07/04/2019 08h10
'Duas Rainhas' traz duas rivais em luta pelo poder, Elizabeth I e Mary Stuart
No cinema, a rivalidade entre duas mulheres frequentemente cai na briga por um homem ou por um casamento (como esquecer de Noivas em Guerra?). Duas Rainhas, escrito por Beau Willimon (House of Cards) e dirigido por Josie Rourke, premiada no teatro, foi buscar na Grã-Bretanha do século 16 o jogo de duas mulheres pelo trono: Elizabeth I da Inglaterra (interpretada por Margot Robbie) e Mary Stuart da Escócia (Saoirse Ronan). "Normalmente, quando falamos de rivalidade entre homens, é o inÃcio de uma conversa em que também discutimos sua ambição, seu poder, seu fascÃnio, sua obsessão. E quando dizemos que duas mulheres são rivais, é ponto e parágrafo, outro assunto", afirmou Rourke em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo em Londres. "Queria mostrar que, sim, essas mulheres eram rivais na polÃtica, mas também tinham um grande fascÃnio uma pela outra."
Não foi à toa que ela pediu ao roteirista de House of Cards para escrever a história. "Meu desejo era levar as duas a sério como polÃticas e entender o que a liderança significava para cada uma e o custo do poder", disse a diretora. A rainha da Inglaterra era filha de Henrique VIII, que tinha levado o paÃs do catolicismo ao protestantismo para poder anular seu matrimônio com Catarina de Aragão e se casar com Ana Bolena, mãe de Elizabeth I. Mais tarde, Ana foi acusada de adultério e executada a mando de Henrique VIII, que se casou outras quatro vezes. Elizabeth I, portanto, podia ser considerada filha ilegÃtima. Mary era católica e sobrinha-neta de Henrique VIII, que tinha feito de tudo para excluir a famÃlia dela (os Stuart) da linha sucessória. Mas muitos acreditavam que ela era a legÃtima herdeira do trono inglês.
O século 16 ganhou relevância moderna em Duas Rainhas. "Qualquer versão do passado é uma representação. Para mim, qualquer história que contamos sobre nosso passado precisa conversar com o presente. Se não, o que estamos fazendo?", perguntou Josie Rourke. Não é difÃcil encontrar paralelos com as discussões levantadas por movimentos como Me Too e Time's Up, mesmo que o roteiro tenha sido escrito bem antes. "Ainda estamos falando sobre os mesmos temas, como polÃtica de gênero, como é estar em posição de poder, a escolha entre famÃlia e carreira", lembrou Margot Robbie.
Uma questão bastante atual é como uma mulher deve se comportar. Elizabeth I se fechou atrás de uma máscara de pesada maquiagem e divulgou a imagem de rainha virgem. Em dado momento do filme, ela diz que é mais homem do que mulher. "É algo muito comum em mulheres lÃderes", contou Saoirse Ronan. "Não sei se elas decidem se comportar mais como homens, mas certamente são ridicularizadas se não fazem isso. Esperam muito mais das mulheres que são polÃticas ou CEOs do que dos homens, com certeza. Por alguma razão, traços vistos como femininos são considerados fraqueza." Para Margot Robbie, "é aquela velha história: homens são fortes, mulheres são mandonas; homens são confiantes, mulheres são cheias de opinião".
Mary Stuart foi quase o oposto de Elizabeth I: pressionada como todos os monarcas a ter herdeiros, foi acusada de libertinagem por ter tido vários maridos - nem todos por escolha própria. "Gritavam: Morte à prostituta!", contou Ronan. "E era tudo propaganda, ou, como dirÃamos hoje, fake news." Para as duas atrizes, ter mais mulheres por trás das câmeras é a resposta para contar histórias que não caiam em armadilhas do tipo mostrar a rivalidade entre mulheres como uma briga de unhadas e cabelos puxados.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo