29/10/2018 08h40
Em nova cópia, 'Feliz Ano Velho' retorna a seu visual de origem
Em cópia remasterizada, volta às telas Feliz Ano Velho (1988), filme de Roberto Gervitz baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva. Autobiográfico, o livro revive o acidente que o deixou tetraplégico, fala de sua geração, e do pai assassinado pela ditadura, o deputado Rubens Paiva (1929-1971). À época do lançamento do livro, 1982, o Brasil vivia a fase final da ditadura, já bastante desgastada, ainda mostrando suas garras. O regime teria seu final com a campanha das Diretas e a transição democrática de 1985.
No filme, o protagonista Mário é interpretado por Marcelo Breda. Malu Mader aparece em dois papéis, como a namorada Ana e uma envolvente bailarina. O filme é estruturado em flashbacks, quando o jovem angustiado pela paralisia recorda seu passado, a militância polÃtica na Universidade de Campinas, a tentativa de formar uma banda de rock, etc. A pulsação do filme é jovem e conta a história de uma reconstrução pessoal através da escrita. A fotografia de César Charlone e a direção de arte de Clóvis Bueno banham a obra no tom onÃrico buscado por Gervitz.
Em texto enviado ao Estado, o diretor conta como optou por uma adaptação livre, em que "o mergulho que inicia o livro deixa de ter no filme um caráter meramente acidental e passa a ser um produto dos conflitos de Mário". Marcelo perdeu os movimentos ao mergulhar num lago e bater a cabeça numa pedra.
Esse trauma, brutalmente real, é recoberto por uma simbologia, em que "o mergulho que o leva à paralisia fÃsica é expressão objetiva de algo que já vivia em sua psique, mas ao mesmo tempo, lhe permite elaborar uma nova consciência de si que o guiará por novo caminho. Desse modo, "Feliz Ano Velho é um filme sobre o medo de viver e de se atirar na vida, desenhando o próprio destino", diz.
A paralisia pode ser vista também como metáfora de um paÃs à quela altura afundado em quase duas décadas de uma ditadura que parecia não ter fim, embora já estivesse em seus estertores - mas isso só se veria depois.
Gervitz fala também do mal-estar ao rever sua obra nos últimos anos. "Não conseguia chegar ao final, tal a precariedade do estado das cópias cinematográficas ou ainda da baixa qualidade técnica dos DVDs e das matrizes usadas pelas televisões." Daà sua alegria em ver o trabalho devolvido ao padrão visual de origem. Nesta segunda-feira, 29, às 19h, na Cinemateca Brasileira, Feliz Ano Velho será exibido ao público, com debate sobre o restauro após a sessão.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo