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São Lourenço - Notícias
21/01/2016 11h51

Moradores apreensivos com fortes chuvas e comunicação ineficaz, em São Lourenço

Informações oficiais ineficientes e boatos deixam moradores e comerciantes sob tensão. Partes baixas ribeirinhas do município sofreram com transbordamento do rio.

No último final de semana, moradores, comerciantes e turistas passaram por momentos de grande preocupação.

As fortes chuvas ocorridas durante a semana anterior em toda a região provocaram o transbordamento dos rios e, em São Lourenço, a partir da manhã de sábado, 16, inundações em algumas partes da cidade, especialmente as mais próximas ao Rio Verde.

Casas nos bairros da Estação, N. Sra. de Fátima e N. Sra. de Lourdes sofreram com a cheia do rio. A população ficou mais apreensiva devido ao histórico de enchentes na cidade, principalmente a do ano de 2000, mas também de 2006 e 2011.

A informação ineficiente dos órgãos públicos competentes, como Prefeitura Municipal, Bombeiros e Defesa Civil, somada às informações cruzadas de grande repercussão nas redes sociais gerou tensão nos comerciantes e moradores.

Muitas pessoas utilizaram as redes sociais, a conversa de rua e as fotos com enquadramento e ângulo fechados, dando destaque às partes inundadas, o que conduziu à má interpretação dos fatos, produzindo mais confusão e pânico.

A espetacularização da informação pode repercutir negativamente para todos, causando apreensão aos turistas que planejam visitar o município no período de férias, uma vez que dá proporções muito maiores ao fato, do que realmente aconteceu. O sensacionalismo afeta não só o emocional dos moradores como também, em diversos níveis, a economia na cidade.

“O pior de tudo é o emaranhado de informações”, expressou o jornalista Hélio Marques, em sua página na rede social. “Alguns publicam o que ouviram dizer que o amigo do amigo disse sobre o aumento do nível das águas, o outro diz que as águas estão recuando; o outro diz que não, que acabou de ficar sabendo que a tia da namorada falou que a amiga está quase debaixo d’água”, continua o texto do jornalista.

Em momentos de crise, o jornalista conclui, é importante aguardar as autoridades competentes, sendo cuidadosos com o compartilhamento de informações que podem gerar apenas transtorno e desespero.

Infelizmente, as autoridades também falharam, por não esclarecer oficialmente o que estava acontecendo e a dimensão que a enchente poderia tomar.

Os representantes dos órgãos competentes reuniram-se por várias vezes ao longo do final de semana, atentos e monitorando não só São Lourenço, mas também a situação nas cidades vizinhas. Porém as conclusões das reuniões não foram divulgadas a contento, o que ajudou reforçar a confusão gerada pelo medo e pela desinformação.

 

Uso consciente das tecnologias

Uma pequena parcela da população se mobilizou através das redes sociais para oferecer ajuda aos que precisassem. Foram oferecidos carros de pequeno porte, camionetes e caminhões para auxílio.

Em situação de emergência, a rapidez das tecnologias, usada de forma consciente, é de extrema importância e pode, inclusive, salvar vidas.

Entre outras ações, um protótipo foi desenvolvido por um morador de São Lourenço com o objetivo de monitorar o nível da água do Rio Verde e apresentando os resultados online.

 

Defesa Civil

No site da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do estado de Minas Gerais, Defesa Civil é definida como o conjunto de ações preventivas, de socorro, assistenciais, reabilitadoras e reconstrutivas destinadas a evitar ou minimizar desastres, preservar o moral da população e restabelecer a normalidade social.

Em São Lourenço, a Defesa Civil está desestruturada há alguns anos, o que gera riscos para a população. Os últimos períodos chuvosos foram marcados por grande seca e o perigo de alagamentos e inundações foram menores. Mas, no final de 2015, as chuvas voltaram com intensidade maior.

Uma equipe com planejamento preparada para trabalhar de forma preventiva, emergencial e integrada poderia amenizar eventuais transtornos e abrandar os impactos ambientais. Pela desestruturação da Defesa Civil, o atendimento pelo telefone 199 e a página ligada a ela nas redes sociais gerou insatisfação e polêmica.

Desde dezembro de 2015, a Defesa Civil, segundo informações do governo municipal, está em transição. De acordo com a Lei Complementar nº13/2015, a Defesa Civil deixou de ser um órgão avulso ligado ao Gabinete e passa a ser um órgão governamental integrante da Secretária Municipal de Infraestrutura Urbana. O atual coordenador é André Luiz Franklin da Silva. Durante o final de semana, o secretário municipal de infraestrutura urbana, Emanuel Corrêa, respondeu pela pasta, por esta estar subordinada à sua secretaria.

“A partir de agora a Defesa Civil vai ser formalizada de acordo com a nova estrutura organizacional da Prefeitura, fazendo parte inclusive do orçamento público”, declarou o chefe de governo, Luís Cláudio de Carvalho.

 

Virando a página

O diretor do Fórum da Comarca de São Lourenço, juiz de direito, dr. Ronaldo Ribas da Cruz, sabendo da possibilidade do local ser invadido pelo rio, teve ação preventiva para salvaguardar documentos e equipamentos.

Segundo informações, durante a madrugada de sábado, 16, o juiz, ao lado de funcionários do Fórum, moveu equipamentos e documentos para locais seguros, com destaque para o seu espírito de liderança. Após a inundação retornou ao local para ajudar na limpeza do Fórum, junto aos outros servidores.

Alguns estabelecimentos comerciais, como o Mercado Municipal, logo no dia seguinte da cheia, 18, compartilharam nas redes sociais fotos mostrando que a água já havia baixado e que o local estava limpo e “pronto” para receber os clientes e amigos.

“É verdade, os últimos dias não foram fáceis, porém embora a situação seja séria já está sob controle. Não tem falta de água, o rio já abaixou e não oferece mais riscos! Estamos a todo vapor e prontos para receber você!”, publicou em sua página das redes sociais o São Lourenço Convention & Visitors Bureau.

Ainda assim, as partes ribeirinhas da cidade, atingidas pelo transbordamento do rio, continuam precisando de atenção. Muitos voluntários estão disponibilizando material de limpeza e ajuda. A prefeitura municipal divulgou nota ressaltando que profissionais da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social estão visitando as áreas atingidas com o objetivo de fazer um levantamento das necessidades das famílias que tiveram suas casas inundadas e encaminhar para providências, dentro das possibilidades legais e orçamentárias do governo municipal.

Segundo a nota, a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) estão cuidando da limpeza das ruas e da retirada dos materiais descartados pelos moradores.

Além da limpeza, a Secretaria Municipal de Saúde também está atuante, com visitas dos profissionais das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) orientando a população atingida. Algumas UBSs - Carioca, N. Sra. de Fátima, N. Sra. de Lourdes e Vila Carneiro - estão funcionando com horário estendido, das 8h às 20h, até o dia 22, para vacinação das pessoas que tiveram contato com as águas da inundação.

A lição adquirida pelo incidente do final de semana deve servir como uma ferramenta essencial para o crescimento de atitudes preventivas e o aprendizado vindo das falhas ajudará a moldar os planejamentos futuros.

É o momento de virar a página, retomar a rotina normal da cidade, com foco em ações proativas em prol de todos.

Praça Duque de Caxias sempre sofre com as
inundações do Rio Verde - Fotografia do dia 17/01
(domingo)
A água inundou algumas partes do centro da cidade
Fotografia do dia 17/01 (domingo)
Apesar do susto, situação está normalizada e
em processo de limpeza - Fotografia do dia 18/01
Nível do Ribeirão subiu rápido devido às fortes chuvas
Av. Comendador Costa, próximo à Aldeia Vila Verde
Fotografia do dia 16/01 (sábado)

 

Prefeito divulga nota oficial três dias após inundação

Devido à grande repercussão na questão da Defesa Civil nas redes sociais e às informações dadas por diferentes secretários em entrevista para um canal de televisão, o prefeito municipal divulgou, quarta-feira, 20, uma nota oficial sobre a situação, sendo a primeira vez que se pronuncia desde a inundação.


“Um comitê de crise foi montado, com a presença do subcomandante da Polícia Militar, do comandante do Pelotão do Corpo de Bombeiros e de diversos secretários municipais, estes últimos sob minhas ordens. Portanto, todo resultado das operações, positivo ou negativo, deve ser creditado a este comitê de crise, sob minha direção, e não à pessoa do voluntário Dr. Rogério Mello, que não tinha poder para agir diferentemente de como agiu”, explica nota.

 

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