O monge budista Liyanwela Udithasiri Thero, do Sri Lanka, está viajando pelo mundo há 2 anos com o objetivo de propagar a cultura, filosofia e prática budista.
Conversamos sobre meditação, práticas budistas e que atitudes tomar para melhorar nossa vida e o mundo. Confira a entrevista completa*:
Jornal Correio do Papagaio: Está gostando de São Lourenço?
Uditha: São Lourenço é uma cidade muito calma e as pessoas aqui são bondosas.
JCP: Porque decidiu ser monge?
Uditha: Desde criança eu tinha interesse em ser monge. No Sri Lanka a figura do monge é muito comum e é comum também os jovens tornarem-se monges. Eu decidi aos 13 anos seguir a vida monge. Na época não entendia direito o que isso significava, mas via como os monges viviam vidas tranquilas e como as pessoas respeitavam o monge e como ele ajudava as pessoas, através a forma como ele falava. Via que ele era uma pessoa muito diferente. Então decidi ser monge e fui viver num mosteiro.
JCP: Em que consiste sua missão no mundo?
Uditha: Eu acredito que se nasci como um ser humano e vim para esse mundo, então preciso fazer alguma coisa nesse período aqui que é tão breve. O mais importante para mim é evoluir dia a dia, segundo a segundo, a minha humanidade. E desenvolver o meu caráter, não só para mim mas também para outros, para ser uma pessoa especial, um exemplo de caráter e conduta.
JCP: Em janeiro de 2015, o Papa Francisco visitou um templo budista na capital do Sri Lanka. Qual a importância da atitude de respeito do pontífice para vocês?
Uditha: Quando o Papa veio ao Sri Lanka realizamos uma grande cerimônia onde apresentamos também alguns rituais budistas. O Papa tem uma mente aberta e respeita todas as religiões. No Sri Lanka também temos muitos católicos, que ficaram muito felizes com a visita do Papa. Ele também visitou alguns mosteiros no país.
JCP: Que temas serão abordados na palestra de sábado, na Fundação CIMAS?
Uditha: Falarei sobre métodos de meditação budista. Meditação não é religião. É estar em paz no seu coração. No budismo temos um sistema, com técnicas para meditação. E é sobre isso que eu falarei na palestra.
JCP: Que linha espiritual você segue?
Uditha: A linha espiritual que eu sigo é Theravada Buddist. O nosso mestre espiritual é Siddartha Gottam Buddha e seguimos os seus ensinamentos, escritos nas escrituras sagradas, assentos em três “cestos”, conhecidos como Tripitaka (1º Vinaya Pitaka – uma lista com as regras para os monges; 2º Sutta Pitaka – os ensinamentos de Buddha; 3º Abhidamma Pitaka - que inclui filosofias budistas adicionais).
JCP: Como a meditação pode influenciar na vida das pessoas?
Uditha: Estamos em meditação. A vida é meditação. A meditação geralmente traz à vida das pessoas concentração e atenção. Para nós o mais importante é fazer tudo com atenção. Quando comemos, quando dormimos, quando tomamos banho... Com o corpo, o medo e o mundo externo geralmente perdemos essa concentração e atenção. A meditação é a sua vida e precisa de prática constante. E uma vida com meditação é sinônimo de uma vida tranquila. Devemos meditar todos os segundos, não é apenas uma postura.
JCP: Estamos vivendo um momento planetário de extrema violência. Qual seria uma mensagem do budismo que podemos aplicar para melhorar o mundo?
Uditha: No Budismo e em todas as religiões o ponto principal é o coração, o amor. Devemos cultivar o coração, com carinho e amor, e compartilhá-lo com as pessoas. O Budismo ensina como ser uma pessoa boa, tranquila e em paz e como ser útil para si mesmo e para os outros. E como levar uma vida em paz. Então se a pessoa está em paz e tranquila ela vai poder transmitir essa paz e proteger os que estão à sua volta, trazendo paz e tranquilidade também para eles.
A mensagem do Budismo que pode ajudar o mundo a ser um lugar melhor é a de compartilhar o amor, a bondade e o respeito entre todos os seres. Mas antes de fazer qualquer coisa pelos outros, precisamos compreender quem somos e o que podemos fazer. E o Budismo ajuda nesse auto-conhecimento.
JCP: Quais são os seus planos para o futuro?
Uditha: Eu visitei vários países e vejo o que as pessoas no ocidente estão precisando. Para mim, Budismo não é religião. Eu estou em paz e estou feliz. E gostaria de compartilhar meu conhecimento. Sou um jovem monge e pensei que poderia fazer algo por outras pessoas, em outros países. Sinto que posso fazer mais fora do Sri Lanka, porque lá o conhecimento dessa cultura é mais comum, mais acessível. Aqui posso passar os ensinamentos e as técnicas para as pessoas encontrarem paz, desenvolver a espiritualidade e a bondade.
Meus planos aqui na cidade são praticar a meditação com as pessoas, ensinar sânscrito e pali e a filosofia budista.
As atividades são abertas para todas as pessoas, culturas, religiões e classe social. Todas as atividades são trabalho voluntário, não envolve dinheiro. E são todos bem-vindos.
*A entrevista foi realizada em inglês. Tradução por Deborah Penna