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Variedades
05/09/2014 09h35

'Esmeraldas' é o 3º disco da carreira de Tiê

A mão que balança o berço é a mesma que mistura roupas de todas as cores na máquina de lavar, compõe e toca violão. Aos 34 anos, a cantora e compositora paulistana Tiê vive às voltas com as delícias e as loucuras de ser mãe de duas meninas, Liz, de 4 anos, e Amora, de 1, além de ter de dar conta dos afazeres domésticos, de sua produtora, a Rosa Flamingo (colada à sua casa, na Lapa, em São Paulo), e, ufa, de sua agenda de shows. Em meio a esse turbilhão, ela se viu acometida por uma doença, talvez a mais temida pelos compositores: um bloqueio criativo.

"Quando faço um disco, namoro esse disco um tempão até gastar e aí depois vem as ideias para o outro, as composições. Só que gastei o segundo disco, A Coruja e O Coração, e não me veio nada", conta Tiê. "Realmente, fiquei numa fase em que não conseguia compor. Minha maior inspiração é o cotidiano e são minhas próprias histórias. Foi um caos na minha vida." Terceiro disco da carreira, Esmeraldas, que deve chegar às lojas no dia 23 (antes, no dia 9, tem início a pré-venda da música A Noite no iTunes), deriva dessa fase angustiante que, enfim, a fez retornar às boas com sua composição.

Tiê vinha de dois discos coerentes com seu estilo, mas que traziam marcas nítidas de momentos diferentes de sua vida que respingaram em cada um desses trabalhos. O disco Sweet Jardim, de 2009, representou o concretização de Tiê como intérprete da própria canção. Consequentemente, ela encontrou o tom da sua voz, mais apropriado ao sussurro do que ao grito. Com doçura e certa densidade - afinal, passara muito tempo fechada em casa, num processo solitário de domínio do dedilhar do violão -, ela cantou amores e desamores. "Fiquei quatro ou cinco meses fazendo Sweet Jardim todo dia em casa, duas vezes por dia em frente ao espelho."

Sua carreira, então, deslanchou. Um dos bons nomes de uma geração mais recente da cena musical paulistana, Tiê gastou na estrada seu trabalho de estreia, lançado de forma independente. Dois anos depois, lançava seu segundo álbum, A Coruja e O Coração, pela gravadora Warner, sem grandes traumas no processo de composição durante a transição de um disco para o outro. Àquela altura, Tiê já desfrutava a maternidade, com a chegada da primogênita Liz. Resultado? A melancolia deu lugar à leveza. Era um projeto mais alegre, construído com os amigos indo em sua casa jantar enquanto a filha dormia.

"Sweet Jardim tinha essa cara do cru, do sincero ao extremo, do íntimo, do verdadeiro. E o segundo foi no meio de um bololô, porque eu tinha feito a turnê do primeiro, tive a Liz. Eu estava num momento em que achava tudo lindo. Então, ele é mais uma colcha de retalhos. Foi um disco que teve muito mais público, mas, para formador de opinião, ele funcionou muito menos."

Parceiros

Para desencantar e chegar a Esmeraldas, a compositora recorreu a aconselhamentos de amigos e outros nem tão próximos assim. Caso de um ex-Talking Heads de nome David Byrne. Tiê conheceu pessoalmente o músico escocês em 2011, quando ele foi assistir a um show dela e de Tulipa em Nova York. O intermediário desse encontro foi o percussionista brasileiro Mauro Refosco, um amigo em comum dos dois. "Byrne conhecia nosso trabalho. Ele assistiu a tudo, conversou com a gente e, depois disso, a gente trocou e-mails", conta Tiê.

No outubro do ano passado, sem ideia nenhuma, ela foi acompanhar a gravação do disco solo de sua baterista, Naná Rizinni, em Chicago. Achava que aquela viagem poderia inspirá-la. De Chicago, foi para Nova York, onde tinha marcado almoço com Byrne. Foi a chance de compartilhar com ele também seu bloqueio. "Ele foi muito humilde, gentil, simpático, cheguei dez minutos antes e ele já estava lá sentado.
Me abri totalmente, se tem uma coisa que eu sou é cara de pau mesmo. É uma característica minha", afirma. "Eu disse: me inspira, me ajuda, me fala alguma coisa porque não vou sair daqui sem nada (risos)."

Talvez solidário com a aflição da colega compositora, Byrne a ajudou. E rápido até. Três dias depois daquela conversa em tom confessional, quase de súplica, ele avisou Tiê que tinha encontrado duas músicas e lhe enviou ambas para ver o que queria fazer com elas. Mandou dois esboços: um afoxé, que ela guardou; e a outra que tinha um início de letra. Foi um bom incentivo. Mas, mesmo assim, o processo demoraria mais um pouco. Tiê retornou ao Brasil e, em dezembro, foi para Minas passar o Natal com a família, na roça. "Comecei a fazer uma música e ela veio inteira, Mínimo Maravilhoso. Aí que o disco teve início."

De volta à música de Byrne, batizada All Around You, Tiê pediu para André Whoong, seu parceiro, ver o que poderia fazer com ela. "André fez uma parte para a canção. O Byrne tem uma parte que é toda com acordes menores, tem um mistério, ele então pensou numa parte mais solar, como se fosse a minha parte da música, seria meu tipo de composição dentro da composição dele", explica ela.

Mandaram também para outro parceiro, Tim Bernardes, o pedaço da letra de Byrne, o tema, e ele voltou com uma letra que Tiê adaptou para seu universo. Por isso, a composição é assinada pelos quatro - tudo, claro, com aprovação de Byrne, que também participa da música cantando em inglês e português. Byrne fala de sua mãe; Tiê fala de sua paranoia.

O disco conta com outra colaboração afetiva para Tiê: Guilherme Arantes contribui com seu piano também pop em Máquina de Lavar. "Eu amo o Guilherme de paixão, sou fã, conheço tudo", diz Tiê, que já havia participado do novo disco dele, Condição Humana, lançado no ano passado. "Quando a gente estava fazendo (essa música), percebemos que estava faltando um piano. Vamos chamar o Guilherme?"

A produção de Esmeraldas é compartilhada pelo brasileiro pop Adriano Cintra, do Cansei de Ser Sexy - e sua mão pop -, e pelo americano Jesse Harris (vencedor do Grammy pela canção Dont Know Why, conhecida na voz de Norah Jones) - e seu estilo sofisticado. A cozinha musical, com bateria, baixo, guitarra, foi gravada no Brasil, e levada pronta para os EUA, onde foram acrescentados cordas, metais, sopros, percussão. "Neste disco, ainda falo de amor, sinto que é autobiográfico, como os outros dois", avalia Tiê. "Retrata claramente minha fase agora: sou uma pessoa rodeada de amor, mas também já estou sem paciência. Ainda são letras simples que narram minhas histórias, mas de forma menos ingênuo talvez." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Estadão Conteúdo
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