29/09/2014 10h55
Editora lança coleção infantil sobre universo indígena
Primeiro nasceram os filmes, feitos por Ãndios cineastas dos povos panarás, que vivem em Mato Grosso e no Pará, ikpengs, em Mato Grosso, e wajãpis, no Amapá. Dos vÃdeos, desdobraram-se os livros, com as histórias adaptadas para crianças, em uma linguagem simples, parecida com o jeito de falar indÃgena, e recheadas de ilustrações. Os três filmes e livros compõem a coleção Um Dia na Aldeia, lançamento do VÃdeo nas Aldeias com a editora Cosac Naify, que apresenta uma visão autêntica e realista dos primeiros habitantes do Brasil.
"A ideia é sensibilizar as crianças em relação a um universo que não conhecemos, que nos livros didáticos aparece de forma totalmente equivocada.
Os Ãndios não estão apenas em 1500, estão ao nosso lado, vivendo, se apropriando da nossa cultura, mas mantendo as suas. A questão indÃgena no PaÃs envolve desrespeito ao direito e muita violência. Isso também faz parte do que somos nós", afirma a escritora e educadora Ana Carvalho, que integra a equipe do VÃdeo nas Aldeias e assina a adaptação da história Depois do Ovo, a Guerra, feita com base no filme de Komoi Panará.
Neste livro, as crianças panará brincam de reviver a guerra de seu povo contra os txucarramães, seus antigos inimigos. Pintam o corpo, cortam seus cabelos e produzem as armas para celebrar a história.
Os outros dois livros - A História de Akykysia, o Dono da Caça e Das Crianças Ikpeng Para o Mundo - foram adaptados pela escritora, ilustradora e atriz Rita Carelli, que também fez os desenhos de toda a coleção. Na primeira obra, Rita conta a lenda dos Ãndios wajãpis e do monstro Akykysia, que mora no buraco de um tronco de sumaúma. Na segunda, o foco é a vida em uma aldeia ikpeng. Por meio elas, o leitor conhecerá a casa do cacique, o hábito de tomar banho no rio e de comer frutas direto do pé, além de compreender como se dá a divisão de tarefas entre homens e mulheres.
Para fazer as ilustrações, Rita fez diversas oficinas de ilustração com as crianças indÃgenas. Levou papel, lápis e tinta e propôs que elas desenhassem. Curiosamente, conta, os Ãndios optaram por cores fora da paleta tradicionalmente usada quando são retratados - eles ficaram fascinados com os tons mais fortes. Nos livros, Rita apostou em amarelos, vermelhos e verdes fechados.
"Também trabalhei muito com colagens, usei papéis de origami japonês. Quis brincar com a ideia de que a cultura indÃgena quase se aproxima da japonesa. Encontramos padrões semelhantes, quis provocar", diz Rita. Os livros são bilÃngues: em português e no idioma dos Ãndios. A ideia é que eles também sejam lidos por eles. "Existe além do português no Brasil. Desta forma, os livros voltam para as aldeias e para as escolas indÃgenas diferenciadas. A tradição oral retorna em formato escrito", afirma Ana. Para Vicent Carelli, diretor executivo do VÃdeo nas Aldeias, como há escassez de material para os Ãndios, a coleção poderá ser usada no processo de alfabetização das crianças indÃgenas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo