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04/03/2016 09h09

Felipe Franco Munhoz lança 'Mentiras'

Felipe discute em um café com Philip, às tardes, a construção dos diálogos e a relação que mantém com Thaís, às noites. Felipe e Philip sabem que são apenas personagens de um romance - Mentiras, que o estreante Felipe Franco Munhoz lança nesta sexta, 4, na Livraria da Vila da Fradique Coutinho, mas Thaís acredita que existe de fato. Esse mecanismo entre a construção da ficção e a relação amorosa de duas pessoas (e uma terceira, que mais tarde entra na história) é a base do livro do jovem escritor, referendado por nomes como Humberto Werneck, José Castello, Paulo Henriques Britto e Marcelino Freire.

Munhoz nasceu em São Paulo, em 1990, viveu um tempo no litoral e morou em Curitiba, onde se formou em publicidade, profissão que abandonou. Escreveu a primeira versão de Mentiras nessa cidade, entre o fim de 2010 e o dia 19 de março de 2011 (coincidentemente, data do aniversário de Philip Roth - o livro guarda uma íntima relação com a obra do norte-americano). Aos 20 anos, ganhou uma bolsa de criação literária da Funarte, na categoria adulta do edital. Depois, estabeleceu morada em São Paulo e não parou mais de escrever - oito horas por dia, segundo o próprio ("paciência é o mais importante", garante).

Com recomendação de Evandro Affonso Ferreira, a Editora Nós prestou atenção em Mentiras e o editou. Escrita inteiramente em diálogos, a obra passou por uma grande revisão para ser publicada agora, cinco anos depois, quando seu autor está prestes a completar seu 26.º aniversário. A mesma idade que Roth tinha quando estreou, em 1959.

"Eu tinha feito um livro de contos e, quando terminei, senti falta de diálogos, era uma influência kafkiana, borgiana", conta Munhoz. "Pensei que seria interessante treinar diálogos, então fui atrás de autores considerados bons nisso, como Hemingway e Roth, cujo livro Engano é inteiro nessa forma." Após o primeiro Roth, que veio meio sem aviso, foi impossível não mergulhar de cabeça na obra do americano.

Ao mesmo tempo, Munhoz lembra de ter tido uma conversa "bem franca, diferente do normal" com uma amiga, em um bar de Curitiba - o ponto de partida para a criação da personagem do livro. A voz da ficção de Philip Roth, então, funcionaria como um contraponto e uma espécie de mentor literário para a construção de um romance feito apenas de diálogos.

"Para o trabalho ficar completo, achei que só faria sentido se usasse todos os livros dele", lembra Munhoz. O personagem Philip, em Mentiras, ecoa diversas criações de Roth, desde o Portnoy até os delírios de Nathan Zuckerman, mas evita a personalidade do Roth real. "Foi uma obrigação autoimposta, que melhorou o resultado final do trabalho, e acabou virando um objetivo, um obstáculo essencial para o mecanismo do texto."

O judaísmo também entra com força no livro e, à la Roth, é usado para emular sentimentos mais diversos. A terceira ponta do triângulo amoroso ("Marina, mar de minha sina, morfina desta carne", diz, debochado, o personagem principal) é uma mulher judia. A transformação a que ele se submete rende as cenas mais engraçadas do livro.

Munhoz também é crítico literário da APCA e gerencia o site Antessala das Letras. Criado em 2014, a ideia era oferecer um espaço mais forte do que um blog e publicar novos autores, sempre partindo da indicação de escritores mais consagrados. O primeiro texto foi de Carol Rodrigues, indicada por Marcelino Freire. No ano seguinte, ela venceu o Jabuti e o prêmio da Biblioteca Nacional.
"Senti essa ausência, um lugar legal para publicar e ter visibilidade, não tem suplementos, são poucos jornais com espaço para ficção, principalmente de novos autores", explica. Com apoio da Oscip Instituto Peabirus e em parceria com a designer Lidia Ganhito (curadora de ilustrações), já são mais de 60 textos. "Tivemos algumas conversas para uma publicação, mas ainda não há nada de concreto", prospecta.

Mesmo estreante, Munhoz já vem participando de eventos internacionais. Em 2013, a convite da Philip Roth Society, ele viajou aos EUA para participar das festividades de 80 anos do escritor. Entre a leitura de um trecho do próprio livro e debates, conheceu e apertou a mão do homem ("perguntei se ele viria à Flip, e a resposta foi um categórico não", ri). Na próxima semana, embarca para Macau, na China, antiga colônia portuguesa, onde participa do The Script Road, o festival literário local. Ainda em março, vai a Paris com a Primavera Literária Brasileira. Está animado. Já tem um livro novo, sobre uma família que se divide. Está pronto, enfim, para se deslocar da sombra de Roth. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Estadão Conteúdo
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