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19/06/2015 19h10

Belas Artes está reprogramando filmes de Claude Chabrol

Na semana que vem, dia 24, Claude Chabrol estaria completando 85 anos. Um dos grandes da nouvelle vague, ele se antecipou a François Truffaut e Jean-Luc Godard e começou a fazer seus longas em 1957. Pode ser mera coincidência, mas, no dia 23, o Centro Cultural São Paulo inicia uma programação especial que deve exibir 60 títulos importantes do movimento que revolucionou o cinemas francês (e mundial) nos anos 1950 e 60. Serão filmes de Truffaut, Godard, Jacques Demy, Agnès Varda - que acaba de receber a Palma de Ouro d'honneur no recente Festival de Cannes. Nenhum Chabrol. Mas, se o ciclo do CCSP omite Chabrol, o Cineclube do Belas Artes o reverencia, e justamente por seus 85 anos.

Durante o mês, e sempre aos sábados e às quartas-feiras, o Belas Artes está (re)programando filmes de Claude Chabrol. Na sequência virão, sábado, 20, A Teia de Chocolate, e, semana que vem, A Dama de Honra, todos pertencentes à fase final do cineasta, que morreu, já octogenário, em 12 de setembro de 2010. São bons. Em A Teia de Chocolate, Huppert, é a protagonista feminina. Administra fábrica de chocolate e é casada com pianista que já tem um filho. Uma possível troca de bebês na maternidade aproxima Anna Mouglalis da família, e Anna desconfia do comportamento de Huppert, que lhe parece estranho. Em A Dama de Honra, Benoit Magimel se envolve com uma das damas do casamento da irmã, mas Laura Smert vai bagunçar suas vida.

Os dois filmes foram feitos com intervalo de quatro anos, em 2000 e 2004. Abordam a burguesia da província, que sempre atraiu Chabrol, mas também revelam sua preferência por personagens monstruosos que se escondem por trás de uma aparência de normalidade. Aliás, o cinemas de Chabrol, como o de seus mestres Alfred Hitchcock e Fritz Lang, disseca muito essa improvável 'normalidade'. O homem não é só um produto de seu meio social. Chabrol acredita em forças como o destino - e nas pulsões (sexo, desejo, amor, ódio). Gourmet, dizia que gostava de filmar em lugares com bons restaurantes. Fazer comida, e comer, nos múltiplos sentidos do termo, era essencial para ele. Seu bom humor era notório e transparece nos filmes.

Chabrol, como seus colegas de geração, exerceu a crítica. Virou diretor e conheceu imediata consagração com Le Beau Serge/Nas Garras do Vício e Os Primos. De todos os seus colegas de geração, foi o que mais cedo se confrontou com as exigências do mercado. Numa fase, para se manter à tona, filmava não importa o quê, mas defendia-se - não importa o quê, mas nunca não importa como. A ética era a bússola para sua estética. Por volta de 1970, retomou as rédeas da própria carreira. Filmou até o fim - 50 e tantos títulos, pelo menos um por ano, todos os anos.

Sua grande fase começa com A Mulher Infiel e prossegue com O Açougueiro, sua obra-prima, e A Fera Deve Morrer. Um marido que descobre a traição da mulher, uma professora que descobre que o homem que ama é um assassino compulsivo e um pai obcecado para vingar a morte do filho num acidente de carro. Chabrol foi sempre fiel a seus atores - Jean-Claude Brialy, nos primeiros filmes; Stéphane Audran, com quem se casou; Isabelle Huppert, sempre. Seu cinema crítico desconstrói gêneros. E, mesmo quando ele adapta 'clássicos' como Gustave Flaubert (Madame Bovary), o que importa é a releitura e a forma como ele se apropria da trama para criar o próprio drama.

O cineasta gostava de se definir como 'preguiçoso'. Um cara que fez mais de 50 filmes? Justamente por se achar preguiçosos, ele era fiel e gostava de trabalhar em família. A Dama de Honra é típico - um filho, Thomas, é ator; outro, Matthieu, assina a trilha; a segunda mulher, Aurore, é supervisora de roteiro; e a enteada, Cécile Maistre, é assistente. Chabrol, que amava a família, desconfiava da família dos outros. É como se, em seu cinemas, ele quisesse advertir - o perigo está em toda parte. Em especial, na cabeça dos homens e das mulheres.

Fonte: Estadão Conteúdo
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