16/10/2014 12h25
Em plena atividade, Fernanda Montenegro faz 85 anos
Arlete Pinheiro Esteves Torres, nascida Silva, completa nesta quinta-feira 85 anos. Essa senhora nasceu no Rio - em 16 de outubro de 1929 - e você pode até achar que não sabe quem é, mas sabe, sim. Pois foi com o nome de Fernanda Montenegro que ela se transformou na grande dama da representação no PaÃs.
Consagrada no teatro, onde integrou a lendária companhia Teatro dos Sete, incorporou a televisão e o cinema aos seus domÃnios. Além da enxurrada de prêmios que ganhou no Brasil, venceu o Urso de Prata de atriz por Central do Brasil, de Walter Salles, no Festival de Cannes de 1998, e foi indicada para o Oscar pelo mesmo papel. Se a Academia de Hollywood falhou com ela - preferindo premiar a fadinha loira Gwyneth Paltrow de Shakespeare Apaixonado -, o Emmy International foi mais sensÃvel ao sortilégio de Fernanda e ela ganhou, no ano passado, o Emmy, o Oscar da TV, pelo papel no telefilme Doce de Mãe, de Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo.
Em 1999, o então presidente Fernando Henrique Cardoso lhe atribuiu a maior distinção que o Brasil confere a um/uma civil - a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito. E em 2013 a revista Forbes considerou-a uma das 15 mais influentes personalidades brasileiras. Por tudo isso, e embora não goste muito, ela costuma ser chamada de 'Fernandona', um pouco para diferenciá-la da filha, a também atriz (e escritora) Fernanda Torres, chamada de 'Fernandinha'. A famÃlia tem a arte no DNA. Fernanda Montenegro é viúva do ator e diretor Fernando Torres, que morreu em 2008. E é mãe, além de Fernand(inh)a, do também diretor Cláudio Torres, que já a dirigiu em Redentor. O genro, o marido de Fernanda Torres, Andrucha Waddington, dirigiu as duas em Casa de Areia e fez de Fernandona a insuperável intérprete de seu episódio em Rio, Eu Te Amo. Imagine - a grande dama das artes no papel de uma moradora de rua. E não é que ela convence? A questão não é essa. Quando Fernanda não convenceu?
Nascida no bairro carioca do Campinho, filha de uma dona de casa e um mecânico, Fernanda, ou melhor, Arlete frequentou escola pública. Como a famÃlia não nadava em dinheiro, garota ainda foi fazer o curso de secretariado, que trocou por um concurso para locutora na rádio MEC. Foi rádio-atriz, e na Rádio do MEC adotou o pseudônimo. Nasceu Fernanda Montenegro. Em 1950, aos 21 anos, estreou no teatro, ao lado do futuro marido (e companheiro por toda a vida). Antes das Companhia dos Sete, integrou o elenco da Companhia Maria Della Costa e o TBC, o Teatro Brasileiro de Comédia. Entre muitas peças, atuou em A Moratória, de Jorge Andrade; Mary-Mary; Mirandolina, de Carlo Goldoni; e As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant, de Rainer Werner Fassbinder; Fedra, de Racine; Dias Felizes, de Beckett etc.
A estreia no cinema ocorreu em 1964 com A Falecida, que Leon Hirszman adaptou da peça de Nelson Rodrigues. Com Leon Hirszman, ela também fez Eles não Usam Black-tie e o filme, baseado na peça de Gianfrancesco Guarnieri, foi premiado em Veneza. A cena final, em que Fernanda e Guarnieri, em silêncio, catam feijão, entrou para a história do cinema brasileiro. Na TV, integrou o elenco do Grande
Teatro Tupi, fez novelas e teleteatro na TV Rio, na Excelsior e na Bandeirantes. em 1981, fez a primeira novela na Globo, que virou sua casa. Depois de Baila Comigo, de Manoel Carlos, emendou textos de Gilberto Braga (Brilhante) e SÃlvio de Abreu (Guerra dos Sexos e Cambalacho). Foi até Nossa Senhora - em O Auto da Compadecida, de Guel Arraes, adaptado de Ariano Suassuna, que foi microssérie antes de estourar como filme. Nunca mais parou. Agora mesmo, vai voltar à s novelas fazendo par homossexual com Nathalia Timberg na próxima novela de Gilberto Braga, Babilônia.
Filmes, peças, novelas. Propaganda - quem não se lembra de Fernanda e do marido fazendo comercial da Brahma? Ela gosta de contar que, além de todos os autores brasileiros e internacionais que fizeram sua cabeça, deve muito a duas mulheres, duas autoras. Simone de Beauvoir fez dela uma pró-feminista, mesmo que não tenha sido daquelas de queimar sutiã. Adélia Prado a adoçou com sua poesia. Hoje, nos 85 anos de Fernanda Montenegro, vale repetir o que disse a presidente Dilma Rousseff no Twitter, quando ela ganhou o Emmy - 'Fernanda, você é um orgulho nacional'.
Fonte: Estadão Conteúdo