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São Lourenço - Notícias
19/11/2015 17h39

Construção de rua no bairro da Estação gera polêmica, em São Lourenço

Moradores do bairro temem destruição ambiental e fazem denúncia ao jornal.

 

Foto: Google Maps

No final de outubro, os moradores do bairro da Estação surpreenderam-se por verem funcionários do SAAE realizando corte de árvores no antigo terreno, onde funcionou por mais de 50 anos o Ferro Velho do Sr. Alípio.

Ele, uma figura emblemática do bairro, cuidou por anos do terreno, onde além de usar como espaço de trabalho, plantava árvores e criava seus 13 filhos.

A população ficou indignada com a ação e temendo por crime ambiental procurou autoridades e a imprensa.

O jornal Correio do Papagaio apurou a denúncia junto ao chefe de governo, Luís Cláudio de Carvalho e junto ao Conselho de Defesa do Meio Ambiente (Codema).

Segundo informações oficiais, o local onde foi realizado o corte das árvores é um bem público no qual será construída uma rua.

“A rua está projetada desde o ano de 1897, sendo que o projeto foi reproduzido pelo engenheiro Alfredo Capelache de Gusbert, conforme documentos arquivados na prefeitura”, explica Luís Cláudio.

O Codema fez uma vistoria no local em 2012 com parecer favorável e, no dia 21 de outubro de 2015, após nova vistoria, aprovou unanimemente novo parecer (nº 33/2015), a pedido da Gerência do Meio Ambiente.

De acordo com a prefeitura, a abertura da rua João Pessoa constitui utilidade pública e interesse social, visto que será mais uma alternativa para o escoamento do trânsito oriundo dos bairros à margem esquerda do Rio Verde, criando possibilidade de construção de mais uma ponte sobre o Rio.

“A utilidade pública supera todas as leis ambientais”, afirma Marisa Parente Hernandez, presidente do Codema. “Não existe impacto ambiental que esteja causando danos à população”, esclarece a presidente.

Para a filha do Sr. Alípio, Marina Silva, a ação constituiu um crime. “Ali era um brejo, um buraco. Meu pai cuidou, plantou durante todos esses anos”, lamenta Marina. Segundo ela, no terreno havia muitas árvores frutíferas, entre elas, acerola, pitanga e uma mangueira de mais de 40 anos. Além disso havia Jacarandá e uma Santa Bárbara. Para Marina todo o processo foi muito difícil, apesar de sempre saberem que o terreno era do município e que havia um antigo projeto para a construção de uma avenida. “Estamos muito tristes com toda a situação e sabemos que isso envolve muitos interesses”, enfatiza.

A nova rua João Pessoa vai da Heitor Modesto em direção à Bartolomeu Gusmão.

“Onde havia a lagoa, aterrada em 1999, havia também quatro ou cinco Ipês, Pau Brasil, Sipipiruna e muitos animais, desde tatus, famílias de lagartos, patos selvagens, tucanos, e muito mais”, continua a filha do Sr. Alípio. “Tudo foi cortado nas últimas duas semanas. É um verdadeiro crime”, conclui.

Segundo a presidente do Codema as árvores cortadas eram de pequeno porte e uma grande maioria de eucaliptos. Os quatro pontos decisivos para o parecer favorável foram: utilidade pública; não invasão de APP; respeito aos 50m de distância do rio (Lei nº 12.651 – Código Florestal) e árvores de pequeno porte e eucalipto.

Apesar do projeto ter sido elaborado há mais de 100 anos, constatou-se, segundo a prefeitura municipal, a utilidade pública da rua e a legalidade ambiental, aprovada pelo Codema, órgão municipal responsável pela defesa do meio ambiente.

“Todo o processo ambiental foi aprovado pelos órgãos competentes, conforme atas e documentos, com pareceres favoráveis”, frisa Luís Claudio.

Por enquanto, o projeto consiste na construção da rua João Pessoa no trecho citado, com a possibilidade de, futuramente, estender a rua até o Rio Verde e construir uma ponte, o que melhoraria o fluxo do trânsito.

Cidadãos entrevistados pelo Correio do Papagaio questionam a falta de diálogo e respeito com a população e levantam a preocupação de crime ambiental. “Ali na reta dessa nova rua tem toda uma mata. Vai ter que cortar tudo para construir uma ponte. Não seria melhor, por exemplo, fazer a ponte ligando o início da av. Comendador Costa ao outro lado do Rio, próximo ao campo Miramar?”, sugere um dos entrevistados.

“Cortaram a nossa esperança. Antes ali era a vida. Agora é morte. Estamos podendo nos dar o luxo de perder área de recarga, área verde, para dar lugar ao asfalto? A sociedade está disposta a pagar essa conta?”, interroga a moradora Ana Lúcia Cintra.

                                                Foto: Google Maps


Antes - interseção com a rua Heitor Modesto

Depois - interseção com a rua Heitor Modesto

Denúncia de crime ambiental contra São Lourenço 
Foto tirada da rua Bartolomeu Gusmão em direção à Heitor Modesto, no bairro Estação

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