27/08/2016 12h09
Após 30 anos, a volta da banda Metrô
O reencontro não estava no script. Aqueles cinco amigos que formavam a banda Metrô na década de 1980 ficaram tanto tempo afastados que nunca imaginaram que um dia seria possÃvel se reunir num palco - ou em estúdio - novamente. Era final de 1985. Após a intensa turnê do álbum Olhar, grande sucesso lançado pela CBS, atual Sony, Virginie Boutaud (vocais), Alec Haiat (guitarra), Yann Laouenan (teclados), Xavier Leblanc (baixo) e Dany Roland (bateria) saÃram em férias, cada um viajando para um canto - e essa formação se desfez. Recordar aquela ruptura hoje, três décadas depois, ainda causa tristeza à banda. Eles preferem celebrar esse reencontro de agora, que rendeu a edição comemorativa de seu disco Olhar (1985), de onde saÃram hits como Beat Acelerado, Johnny Love e Sândalo de Dândi (leia mais abaixo), shows - neste sábado, 27, o quinteto se apresenta no Serralheria, em São Paulo - e novas canções em processo.
A história do retorno do Metrô tem inÃcio na festa de 50 anos do Liceu Pasteur, em São Paulo, em 2014. Foi simbolicamente uma volta à s origens, pois ali, no colégio franco-brasileiro, os integrantes, ainda adolescentes, fundaram a banda, primeiro com o nome de A Gota Suspensa e, mais tarde, rebatizada de Metrô - o som do grupo acompanhou essa transição, partindo do rock progressivo para o new wave, o pop. "A gente não tocou junto durante 30 anos, porque não ia rolar, mas aà rolou (risos)", conta Virginie, com sua voz doce e charmoso sotaque francês, em entrevista, num restaurante em São Paulo, ao lado de Alec e Yann.
"As pessoas do Lycée queriam que a gente tocasse, ligaram para o Dany e perguntaram: 'será que rola?'. Ele teve a ideia de perguntar para a gente e rolou. Foi muito gostoso", completou a cantora. E Alec continuou: "A gente se reintegrou naquele momento". Para Yann emendar: "Tem um detalhe: ensaiamos cinco dias antes, após 30 anos separados; a Virginie chegou no dia do show, fez uma rápida passagem de som, e o show rolou com a mesma quÃmica, as mesmas brincadeiras". Em 2015, uma apresentação na Virada Cultural oficializaria essa volta, mas a banda cancelou a participação. Virginie passava por um momento triste: seu marido havia morrido. Era preciso esperar.
Aventura
O passado ficou para trás. É o que demonstra a animação genuÃna da banda. Mas esse passado ainda gera curiosidade: o que fez o grupo decidir 'não dá mais'? "Foi uma aventura na nossa vida. Éramos tranquilos, vivÃamos na casa de papai e mamãe. De repente, você está nessa engrenagem que te leva a 100 quilômetros por hora sem parar, e é entorpecente. Como você vai dizer: não vou gravar um Chacrinha. Jovem está cheio de gás, o que aconteceu foi que a gente ficou cortado da nossa realidade gostosa da vida", diz Virginie. "A relação com os amigos fica também abalada. Quando você está com sucesso, ele não é uma coisa fácil de administrar. Para você que está vivendo isso, não muda muita coisa, as pessoas é que te veem de uma maneira diferente." Hoje, com o olhar mais distante - e maduro - em relação à quele momento, eles admitem que poderiam ter apenas dado um tempo. "Isso seria maduro, a gente não era maduro", justifica Alec.
Eram só jovens, de 20 e poucos anos, que queriam fazer seu trabalho autoral. "A gente nunca fez música para fazer esse sucesso", atesta Yann. Foi algo inesperado e rápido. As fitas cassetes da banda caÃram nas mãos certas, a ponto de receberem proposta de duas gravadoras: da Som Livre e da CBS. Optaram pela poderosa CBS. Gravaram um compacto, com Beat Acelerado e Sândalo de Dândi. As duas músicas tocaram muito nas rádios.
Assim, não demorou para receberem aval para gravar o disco Olhar, com produção de Luiz Carlos Maluly. O sucesso foi sedimentado na turnê, nos programas de TV, nas rádios. E atravessou o tempo. O que corrobora agora esse reencontro.
Olhar
A edição comemorativa do disco Olhar, remasterizado, investe num generoso material extra - e os fãs agradecem. Entre as faixas bônus, há aquelas que ganharam versões para as pistas, como o remix de Beat Acelerado, por DJ Zé Pedro. Foi incluÃda ainda a versão de Johnny Love feita para o filme Rock Estrela (de 1985), com participação especial de Leo Jaime nos vocais.
Lançado como álbum duplo, o projeto traz um segundo CD com demos - que deram origem ao material para o compacto e LP do Metrô (como Sândalo de Dândi, sem letra) - e canções ao vivo de shows que a banda fez pelo Brasil naquele intenso ano de 1985, registradas por Paulo Junqueiro, atual presidente da Sony Music no Brasil e que trabalhava como técnico de som da banda naquela época. "Começamos a viajar e comecei a gravar os shows em fita K7 para podermos ouvir e corrigir erros. E é assim que nasceram estas gravações ao vivo que ficaram guardadas durante 30 anos!", escreve o próprio Junqueiro no encarte do disco.
METRÔ
'OLHAR - EDIÇÃO COMEMORATIVA
SONY MUSIC: R$ 40
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo