23/06/2017 08h40
Exposição traz memorabilia que narra a breve carreira do Nirvana
No dia 6 de janeiro de 1990, um Kurt Cobain de 22 anos, recém-chegado de shows pela Berlim do muro recém-derrubado, deu entrevista a uma emissora de TV de Seattle na condição de aspirante a estrela do rock. Disse não saber explicar por que a chuvosa cidade do noroeste norte-americano se tornara cenário fértil para o grunge que iria soar mundo afora a partir do ano seguinte, com o estouro do disco Nevermind. "Não sei, é o acaso, sorte. É louco termos tantas bandas no lugar certo", declarou o vocalista e guitarrista do Nirvana, em imagens que nunca iriam ao ar.
O programa acabou tendo a exibição cancelada à época, e a raridade só veio a público quando da montagem da exposição Nirvana: Taking Punk to the Masses pelo Museum of Pop Culture, de Seattle, em 2011. Pela primeira vez, a mostra, já vista por mais de 3 milhões de pessoas, deixou o modernÃssimo prédio projetado por Frank Gehry para a centenária construção que abriga o Museu Histórico Nacional, no Rio, com seus 200 itens, entre instrumentos (das marcas mais baratas, compradas em lojas de departamento no inÃcio da carreira, à s Fenders preferidas de Kurt, sendo sete delas parcialmente destruÃdas em seus arroubos roqueiros), fotos, desenhos, discos e roupas dos integrantes da banda.
É um conjunto que move os fãs e aguça a curiosidade de quem só conhece o Nirvana de Smells Like Teen Spirit, Come As You Are e Lithium - os três hits, aliás, ecoam numa sala interativa, onde os visitantes podem cantar e bater cabeça diante de uma câmera. "Queria atrair tanto o grande fã quanto quem não entende nada de Nirvana nem de punk-rock", explica o curador do museu e da mostra, Jacob McMurray.
"Eu achava que ficaria um ano em cartaz, mas foi um sucesso e o museu se tornou um lugar de peregrinação. Na época do aniversário de Kurt e de sua morte, vemos pessoas circulando nas galerias só por causa dele, com jaquetas com seu rosto, vestidas como ele se vestia. A história do Nirvana em geral é associada a suicÃdio (de Kurt) e abuso de drogas, mas vale a pena apresentá-la como algo inspirador para jovens músicos: esses eram garotos que não precisaram ir a Los Angeles ou Nova York para se tornar a banda mais famosa do planeta."
A ilustração de um casal de punks feita por Kurt adolescente, na escola, acompanhada de fotos dele na sala de aula, tirando meleca do nariz; a primeira guitarra destruÃda por ele no palco, em outubro de 1988, num show para 50 pessoas num dormitório de universidade, quando não havia dinheiro sequer para o pagar o aluguel, que dirá para comprar um novo instrumento; o primeiro pôster de show, do mesmo ano, desenho dele também; letras manuscritas numa folha de caderno, de composições que entraram no LP de estreia, Bleach; os setlists dos shows no finado Hollywood Rock, no Rio e em São Paulo, em janeiro de 1993, escritos à mão pelo baterista Dave Grohl, e também a da última apresentação, em março de 1994, em Munique; o primeiro contrato assinado com a gravadora Sub Pop, em 1990, no valor de US$ 600 - são alguns momentos de destaque na narrativa dos seis anos de vida do Nirvana.
Com mais de 130 mil itens sobre música popular, o museu tem a maior coleção de memorabilia do Nirvana. Para esta mostra, repleta de fotos icônicas dos músicos no palco, com seus jeans e tênis surrados e camisas de flanela, foram selecionadas peças do acervo pessoal do baixista Krist Novoselic, de sua ex-mulher, Shelli Hyrkas, entre outras pessoas, além de objetos adquiridos em leilões.
Em cartaz no Rio até agosto, a exposição - que na sequência vai para o Lounge Bienal, no Ibirapuera -, em sua porção final oferece um painel dos 21 discos de formação de Krist Novoselic - clássicos do Black Sabbath, The Stooges... - e, na sessão interativa, um painel que reproduz a piscina da foto da capa de Nevermind, a nota de US$ 1 à frente.
A exposição é patrocinada pela Samsung, com recursos obtidos via Lei Rouanet. Uma parte do que é exibido em Seattle não veio (os donos dos objetos temeram a viagem, apesar do seguro). Um norte que a curadoria seguiu foi a pergunta: o que exatamente, em Seattle, propiciou o surgimento não só do Nirvana, mas de gigantes como Soundgarden, Alice in Chains e Pearl Jam? "Numa cidade chuvosa e fria, faz sentido as pessoas passarem a maior parte do tempo entocadas, fazendo música e bebendo cerveja", tenta responder McMurray.
NIRVANA: LEVANDO O PUNK ÀS MASSAS
Museu Histórico Nacional. Praça Mal. Âncora, s/nº, Rio. 3ª a 6ª, 10h/ 17h30; sáb., dom. e feriado, 13h/ 17h. R$ 20/ R$ 30. Até 22/8
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo