19/10/2015 11h00
Evento no prédio da Prefeitura marca início da SPFW
Alexandre Herchcovitch sabe atrair atenções. O barulho em torno de seu desfile, realizado neste domingo, 18, começou dias antes, quando os fashionistas receberam como seus convites com um bilhete único carregado com R$ 7. Era uma sugestão para que fossem de transporte público ao local da apresentação, o saguão da sede da Prefeitura.
O evento, que marcou o inÃcio da São Paulo Fashion Week, contou com a presença do prefeito Fernando Haddad e da mulher, Ana Estela. A primeira dama, aliás, ajudou a amarrar a parceria com o estilista. "Tivemos uma reunião aqui e Herchcovitch ficou encantado com o prédio. Daà surgiu a ideia de fazer o desfile", contou ela. "Adorei. É bom ver a Prefeitura aberta para as pessoas. Acho que desoficializamos o que era oficial", disse um Haddad descontraÃdo, usando jeans e camisa de manga curta.
A iniciativa está alinhada a um dos temas da semana de moda, que comemora 20 anos nesta edição: Ocupa São Paulo. Deu certo. No fim da tarde, o Viaduto do Chá ficou tomado por convidados. Na apresentação da coleção soturna de outono inverno 2016 de Herchcovitch, o preto dominou. Para comemorar seus 20 anos de carreira, ele buscou inspiração na própria obra.
As camisolas de tricoline de cashmere com seda e fitas de gorgurão, por exemplo, remetem à s que ele fez em seu desfile de formatura. "Na época, ele fez camisolões amarrados como se fossem camisas de força", lembra Sergio Amaral, redator-chefe da revista L'Officiel. Também estavam lá a estética dark, meio underground, e o fetichismo. "Usei matérias primas nobres e clássicas e joguei com modelagens ora muito largas, ora justÃssimas", diz o estilista. "Minha intenção era revelar o corpo no limite entre a sensualidade e a vulgaridade."
Nesse sentido, a passarela trouxe uma sequencia de provocações. Uma modelo apareceu com parte do rosto coberto por uma balaclava e batom preto, outra com um top estrategicamente recortado para que seus seios ficassem à mostra, muitas com bodies, meia arrastão, looks transparentes.
"As peças com argolas da coleção fazem alusão aos piercings e ao universo clubber que Alexandre frequentava nos anos 90", diz o consultor de moda Jackson Araujo, que acompanha o trabalho do estilista desde o inÃcio e destaca sua evolução. "Hoje, ele faz uma espécie de fetiche couture, com tecidos de primeira qualidade e requinte nas costuras e nos acabamentos."
Entre as peças mais desejadas, estavam as calças curtas com corte de alfaiataria, em couro e em cashmere. O styling que misturava diferentes padrões de xadrez foi outro ponto alto. Segundo o estilista, o desfile contou "uma história de boudoir sobre amor e perda, perversão, sexo e poder".
A trilha sonora, com batidas que lembravam sons industriais, amarrava o conceito. Soava também hostil. Talvez com um tom de despedida, já que pode ter sido o último desfile do estilista para a marca Herchcovitch; Alexandre, que pertence ao grupo InBrands. Seu contrato deve acabar em breve e sua permanência ainda não está acertada. "Se esse for o meu último, será um lindo desfile!", disse Herchcovitch ao FFW, site da SPFW.
Fonte: Estadão Conteúdo