelo ocorrido onde um menor teve o pé decepado pelas rodas do vagão de trem ao cair após uma carona mal sucedida; traquinagem à época efetuada pela criançada de Cachoeiro que, todavia serviu de exemplo aos praticantes dessa perigosa brincadeira. Lembrou-se, que após a tragédia, foi dada a ordem expressa, a verificar e manter-se vigilante às portas dos vagões quando das partidas das composições à estação, a evitar que houvesse o acesso de algum menor como pingente, a fim de dificultar tal prática da carona. Felizmente nunca mais casos voltaram a acontecer, pelo menos durante os anos como ferroviário de seu Idelfonso.
Só que muitos anos depois, aquela criança vítima daquele trágico acidente, despontava para o sucesso de uma carreira vertiginosa e brilhante que perdurava até hoje, a ter suas canções eternizadas ao longo de gerações que o tem como seu ídolo maior e ser considerado como Rei. Este homem não mais é do que Roberto Carlos, uma das maiores celebridades brasileiras.
Hoje, de acordo com as palavras do seu Idelfonso, aquele trágico acidente faz parte, lamentavelmente, da história de Cachoeiro não só por ser a cidade que deu ao mundo artístico tal celebridade, como marcou para sempre aos seus conterrâneos e aos que ali visitam buscando conhecer a famosa terra onde nasceu o maior ídolo artístico do Brasil.
Revelando, seu Idelfonso diz que ainda tem vivo à memória aquele triste acidente em que uma criança na sua inocência, imbuída nos seus folguedos pueris desprendida dos riscos perigosos pela traquinagem natural, deixou a sua Cachoeiro do Itapemirim abalada pela brutal cena, hoje eternizada para sempre aos olhos daqueles que mesmo sem presenciá-la, sente a dor do destino do nosso Roberto, onde a religiosidade, a fé e a amor ao seu ídolo maior, “Jesus Cristo”, o faz trilhar sua vida de eterno sucesso: - Desculpe-me se me emocionei! Podem me apanhar mais um copo de água magnesiana?
Este episódio narrado por seu Idelfonso em seus mínimos detalhes de dramaticidade, no que pese a tragédia envolvendo uma criança, também é incluso ao nosso acervo, o qual aqui expondo a você leitor, apenas como um fato a mais neste universo de 460 episódios, cujo trem é o “personagem” pelos nossos narradores muitas vezes anônimos.