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11/03/2016 11h21

Fins e recomeços, o tema de 'Antonia'

Quando começou a trabalhar no novo espetáculo, em outubro, Morena Nascimento não tinha um tema. Só havia a certeza de que queria uma dança intensa, um palco grande e muitos bailarinos. Aos poucos, a coreógrafa percebeu que os movimentos que criava convergiam em um mesmo sentido, pareciam falar sobre fins e renascimentos, sobre forças da natureza que destroem e a vida que ressurge depois do caos.

"Vi que, talvez, a gente estivesse falando sobre levar as coisas a uma intensidade tremenda para que algo novo apareça. Como se vislumbrasse uma pequena morte daquilo para chegar a outra coisa." Assim, nasceu Antonia: Como se em Sua Dança Quisesse Reinventar o Exaustivo Ciclo do Nascer e Morrer, que estreia nesta quinta, 10, na capital. Neste mês, haverá ainda apresentações nos teatros Arthur Azevedo e Paulo Eiró.

Aos 35 anos, a mineira se destaca como um dos principais nomes da dança contemporânea. Morena estudou na Alemanha e integrou, entre 2007 e 2009, a Tanztheater Wuppertal Pina Bausch, companhia da consagrada coreógrafa alemã que morreu em 2009. A brasileira ainda se apresenta com o grupo como artista convidada - em fevereiro, ela dançou em Londres a última criação de Pina, ...Como El Musguito En La Piedra, Ay Si, Si, Si...

Morena é uma intérprete técnica e artisticamente habilidosa, mas foi por causa da possibilidade de criar trabalhos autorais que decidiu seguir carreira na dança. Começou a desenvolver seus projetos já na graduação na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em 2005, ano em que se mudou para a Europa, ganhou o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte. De volta ao Brasil, criou obras como os solos Claraboia (2010) e Rêverie (2013), que lotaram plateias.

Antonia é diferente dos trabalhos anteriores. Morena não dança nem divide a direção com outro artista. Em cena, estão dez bailarinos - com idades, níveis técnicos e experiências diferentes - que ela selecionou em uma audição. "Acho que é meu trabalho mais difícil", diz. "Está sendo um processo no qual estou lidando muito com cada dia, com o acaso dos ensaios. Gosto de olhar para os bailarinos e entender a química entre eles."

A trilha, escolhida pela artista, também é diversa. Músicas ritualísticas da África e Ásia dividem espaço com o rock do Led Zeppelin. Algumas terão intervenções ao vivo do baterista Victor Chaves (ex-integrante da banda O Terno), com quem Morena já havia trabalhado. Chaves não ficará no palco, estará atrás da plateia. A coreógrafa também repete a parceria com a atriz e dramaturga Carolina Bianchi, que assina os textos que serão citados pelos bailarinos.

Fenômeno

Foi após rever A Excêntrica Família de Antonia (1995) - filme holandês de Marleen Gorris, vencedor do Oscar de filme estrangeiro - que Morena chegou ao nome de sua obra. "Antonia, a personagem principal, contém todos esses ciclos de morte e renascimento que o trabalho traz. É essa força do feminino, que está em todos e não só nas mulheres. É essa força da natureza. Ao ver o filme, entendi que o trabalho tinha de se chamar Antonia, não como o nome de uma pessoa, mas como o nome de um fenômeno transformador, que leva a gente a um nível de intensidade para morrer e renascer, como coisas que nos acontecem o tempo inteiro."

Morena não vê a morte como o fim. Não gosta de negar o passado; acredita que todas as experiências são transformadoras e que o vazio pode estimular criações. É o que sente em relação à morte de Pina Bausch. "A gente ainda estava no começo da nossa relação de diretora e intérprete. Ficou a sensação de incompletude. De um certo vazio. Mas isso, para os meus trabalhos de criação, é muito potente", diz. "Acho que todos os meus trabalhos estão de alguma forma homenageando e reverenciando todas as coisas que vivi e estou vivendo." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Estadão Conteúdo
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