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06/11/2014 08h20

Hans Hartung ganha exposição no CCBB

Seus trabalhos já foram exibidos na terceira edição da Bienal de São Paulo, em 1955, como parte do arsenal artístico da representação francesa, que destacava a obra de Léger. Agora, o franco-alemão Hans Hartung (1904-1989), a abstração em pessoa, ganha sua primeira retrospectiva no Brasil, que reúne 162 obras, entre pinturas, aquarelas e gravuras. A mostra será aberta nesta quinta-feira, 6, para convidados, e sexta, 7, para o público, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), cobrindo toda a trajetória do artista, de 1921 a 1989.

A ressonância da obra de Hartung entre os contemporâneos é forte, para dizer o mínimo. É possível identificar uma relação formal entre sua arte, a dos expressionistas abstratos americanos e dos abstratos líricos, entre eles o francês Soulages, seu amigo e que, a exemplo de Hartung, foi associado apressadamente ao tachismo. A retrospectiva do artista serve, entre outras coisas, para desfazer esse equívoco. Há nela uma tela exposta ao lado de seu esboço, mostrando que o acaso tinha pouco a ver com traços associados a gestos voluntariosos.

A reprodução dessa tela pode ser vista acima (foto maior). Ela reproduz em detalhes um projeto em menor escala de Hartung, obra que poderia ser assinada por Cy Twombly. Assistente de Hartung - que ficou fisicamente limitado após amputar a perna direita (na Segunda Guerra) e sofrer um AVC, em 1987-, o francês Bernard Derderian conta que Twombly viu uma exposição de Hartung na Itália e ficou estarrecido com as afinidades gestuais entre os dois. Nem as limitações físicas do artista conseguiram paralisar Hartung.

"Sentado numa cadeira de rodas, ele inventava instrumentos para pintar telas de grandes dimensões, como pincéis com hastes e compressores, contando com nossa ajuda para executar as pinturas mais complexas", conta Derderian, hoje um dos três artistas escolhidos pela Fondation Hartung-Bergman para avaliar e autenticar a obra de Hartung.

O diretor da fundação, Thomas Schlesser, pretende com a mostra revelar aos mais jovens o processo de trabalho de Hartung, registrado em filmes por cineastas como Alain Resnais. Fragmentos de um curta do diretor francês serão exibidos junto a vídeos que mostram o pintor em ação. "Além disso, procuramos agrupar obras que mostrem como se deu a evolução da linguagem de Hartung", diz Schlesser, apontando um conjunto de aquarelas abstratas produzidas em 1922, quando o artista tinha apenas 18 anos, cuja linguagem visual foi retomada anos mais tarde.

Formado na Alemanha, onde estudou filosofia, Hartung era malvisto pelos nazistas, que associavam arte abstrata à degeneração. Exilado na França, ele lutou na Legião Estrangeira, perdeu uma perna e o crédito num mundo racionalista. A exemplo de Kandinski, pioneiro da arte abstrata, ele acreditava na arte como valor espiritual. "Como outros representantes do abstracionismo do começo do século 20, Hartung foi influenciado pelo pensamento teosófico de madame Blavastky", observa Thomas Schlesser.

O espaço da tela passou, na pintura de Hartung, a ter uma dimensão epifânica. Seu assistente Bernard conta que os chineses, ao visitar uma exposição sua, "ficaram um pouco envergonhados de estar diante de um ocidental capaz de dominar o espaço com a habilidade de seus ancestrais", tomando-o como exemplo para futuras gerações. Qualquer dúvida sobre essa correspondência visual entre Oriente e Ocidente acaba na sala dedicada às gravuras de Hartung, no subsolo do CCBB, ideia do organizador da mostra, Fabio Scrugli, que deixou o assistente Bernard estupefato. "Nunca vi nada igual." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Estadão Conteúdo
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