01/09/2016 09h36
Gramado reafirma a força de longas latinos
Um curta com camadas - barroco, seguindo a própria diretora -, e outro minimalista deram continuidade à competição do gênero na noite de terça-feira. Super Oldboy, de Eliane Coster, e Horas, de Boca Migotto. Esse mesmo contraponto caracterizou os longas das competição latina, no dia 30. O boliviano Carga Sellada, de Julia Vargas, e o paraguaio GuaranÃ, de Luis ZorraquÃn. Para o repórter, tudo começou em Cannes, 2006, quando ele integrou o júri da Caméra d'Or. Hamaca Paraguaia, de Paz Encima, poderia muito bem ter levado o prêmio, mas trombou com a incompreensão dos irmãos Dardenne, que presidiam o júri. Hamaca é duplamente econômico, como meio de produção e como estética. O mesmo pode-se dizer de A Última Terra, de Pablo Lamar, destaque no recente Festival de Cinema Latino-americano de São Paulo. É a caracterÃstica do cinema paraguaio.
Guaranà é sobre um velho que vive cercado de mulheres. Ele se recusa a falar espanhol. Seu idioma é o nativo, o guarani. Esse personagem parece resumir a tragédia histórica do Paraguai, cuja população masculina foi dizimada pela TrÃplice Aliança, que incluÃa o Brasil, na grande guerra do século 19. O velho sonha com um neto varão, para perpetuar sua cultura. Faz uma longa viagem de mais de mil quilômetros, quando descobre que a filha está grávida de um menino em Buenos Aires. Leva a neta, filha dessa mesma mulher. Está indo para tentar convencê-la a voltar com o neto, ou, pelo contrário, para entregar-lhe a filha? O filme não é só minimalista. Termina em aberto, lindÃssimo.
Carga Sellada, Carga Lacrada, inspira-se numa história real. Um trem militarizado percorre o Altiplano boliviano, levando uma carga tóxica. As populações sublevam-se ao longo da rota. Há uma mulher libertária dentro do trem, existem mulheres fortes, camponesas, protestando ao longo do caminho. E existe a própria diretora, Julia Vargas. Como uma mulher aciona o que parece um universo basicamente masculino, o da polÃcia militar, das armas? Ao contrário de GuaranÃ, em que a sensação é de que não ocorre nada, acontece muita coisa em Carga Sellada. Há um elemento xamânico, fantástico, na narrativa. As forças da terra - e do povo - triunfam. É um belo filme. A diretora não pôde vir. Vieram a atriz Daniela Lema e o ator Fernando Urze, que fala um português perfeito - embora nascido na BolÃvia, criou-se no Rio. A competição latina, após o cubano Espejuelos Oscuros, esquenta.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo