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São Lourenço - Notícias
03/03/2022 11h42

Jornalista Silveste Gorgulho lança livro que resgata a História de JK, Brasília, Pelé e São Lou

Entrevista cedida ao JCP, que fala sobre a Era dos Grandes Dribles na Política, Cultura e História

Jornalista Silveste Gorgulho lança livro que resgata a História de JK, Brasília, Pelé e São Lourenço DE CASACA E CHUTEIRAS A ERA DOS GRANDES DRIBRES NA POLÍTICA, CULTURA E HISTÓRIA

No próximo dia 06 de março, acontece no Paque das Àguas de São Lourenço, o lançamento do Livro do jornalista Silvestre Gorgulho. Natural de São Lourenço, Silvestre formou-se em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, em 1972. Foi professor visitante nos anos de 1981 e 1982 na University of Minesota (EUA) e antes de criar seu próprio jornal, a Folha do Meio Ambiente, em 1989, foi repórter do Diário do Comércio de Belo Horizonte; redator das revistas VEJA, QUATRO RODAS e ESCOLA, da Editora Abril, em Belo Horizonte; e colunista do JORNAL DE BRASÍLIA por 10 anos.

Segue abaixo entrevista cedida ao Jornal Correio do Papagaio

 

Lançamento do livro no Museu do Futebol em São Paulo: João Dória, Marcus Frota, Silvestre Gorgulho Marcos Sá Leitão, ex Ministro da Cultura e atual Secretário de Cultura de São Paulo

Jornal Correio do Papagaio – É verdade que o Pelé nasceu em São Lourenço?

Silvestre Gorgulho – Taí uma boa provocação. No fundo é verdade, mas era uma pegadinha que meu pai Miguel Gorgulho fazia para quem ía visitá-lo na Chácara que a gente morava, lá ao lado do aeroporto. Você sabe, mesmo porque era seu padrinho, que meu pai foi um empresário local sempre atento às questões sociais, culturais e educacionais do município. Ajudou na criação do aeroclube, na implantação da faculdade, foi presidente da Associação Paroquial e, com alguns amigos, ajudou a montar, em 1942/1943, um time de futebol: o Vasco da Gama de São Lourenço.

JCP – Sim, mas e a história do Pelé em São Lourenço?

Silvestre – Os detalhes estão todos no livro. Mas resumindo é essa. Bom de causos e de conversa, toda vez que havia uma visita e o assunto debandava para o futebol, o meu pai vinha com essa história: – E você sabe onde o Pelé nasceu? – Olha, Miguel, o Pelé nasceu em Três Corações. – Não! O Pelé nasceu em São Lourenço... – Não, Miguel, isso não é possível. Todo mundo sabe que foi em Três Corações. – Nasceu aqui em São Lourenço. E vou provar. Quem nasceu em Três Corações foi o Edson Arantes do Nascimento. Foi o Dico. O Pelé nasceu aqui. E lá vinha a explicação do papai. Entre 1942 e 1946, havia um goleiro que fez história aqui na região. O nome dele era José Luiz da Silva. Mas todo mundo só o conhecia por Bilé. Ele nasceu aqui perto, em Dom Viçoso. Era um goleiro celebridade. O Bilé era o goleiro do Vasco de São Lourenço.

JCP - Aí o pai do Pelé veio jogar no Vasco de São Lourenço.

Silvestre – Sim, e jogava muita bola. O Dondinho desequilibrava qualquer partida. Mas o fato é que o Bilé acabou mudando tudo na vida do Dico. Por que? Simples, porque o Dico, garotinho de 4 anos, queria ser goleiro. Só queria jogar no gol, enquanto o time treinava. E ele dizia que era o Bilé. Como grande parte das crianças na sua idade, o filho do Dondinho trocava o B pelo P. Então ele dizia que era o PILÉ. Ele dizia assim mesmo, PILÉ. Então criançada começou a chamar ele de Pilé. Ele não gostava. Só sei que a meninada exagerou, o Dico não gostava e chorava... e achava ruim. Pronto, aí que o apelido pegou. Eu lembro que isso tudo acontecia ali ao lado do Hotel Brasil, onde está o Parque 2, onde o Vasco tinha um campo para treinar.

