30/06/2016 08h36
Adesões de TV por assinatura diminuíram 4,3% em um ano
O designer de produto Gusttavo Castro Ribeiro, 31, não sente saudades de zapear. Sem TV por assinatura há 7 meses, o paulistano e a mulher, a relações públicas Milena da Costa, 31, agora ficam horas escolhendo a melhor opção dentro do cardápio da Netflix, o único serviço de streaming de vÃdeo que possuem em casa. "Juntou o atendimento ruim do nosso antigo pacote à incompatibilidade de horário para assistirmos aos programas que gostávamos. Só sentimos falta da informação em tempo real. Neste caso, os canais que transmitem notÃcias 24 horas por dia. Não somos ligados em esporte, o que ajudou na adaptação", afirma o paulistano. A realidade de Gusttavo e Milena é algo cada vez mais comum entre os brasileiros. Os serviços de streaming de vÃdeo crescem de maneira exorbitante e, paralelo a isso, as adesões de pacotes de TV por assinatura diminuem, embora não haja nenhum dado concreto que interligue as duas informações.
Em entrevista coletiva realizada na semana passada, a Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA) apresentou alguns números. Houve um recuo de 4,3% nos assinantes de TV paga entre abril de 2015 e abril de 2016. Apesar da baixa, a associação culpa a crise econômica do PaÃs pela queda considerável. "A Netflix mais produz conteúdo do que necessariamente compete com a gente. A empresa está se consolidando como produtora de séries e filmes. Nos Estados Unidos, por exemplo, isso já ficou mais claro", diz Oscar Vicente Simões de Oliveira, presidente executivo da ABTA.
Para não perder assinantes, o que restou à s TVs por assinatura foi apostar no streaming dentro de suas plataformas. O mais conhecido é o Now. O serviço gratuito para clientes em HD da NET tem um acervo com produções que acabaram de sair dos cinemas (a maioria paga, com aluguel na faixa de R$ 10). Nele, pode-se ver, gratuitamente, séries da GNT, programas de receitas e até desenhos animados. Canais como Telecine, TNT, Space, Cartoon Network e FOX também oferecem seus conteúdos que podem ser vistos onde e a qualquer hora do dia por intermédio dos aplicativos para computadores, tablets e celulares. Os chamados serviços On Demand (apelidados por alguns canais de Play ou Go) são gratuitos e só exigem que o cliente contrate o pacote completo com sua TV por assinatura. "AssistÃamos muito mais a programação do Now do que os canais convencionais. Percebemos que era um gasto desnecessário. A nossa maneira de ver televisão mudou completamente depois da chegada desses serviços. Não é mais a mesma coisa", justifica Gusttavo.
Segundo o presidente da Converge Comunicações, Rubens Glashberg, a inclusão do streaming no cotidiano das pessoas faz com que o modelo televisivo seja repensado, mas não extinto. "A TV por assinatura ainda é importante pela questão do ao vivo. No esporte funciona assim. Quem quiser ver o resultado imediato de uma prova dos Jogos OlÃmpicos do Rio, por exemplo, precisará assistir à transmissão em tempo real. Tem a questão da adrenalina", crava ele. "Não imagino um mundo com todo o conteúdo televisivo exclusivamente na internet. Queremos manter a filosofia da programação. A ideia é de que essa seja nossa única fórmula de sobrevivência", complementa o VP JurÃdico da ABTA, José Francisco de Araújo Lima.
Mudanças
Mesmo sem nenhum número preciso que mostre a crescente evolução dos serviços de streaming de vÃdeo no Brasil, há, no entanto, uma alteração no comportamento do usuário que trafega na web. De acordo com Fabricio Tamusiunas, gerente do sistema de medição de qualidade da Internet do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto (NIC), houve uma mudança no horário em que o internauta mais fica conectado. "Antes, o pico acontecia entre 9h e 18h. Hoje isso mudou. Temos o maior fluxo das 20h à s 22h, ou seja, quando as pessoas já saÃram do trabalho e estão em casa. Portanto, quando deveriam estar vendo TV por assinatura, por exemplo, elas estão conectadas.
Neste horário, chegamos a alcançar a velocidade de 1.7 bits por segundo. Algo muito alto para essa faixa de horário. Para se ter uma ideia, ao meio-dia temos 1.2 bits por segundo. A tendência é de que eles estejam utilizando algum serviço de streaming de vÃdeo (isso também inclui o Youtube) devido à alta velocidade de consumo de dados", diz FabrÃcio.
Para o especialista, o uso dos serviços de streaming de vÃdeos no Brasil só não é maior por conta dos problemas técnicos em várias regiões do PaÃs. "Quanto melhor a conexão do usuário, mais ele sente vontade de usar a internet. Se eu tenho uma velocidade mais lenta, eu terei um vÃdeo ruim e que trava várias vezes. O Brasil é um PaÃs muito grande. Há vários estados e regiões. Não é preciso ir muito longe. Em São Paulo, por exemplo, a internet não funciona bem nas extremidades sul e leste. Não há concorrência nos bairros mais afastados. Só uma operadora atende. Falta investimento de infraestrutura. As regiões mais ricas têm tecnologias mais novas e capazes de ofertar serviços de qualidade para o usuário. Os serviços de streaming de vÃdeo analisam a qualidade da internet do usuário. Quando o usuário tenta acessar os serviços de streaming no PaÃs ele verá um vÃdeo bom ou ruim. Daà ele prefere comprar um DVD pirata", conclui ele.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo