31/10/2014 09h10
'A Volta para Casa' explora contradições humanas
Foi tudo muito rápido. A atriz Regina Duarte trabalhava com o Grupo de Estudos de Dramaturgia e Interpretação de Textos, que ela coordena desde novembro do ano passado, quando surgiu a oportunidade de encenar a peça a qual estavam preparando. "Tivemos a chance de montá-la no Teatro MuBE Nova Cultural, mas terÃamos de erguer o espetáculo em quatro semanas", conta ela, que se dedicou junto aos 18 atores para estrear nesta sexta-feira, 31, A Volta para a Casa, reunião de três textos do dramaturgo romeno Matéi Visniec.
A oportunidade, na verdade, fortaleceu um projeto que já ganhava corpo. A organização do grupo partiu de Regina, interessada em apostar em espetáculos experimentais. "Eu sentia necessidade de voltar ao tempo do meu inÃcio de carreira, quando as descobertas eram importantes", comenta a atriz, que formou o grupo a partir de sugestões passadas por amigos, como o encenador José Possi Neto e a atriz Imara Reis.
Logo no inÃcio do trabalho, surgiu interesse pela dramaturgia de Visniec - considerado herdeiro de Ionesco, admirador de Beckett, o romeno é autor de uma obra que explora as contradições humanas com ironia e escárnio. Sua trajetória teatral começou quando seu paÃs ainda vivia sob o comando do ditador romeno Ceausescu (1918-1989), ou seja, a imposição da censura o obrigava a buscar caminhos alegóricos, absurdos, que contornassem as limitações. "Em meio à sociedade na qual vivia, descobri em Ionesco e Beckett um espaço de liberdade", conta o autor. "A literatura podia me salvar, me dar a dignidade que o poder e o jogo polÃtico não me ofereciam."
A obra de Visniec tornou-se conhecida do leitor brasileiro a partir de 2010, quando a É Realizações iniciou a publicação em livro de suas peças. Na primeira fornada, foram editadas 15 peças, entre elas A História do Comunismo Contada a Doentes Mentais (recentemente encenada em São Paulo) e O Último Godot.
E nesta sexta, 31, ele estará em Salvador, convidado pela Festa Literária Internacional de Cachoeira, para lançar o livro com sua peça Por que Hécuba e acompanhar à montagem Espelho para Cegos, de sua autoria, dirigida por Marcio Meirelles, com quem mantém estreita amizade. "Seus textos carregam um olhar crÃtico em relação à s formas de poder, daà ser encenada no mundo inteiro", observa Regina. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo