06/04/2023 08h10
Com a compra de bebês, 'Broker' discute a família
Nas primeiras cenas de Broker, numa noite de chuva intensa, uma moça abandona um bebê numa espécie de caixa. O recém-nascido logo é recolhido. A cena - chocante - dá inÃcio a esse novo estudo do cineasta japonês Hirokazu Kore-eda sobre a questão da famÃlia, disfuncional ou não.
Dispositivos como esse, que recebem bebês indesejados, são mantidos por entidades religiosas na Coreia do Sul, paÃs onde se passa a história. Nada têm de novo. São similares modernos, equipados com câmeras para registrar a chegada de novos rejeitados, das famigeradas "rodas dos enjeitados", presentes na Idade Média em vários paÃses europeus e também no Brasil Colônia. As crianças recolhidas eram criadas por instituições de caridade - religiosas, em geral - ou encaminhadas para adoção.
MERCADORIA
Num tempo em que tudo se transforma em mercadoria, essas crianças abandonadas chamam a atenção de "atravessadores" com a ideia de negociá-las com casais em busca de filhos para adoção. Para esses casais, comprar diretamente crianças com atravessadores significa simplificar o muitas vezes complicado processo de adoção.
Esta é a história por trás de Broker. Algo de fundo verÃdico, pois mulheres sem condições de criar filhos podem chegar ao extremo de abandoná-las para que outras as adotem. E, se existe essa demanda, para falar em termos da economia de mercado, existirão pessoas dispostas a servir como intermediárias. São prestadores de serviço, atravessadores, "brokers" ou corretores, no jargão comercial genérico para a atividade de intermediação.
Na situação mostrada pelo filme, uma dupla de traficantes leva o bebê rapidamente, antes que a mãe, Moon So-young (Ji-eun Lee), tenha tempo de se arrepender. Logo a imagem do vÃdeo registrando o depósito do bebê na caixa é apagado para não deixar provas. No entanto, duas policiais, Soo-jin (Bae Doona) e Lee (Lee Joo-Young), observam tudo, tentando dar flagrante nos traficantes de bebês.
Temos aà uma situação bem definida desde o inÃcio. Dois homens dispostos a fazer dinheiro, uma mãe talvez arrependida, a presença da polÃcia, uma criança um pouco mais velha que se junta ao grupo. Quem acha que, com esses elementos, estaremos diante de uma trama rotineira ou sem sal, não perde por esperar.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo