27/08/2016 17h40
Dolce & Gabbana traduzem o estilo do agente 007 em coleção
A moda masculina italiana, com profunda tradição na alfaiataria, está em busca de um novo herói. De preferência, que una refinamento e adrenalina, e tenha um estilo de vida deliberante e fora do normal. No mundo ideal, ele é másculo, galanteador, alto e forte, como os 93 modelos que apresentaram a última coleção da Dolce & Gabbana, em homenagem a um gentleman do cinema contemporâneo, o espião James Bond. Além de smokings (figurino oficial do agente 007), surgiram na passarela ternos impecáveis, caftãs em estilo árabe, pijamas estilizados, moda praia e uma linha apoteótica de moda esportiva.
Para entender melhor o espÃrito do desfile, pense em uma escola de samba, que traz para a avenida diferentes alas seguindo o mesmo tema. É por aÃ.
O show foi armado no Castelo do Ovo, um dos mais antigos de Nápoles, localizado em frente ao Vesúvio. Ao som de Goldfinger, na voz de Shirley Bassey, a apresentação começou com uma sequência de ternos, blazers e smokings, todos com ergonomia precisa, detalhes em seda pura e confecção em lã fina.
Alguns respeitavam com rigor as caracterÃsticas clássicas: grandes lapelas, sempre em cetim de seda preto, faixa estreita também em cetim na lateral da calça e os botões revestidos com o mesmo tecido. Além da gravata-borboleta, lógico.
Os ternos seguiam à risca os preceito da sartoria napolitana, cujas raÃzes remontam ao ano de 1351, quando foi fundada a confraria dos alfaiates. Paletós foram o ponto alto do show, quase todos com costura dupla feita à mão, ombros moderados e pouco estruturados e mangas franzidas na parte alta para permitir movimentos sem "engessar" os braços. Os looks mais clássicos acenavam para o figurino de Sean Connery, em Goldfinger. Então, começaram as transgressões.
Primeiro, um smoking com a jaqueta em paetê dourado, depois outro com jaqueta de couro de crocodilo. Em seguida, alguns modelos apenas com calção e dorso nu em referência ao fÃsico de Daniel Craig, em Cassino Royale.
O próximo ato contemplava o universo esportivo e trouxe um teor aventureiro, radical até. Com capacete e macacão dourado, um look fazia alusão ao motociclismo. Peças de seda vieram estampadas com lanchas e automóveis luxuosos. "Isso é a alta moda como um entretenimento extraordinário", avaliou Susy Menkes, colunista da revista Vogue, com textos em sites da publicação em todo o mundo.
Uma camisa polo, aparentemente comum, trazia o monograma JB e lembrava o personagem de Roger Moore, em 007 Contra O Homem com a Pistola de Ouro. Mais excêntricas, as linhas de caftãs e pijamas de seda, acompanhadas por sapatos loafers de veludo, foram outras grandes apostas.
As marcas globais de luxo hoje precisam conversar com diferentes tipos de cultura e mercado. Por isso, elas lançam desde peças minimalistas e chiques até roupas estampadas e espalhafatosas. "Na Rússia, na Arábia e em paÃses emergentes, a moda decorada e rica em detalhes sempre foi sinônimo de riqueza e poder", afirma Sérgio Amaral, diretor de redação da revista LOfficiel Hommes.
Desta vez, a dupla de estilistas Domenico Dolce e Stefano Gabbana apostou na imagem do homem alfa, mas não deixou de lado as estampas decoradas e os brilhos. "Foi um desfile sui generis, cheio de looks superlativos", diz Sylvain Justum, editor de moda da revista GQ, que acompanhou o fim de semana de festas, pizzadas (Nápoles é a terra da pizza) e shows dançantes (Gypsy King subiu ao palco na festa de despedida).
O desfile terminou com uma queima de fogos na BaÃa de Nápoles. Depois, foi oferecido um jantar à s centenas de convidados. "O verdadeiro luxo hoje não está só no produto, mas na experiência que a marca oferece, desde o atendimento até a forma como as peças são entregues aos clientes. Com desfiles como esse, a marca realiza momentos de sonho e alavanca as vendas", diz Sylvain. Afinal, todo sonho tem um preço.
Fonte: Estadão Conteúdo