JCP - Qual é a proposta do livro, a estrutura, a temática, organização e o que o leitor deve encontrar no seu livro?

Silvestre - O livro é um corolário de fatos, fotos, histórias, casos, documentos, quase um almanaque, que proporcionam uma profunda reflexão sobre duas décadas de transformações vividas pelo Brasil. E tudo isso começa em 1956. Foram profundas transformações com alguns fatos formidáveis. Na política: posse do presidente JK, no Palácio do Catete, em 31 de março. Logo em seguida, 78 dias depois da posse, JK assina a Mensagem de Anápolis, projeto-de-lei ao Congresso Nacional iniciando o processo da transferência da Capital do Rio de Janeiro para o Planalto Central e a construção de Brasília. Em 19 de setembro de 56, Brasília sai do papel. JK aprova no Congresso a lei que o autoriza a tomar providências para a construção de Brasília. O projeto se converte na Lei nº 2.874.

E em 7 de setembro de 1956, com apenas 15 anos, Pelé faz seu primeiro jogo profissional. Disputou pelo Santos Futebol Clube a Taça Independência. Na partida Santos 7 x 1 Corínthians de Santo André, Pelé entra no segundo tempo, no lugar de Del Vecchio, e marca aos 36 minutos o sexto gol do time.

Na literatura o Brasil também tem seu momento. Em 1956, Fernando Sabino lança “Encontro Marcado”, Mário Palmério lança “Vila dos Confins” e João Guimarães Rosa revoluciona a literatura com “Grande Sertão: Veredas”.

Adiléia da Silva Rocha, mais conhecida como Dolores Duran, faz seu primeiro sucesso: “Se é por falta de adeus...”. Vinicius de Moraes é apresentado por Lúcio Rangel a Tom Jobim, no bar Villarino-RJ. Com tantos acontecimentos positivos, o Brasil engata uma marcha forte para viver os Anos Dourados.

JCP - Qual foi a inspiração inicial e a sua motivação para pesquisar e escrever sobre a vida do Pelé? Como o livro foi se estruturando ao longo do tempo, até chegar a este formato?

Silvestre - As coisas não acontecem por acaso. E este livro nasceu quando Pelé fez 70 anos, em 23 de outubro de 2010. É uma história interessante. A meu pedido, o arquiteto Oscar Niemeyer, deu de presente aa Pelé o projeto de um Monumento para ser construído em Santos, em frente ao Museu Pelé. O projeto do Monumento tem uma bola de 7 metros de diâmetro, uma torre de 20 metros de altura com a imagem de Pelé vazada no concreto com seu tradicional “soco no ar” após fazer o gol.

Quando eu vi o projeto, pensei comigo: há que preencher o interior dessa bola de concreto com alguma coisa interessante. Não podia ser nada do acervo. O acervo já está no museu. Então eu comecei a escrever uma ‘linha do tempo’ da vida do Pelé, justamente para inserir nessa bola e ser objeto de interesse e ilustração para os visitantes. Mas a linha do tempo evoluiu, cresceu, muita pesquisa, leituras de amigos e do próprio Pelé, dez anos depois virou este livro de arte com 448 páginas. Como eu disse, nada acontece por acaso... ou “estava escrito”.

JCP - Porque a pesquisa durou dez anos, e como você se manteve firme neste propósito por uma década?

