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26/02/2016 10h03

'Dissolva-se-me' absorve os aspectos da doença mental

"Olá, eu vim aqui só porque minha esposa mandou", conta o paciente à terapeuta. "Doutora", ele continua. "Ela fala que eu ando ouvindo coisas, mas... a senhora ouviu isso?"

Essas e outras conversas provocaram as ideias do ator Renato Ferracini, que estreia Dissolva-se-me, um solo de "teatro-dança-performance", como define, nesta sexta-feira, 26, no Sesc Pompeia. "Não queríamos uma peça sobre a esquizofrenia. A busca era por incorporar a lógica de funcionamento dessa doença no corpo e na voz do ator". Lógica esta que o diretor e coreógrafo Luis Ferron explica: "Costumamos enxergar a doença com base na nossa perspectiva sã. No entanto, a esquizofrenia opera, sim, em uma lógica, que não é linguística, mas que é sinestésica, mais ligada às sensações".

O coreógrafo foi convidado por Ferracini pelos ritmos de festa e tambores africanos trazidos em Baderna - Reverberações Antropofágicas, espetáculo de Ferron. "De alguma forma, a ideia é tratar esquizofrenia como uma fuga positiva, como potência de criação e não como patologia", ressalta Ferron. A montagem também vem para coroar os 30 anos de atividades do Lume Teatro, grupo interdisciplinar nascido no âmbito na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Em Dissolva-se-me, a dupla buscou trazer as características da doença manifestadas no dia a dia, tal qual a conversa do paciente com a terapeuta. Em outro exemplo, o ator conta a razão pela qual os pacientes esquizofrênicos usam toucas e roupas mais justas ao corpo. "O contorno que a roupa faz ajuda na percepção do corpo e na diferenciação desses limites, do que é interno e externo."

Em cena, o público se organizará em bancos espalhados, enquanto Ferracini passeia por eles, criando e derrubando ilusões ao fundir voz e movimentos de dança.
O resultado deu-se como parte de um treinamento usado pela dupla. Com níveis de interpretação chamados por eles de "garça", "vento" e "caverna", o coreógrafo explica que o objetivo dos nomes curiosos é que Ferracini pudesse permear diversos estados de corpo e presença. "Se ele estiver de costas para o público, aquela parte do corpo dele precisa se expressar", conta. "Na garça, por exemplo, é necessário exercitar a presença e ausência do ator, simultaneamente". Para a criação das danças, Ferron ressalta que o trabalho realizado passou longe de reproduzir movimentos de escolas consagradas. "Ainda que possa haver falta de conhecimento técnico, Renato não é leigo de corpo. Também é preciso ver a dança para além da coreografia", ressalta.

Essa visão, segundo Ferracini, permite espraiar o fazer artístico para outras atividades do cotidiano. "Mais que uma função, a arte carrega consigo a natureza da invenção, de criar novos modos de vida, seja no trabalho, em casa, na rua", diz.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Estadão Conteúdo
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