26/08/2022 14h40
'Concerto para Vaca e Boi' mescla sete tipos de viola
Um encontro inédito entre duas famÃlias de instrumentos ocorre nesta sexta-feira, 26, à s 20h, no YouTube. E, embora distantes séculos entre si, elas jamais se apresentaram juntas no mesmo palco. De um lado, a viola da gamba, um dos instrumentos dominantes no perÃodo barroco, nos séculos 17 e 18, contemporânea de Bach e Vivaldi. De outro, seis instrumentos da famÃlia das violas tradicionais brasileiras, como as que têm atraÃdo a atenção do grande público em noitadas da telenovela Pantanal, pelos violeiros Almir Sater e seu filho Gabriel.
"É um encontro mágico", conta Roberto Corrêa ao Estadão. Violeiro, compositor, professor e pesquisador, ele é um pioneiro na junção de dois universos a princÃpio dÃspares, como o das violas caipiras brasileiras e a música letrada. Este é seu vigésimo CD, disponÃvel a partir de hoje nas plataformas de streaming.
Ele dedilha seis diferentes violas brasileiras em dois movimentos cada uma, sempre ao lado da viola da gamba pilotada por Gustado Freccia, compondo o Concerto para Vaca e Boi. São elas: a viola repentista (usada pelos repentistas no Nordeste), a viola de buriti (feita de palmeira, encontrada no Cerrado), a viola caiçara (do sul do Estado de São Paulo e norte do Paraná), a viola machete baiana (da região do Recôncavo), a viola de cocho (escavada no tronco de madeira que é o cocho de sal para os animais, no Estado de Mato Grosso) e a viola caipira.
Sobre esta última, Corrêa lembra que "Almir Sater, por exemplo, toca esse tipo de viola, a viola caipira, nas cenas da novela Pantanal. Ela é encordoada com dez cordas, sendo cinco pares de cordas, e afinada de diversas formas. Assim é a viola que Almir Sater e seu filho tocam na novela, como também é a minha, digo, meu instrumento principal, para o qual fiz a maioria de minhas composições e arranjos".
O resultado é arrebatador e surpreendente. Arrebatador pela delicadeza e refinamento das mil e uma sonoridades e encontros de timbres diversos das violas brasileiras e da gamba europeia, tocada com arco e também dedilhada.
Afinal, as duas famÃlias têm origem medieval, em instrumentos de cordas dedilhadas. E surpreendente, porque o domÃnio das violas brasileiras exige um trabalho tão profundo e demorado quanto o que se leva para tocar bem uma viola da gamba. Como diz pantaneiramente Corrêa, "cada viola tem a sua linguagem idiomática, e preciso uma imersão profunda para encontrar o ouro de cada instrumento".
Esse projeto ambicioso contemplado pelo Rumos Itaú Cultural inclui não só um álbum (o vigésimo de sua carreira), mas também um livro digital contendo as partituras e os comentários do violeiro sobre cada uma das seis violas.
Concerto para Vaca e Boi preserva a atmosfera de oralidade tÃpica das violas brasileiras e, ao mesmo tempo, observa uma escrita musical rigorosa. Não é exagero afirmar que é o clÃmax dos cerca de 40 anos de estrada/academia desse notável músico e pesquisador brasileiro.
"A sonoridade da viola da gamba baixo lembra o mugido do boi e da vaca e me traz lembranças de um passado saudoso." O passado de quem tem a lida com o gado na história de sua famÃlia, em Campina Verde, nas Minas Gerais.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo