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30/10/2016 08h09

Hangar 110 - O fim de uma era

18 de outubro de 1998. Naquela longínqua e abafada tarde de domingo, era inaugurada uma das casas de show mais famosas do circuito underground e alternativo de São Paulo, o Hangar 110. Soturno, o ambiente com capacidade para receber 650 pessoas tinha um bom público. A banda Gritando HC, principal atração do dia, fecharia o show. Imperpheitos, de Santos, e os então desconhecidos garotos do CPM 22 ficaram incumbidos de abrir os trabalhos do espaço recém-inaugurado na Rua Rodolfo Miranda, no bairro do Bom Retiro, na zona norte de São Paulo.

Por motivos de logística e transporte, os Imperpheitos não chegaram a tempo de dar início ao espetáculo. Coube, portanto, ao CPM 22, banda que alcançaria o topo das paradas de sucesso poucos anos depois, fazer as honras da casa e colocar o som nas alturas. "Para ser sincero, não me lembro muito bem daquela tarde. A gente estava muito nervoso. Me recordo da energia vibrante, algo muito específico do Hangar", conta Badauí, vocalista do CPM 22.

Após esse estopim musical, o Hangar se tornaria o principal reduto punk/hardcore da cidade. Algo similar ao CBGB (famoso clube de country e bluegrass de Nova York). Inocentes, Replicantes, New York Dolls, Ratos de Porão, Cólera, Exploted, Dead Fish, NX Zero, Dance of Days, Garage Fuzz, Hateen, Street Bulldogs, Blind Pigs e The Toy Dolls foram algumas das bandas que passaram pelos palcos do famoso local.

No dia do aniversário de 18 anos da casa, entretanto, uma notícia chocou a todos: O Hangar 110 encerraria suas atividades em 2017. "Quando abrimos o Hangar, éramos únicos. A gente viu que tinha uma relevância na cena alternativa. Hoje a coisa está difícil e infelizmente a internet tem atrapalhado um pouco", desabafou Marco Alemão, dono do Hangar, durante o show de comemoração da casa na semana passada.

"Não há perspectiva de melhora. A garotada não quer mais vir aos shows para curtir um som, conhecer gente e falar sobre música. Eles querem, na verdade, é ouvir tudo pela internet. Isso vale para as bandas também. Tem muito grupo que não se preocupa com a sonoridade produzida, mas só com a fama. Eles contabilizam o número de curtidas no Facebook. Querem ser famosos acima de qualquer coisa", afirma Marco Alemão em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

Dono do estabelecimento há 18 anos, Alemão dedicou todos os seus fins de semana ao Hangar. Em 2008, durante a gestão do prefeito Gilberto Kassab, o local ficou fechado por 30 dias para atender a algumas exigências de segurança.

"Faltava banheiro para deficientes e porta de emergência, por exemplo. Foram algumas das raríssimas vezes que não estive aqui. No fim das contas, na verdade, acabou sendo bom para o Hangar. Depois disso, voltamos com força total e explodimos", lembra ele.

Se em 2004, melhor ano do Hangar, a casa conseguia atrair no mínimo 400 pessoas em praticamente todos os fins de semana, realizando, em média, 15 shows por mês, hoje, entretanto, o cenário é completamente diferente. Segundo Alemão, o Hangar promove ao todo seis apresentações mensais com 150 pessoas.

A baixa de frequentadores da casa anda lado a lado com a decadência atual do rock, já que, analisando friamente, o último boom do gênero caminhou em paralelo à história do local. Foi justamente lá que bandas como Fresno e NX Zero - a chamada onda emocore - explodiram. "O problema também é financeiro. Antes, no auge do Hangar, conseguíamos manter uma regularidade. Hoje, vivemos uma montanha-russa. Têm meses muitos bons, mas há outros péssimos. Mas mais do que econômico, a coisa é geracional mesmo", conclui.

Fonte: Estadão Conteúdo
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