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São Lourenço - Notícias
30/04/2015 09h41

“Telhas nas coxas” com mais de 100 anos encontradas em Área de Preservação Ambiental

Antiga Fazenda Sharp será sede da ONG Arara e durante limpeza do terreno foram encontradas as telhas históricas.

 

Foto: Acervo ONG Arara

No dia 18 de abril, enquanto era realizada uma limpeza do terreno onde será construída a sede da ONG Arara foram encontradas telhas cerâmicas do tipo romana, da época colonial, também conhecidas por “telhas nas coxas”. A expressão vem da antiga lenda que diz que eram fabricadas nas coxas dos escravos, por serem telhas com diferentes tamanhos e qualidades, moldadas de uma forma mais simples.

Robert Ricceli Oliveira, gestor ambiental e presidente da ONG Arara, foi quem encontrou as telhas e afirma ter ainda muito mais história a ser descoberta naquele local. O terreno, que tem 42 hectares, é o local da primeira construção de São Lourenço e também da primeira fonte de água, a Fonte Viana.

Todos os objetos históricos encontrados na fazendo irão fazer parte do acervo da ONG e serão expostos na sede, para visitação, garantiu o gestor ambiental.

Um breve histórico da Fazenda Sharp

Segundo a história levantada pelo presidente da ONG, dona Miguela Imenes e seu marido Bruno foram os primeiros proprietários da fazenda e moravam numa casinha aos fundos do terreno, onde foram encontradas as telhas. Há relatos de que viveram ali até o ano de 1906, quando aconteceu a enchente, também conhecida por “ a grande de 1906”. Por isso, Robert acredita que as telhas devem ter no mínimo 100 anos.

Após a morte de Bruno, a fazenda foi vendida a Antônio Francisco da Costa Ramos Sharp e, após o seu falecimento, permaneceu cerca de 20 anos desativada. Foi então incorporada pela Prefeitura e posteriormente levada a leilão. A Empresa de Águas São Lourenço arrematou o terreno, que passou para a Perrier e atualmente para a Nestle.

Em 2003, o Casarão (construído entre 1906 e 1910) foi tombado pelo Patrimônio Histórico de São Lourenço, através do Decreto Municipal Nº 1.940/2003. Nele passou a funcionar a Casa da Cultura, mas após transferência da Casa da Cultura para a Estação de Trem, o Casarão passou a sofrer com ação de vândalos e das intempéries. Com a falta de manutenção, o Casarão foi destruído, restando apenas ruínas da primeira construção de São Lourenço. Foi instaurado pela Nestle um processo por ato lesivo ao Patrimônio que tramitou na Justiça e apenas foi sentenciado no início de 2015.

 “Por se tratar de área de extrema importância nas recargas de águas minerais, por possuir valores ambientais e históricos e evitando a sua destruição, a ONG Arara iniciou os trabalhos para transformar a área numa Unidade de Conservação de acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC)”, explica o presidente da ONG.

“Foram realizados consultas públicas, estudos e avaliações e em Dezembro de 2012, a área foi Decretada como Área de Preservação Ambiental Águas de São Lourenço, pelo Decreto Municipal Nº 4.385, onde foi feito um termo de Convênio com a ONG, que transferiu a Gestão do Local, pelos próximos 10 anos, renováveis por mais 10”, esclarece.

Apesar da ONG ser responsável pela gestão do local desde 2012, apenas agora com o final do processo que tramitava na justiça é que pôde começar os trabalhos no terreno.

Assim que saiu a decisão da justiça - que condenou como são responsáveis pela destruição do Casarão tombado, o então prefeito, Clóvis Aparecido Nogueira, mais conhecido por Nega Véia; o secretário de cultura, Natanael Paulino e Zélia Chagas, que substituiu Natanael na diretoria da Cultura -, a ONG finalmente começou os trabalhos no terreno.

 Fotos: Acervo ONG Arara

A ONG Arara

A ONG Arara foi fundada em agosto de 2011 por um grupo de amigos, na época, alunos de gestão ambiental. A grande missão da ONG é a proteção dos animais silvestres, procurando atender 22 cidades da região, em parceria com a Polícia Ambiental.

A ONG pretende finalizar ainda em 2015 a construção da sede e ativar os trabalhos da Associação. “Teremos um centro de triagem de animais silvestres, espaço para educação ambiental, trilhas educativas e futuramente até um serpentário”, afirma Robert. O objetivo, além de realizar o trabalho de resgate, reabilitação e cuidados com os animais silvestres, é também criar um novo ponto turístico na cidade, que proporcione ao visitante experiências ao ar livre, que o aproxime da natureza e dos animais.

A ONG terá também um viveiro de mudas nativas e um centro de compostagem, e ainda terá uma grande biblioteca na sua sede, onde irá colocar o seu acervo de 7 mil livros sobre fauna, flora, biodiversidade, meio ambiente, que já dispõe.

Para o presidente é também muito importante a parceria com outras entidades do terceiro setor, como os escuteiros ou o grupo da terceira idade, para que todos em conjunto ajudem na preservação do terreno.

O terreno de 420 mil metros2 onde será a sede da ONG tem 120 mil metros2 de área de recarga e 230 mil metros2 de mata nativa e é hoje uma Área de Preservação Ambiental.

Para conhecer mais a ONG e os seus projetos visite o site: www.projetoarara.org.br

 

 

As “telhas nas coxas”

Foto: Acervo ONG Arara

O uso de telhas cerâmicas foi generalizado no Brasil desde o início da colonização. A expressão “telhas nas coxas” nasceu devido à simplicidade, ausência de padronização e diferenças de qualidade na fabricação das telhas, que remetia à ideia de que seriam moldadas nas coxas dos escravos.

Um ensaio realizado pelo arquiteto José LaPastina Filho, superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional, intitulado “Eram as telhas feitas nas coxas das escravas?”, apresenta um estudo sobre a origem dessa expressão popular.

Em seu ensaio o autor escreve que pela “não padronização e as diferenças de qualidade entre os incontáveis fabricantes acabaram por originar a expressão popular, de cunho pejorativo e racista, ‘feita nas coxas dos escravos’.”

Após estudo das técnicas de produção dessa telha, José LaPastina chega à seguinte conclusão: “Para confirmar nossa convicção das inconsistências da assertiva popular – telhas feitas nas coxas dos(as) escravos(as) – tomamos as medidas das coxas de um homem de 1,80m de altura e verificamos que, usando-a como molde, só seria possível a fabricação de uma minúscula telha de 36cm de comprimento. Sem maiores preocupações com aspectos de anatomia humana, se estabelecermos uma simples regra de três, poderemos verificar que, para fabricar uma telha de 77cm, precisaríamos contar com um escravo de 3,95m de altura”.

O estudo pode ser lido na íntegra no link:

https://iphanparana.files.wordpress.com/2013/03/eram_as_telhas_feitas_nas_coxas_1_1.pdf 

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