Silvestre - Muita paciência. Avida ensina que quanto mais você aprende, mais você sabe que não sabe. Mais você quer saber. E foram mais de dez anos lendo, conversando, visitando as cidades onde o Pelé passou, onde seu pai Dondinho jogou. Fui a Três Corações com o Pelé e ele me contou muita coisa. Li os jornais de Campos Gerais, cidade onde nasceu o Dondinho, pai de Pelé. Jornais de Três Corações, onde Dondinho jogou. Jornais de São Lourenço, onde Dondinho jogou e onde Edson Arantes do Nascimento, que na família tinha o apelido de DICO, recebeu o apelido de Pelé. O livro dedica mais de 30 páginas ao Dondinho [João Ramos do Nascimento) que também foi um gênio da bola. E é justamente aí que resgato muitas histórias e fatos interessantes sobre São Lourenço.

JCP – Interessante o capítulo que você fala de São Lourenço. Um resgate de fato.

Silvestre - Verdade. Não se podia apagar a história da família do Pelé em São Lourenço. A partir do Vasco de São Lourenço, o Dondinho foi cobiçado como jogador por outros times. Como aconteceu com o Bauru, de São Paulo. Em São Lourenço o Edson Arantes do Nascimento, que tinha o apelido de DICO, ganhou outro apelido, justamente Pelé. Se existem dois nomes brasileiros mais conhecidos no mundo, costumo dizer, é PELÉ e Amazônia. Também aqui em São Lourenço nasceu a Maria Lúcia, irmã do Pelé.

JCP - Como foram viabilizados e financiados estes dez anos de trabalho?

Silvestre - Tudo do meu próprio bolso. Escrever o livro foi um momento de lazer, de alegria e de satisfação. Estava aprendendo e resgatando uma história. Como eu digo no início: não importam as dificuldades se há uma bela história para contar, seduzir e apropriar-se. Sinceramente, escrever este livro foi muito divertido. Puro divertimento. Os custos de viagens, compra de livros, conversas tudo foi diluído com o tempo e me trouxe um grande aprazimento.

JCP - Qual a relevância do personagem Pelé para os dias de hoje. E para as novas gerações?

Silvestre - Pelé é um ícone. Em 1956, Pelé colocou a bola no campo de um jogo extremamente coletivo para encantar o mundo, como Rei do Futebol. Pelé foi campeão do Mundo cinco vezes: três vezes com a Seleção Brasileira e duas vezes com o Santos. Foram 1.285 gols filmados, fotografados e registrados durante a carreira. O livro traz tudo isso, em um adendo no final, jogo por jogo. Gol por gol. Pelé fez o cessar-fogo de duas guerras só para poder mostrar sua arte. Juiz é “expulso” de campo por ter tido a petulância de expulsar Pelé e, assim, possibilitar sua volta ao jogo. E, ainda, contrariando as regras, depois de ter sido substituído no primeiro tempo, Pelé, mesmo com dores, é obrigado a voltar no segundo tempo para evitar conflitos no estádio. Pelé é uma lenda eterna. Veja bem, 45 anos depois de ter deixado os gramados, Pelé continua Rei. O Gol Mil tem meio século. Mas a saga por um autógrafo continua a mesma. Com 81 anos, convites para participação em eventos não param de chegar. A Era Pelé parece não ter fim.

JCP - Mesmo ele estando doente e fazendo tratamento no hospital?

Silvestre - Sim, mesmo estando no Hospital. Eu convidei um grande amigo e principal assessor do Pelé, o Pepito, para vir no lançamento do livro em São Lourenço. E ele me disse que precisa despachar com o Pelé urgente, porque tem muitas entrevistas, muitos pedidos de autógrafos e muitos convites para ele responder, por força até dos contratos publicitários. Mas está tudo parado.

JCP – O mito parece eterno.

Silvestre - Parece não, é eterno. Incrível a força do nome Pelé. O tempo passa, os anos avançam e o mito permanece. Súditos e não súditos, amantes ou não do futebol, têm sempre na ponta da língua a expressão mais nobre, mais lúdica e mais singela para relembrar uma lindíssima história. Verdadeira lenda que sempre recomeça: era uma vez um menino pobre, de uma família pobre, em um país pobre, que tinha o dom de fazer mágicas. De uma bolinha de meia fez sete bolas de ouro.

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