01/12/2022 12h40
Hungria Hip-Hop revela dificuldades antes da fama: 'não tenho fotos de infância'
Gustavo da Hungria Neves, conhecido como o rapper Hungria Hip-Hop, de 31 anos, foi vencedor do festival de cinema brasileiro LAMV 2022, que ocorre em Los Angeles, nos Estados Unidos, com o clipe da música Céu Aberto, parceria com Marcelo Falcão, na categoria Films USA. De origem humilde, o músico se tornou amigo do ex-vocalista de O Rappa após tocarem juntos em uma turnê que ocorreu pouco antes da pandemia.
Ali, entre as cidades do Brasil, Hungria e o cantor de Minha Alma criaram uma amizade. Visitando o camarim um do outro nos bastidores dos shows, o rapper de BrasÃlia, no Distrito Federal, mostrou a música Céu Aberto para Falcão. "Ele se apaixonou pela faixa, entrou com os arranjos, melodias, enquanto entrei com a voz e letra", relembrou ele em entrevista por Zoom ao Estadão.
A amizade dos dois cresceu a tal ponto que, um dia, Falcão telefonou para avisar Hungria que jantaria em sua casa. Religioso, o rapper de 31 anos aproveitou a oportunidade para fazer uma revelação. "Quando ele sentou na mesa, eu falei: 'ó, você está aqui dentro de casa, você é uma promessa de Deus, porque Ele me falou que sentariam pessoas que eu admiro muito nessa mesa, e você é uma delas'. Foi inacreditável, a gente cantou, a gente chorou e ficou conversando até às 6h da manhã", contou.
O Rappa e os Racionais MC's, com quem Hungria cantou em um show do dia 6 de setembro deste ano, em São Paulo, participaram de seu crescimento e história. Sempre muito presente em sua vida, a música serviu para o rapper como uma forma de escape das adversidades.
As letras de Hungria costumam tratar de temas sensÃveis da própria história. Em Temporal, por exemplo, canta: "Uma aparência meio fragilizada/ Era nós de quebrada, nesses sol das seis/ E minha mãe tava desempregada/ Com a agenda lotada pra criar nós três". Os desabafos, que funcionam como uma espécie de terapia, se traduzem em mais de três milhões de ouvintes mensais só no Spotify.
'O progresso é um tapa na cara'
Como canta em Universo Paralelo, "o progresso é um tapa na cara", Hungria enfrentou adversidades na infância e adolescência até alcançar o estrelato. Ele vivia em locais de difÃcil acesso, que alagavam após as chuvas. "Eu não tenho nenhuma foto de criança porque perdi todas nos alagamentos - e a minha mãe tem medo de chuva até hoje", contou ele, que costumava mudar de casa com frequência.
A mãe, Raquel da Hungria Neves, com quem o artista nutre uma relação de amor e afeto profundos, trabalhava com o que fosse necessário para alimentar a famÃlia. Ela já fora empregada doméstica e até administrou uma lojinha que, à noite, transformava-se no quarto onde dormia com os filhos. "Nunca faltou comida em casa, mas, na verdade, faltou de a gente querer comer uma parada, e não ter aquela parada para comer", contou Hungria.
O artista mantém forte a memória de Raquel juntando moedas, à s 4h, para comprar dois pães para os filhos comerem no colégio. Ele diz que essa experiência moldou sua personalidade. "Quer saber? Isso não foi ruim não, porque aprendi muito e criou meu caráter. Hoje, vejo que o que realmente importa é a minha mãe e minha famÃlia".
O sucesso de Hungria se tornou uma recompensa a Raquel pelas dificuldades que ela enfrentara. "Somos carne e unha - ela dorme na minha cama até hoje. Já botou bumbum e, agora, quer fazer o nariz (risos)", contou o músico sobre os presentes que dá à mãe depois do sucesso musical.
'Dentro de mim sempre tem céu aberto'
Para os fãs que vieram do mesmo contexto social e econômico que Hungria, ele disse que quer servir de exemplo. "O que eu quero e amo muito é que a molecada olhe para mim e pense: 'caramba, é possÃvel'. Eu fico muito feliz, me sinto muito grato e orgulhoso de tudo que eu vivi e estou vivendo."
Voltando ao gancho desta matéria, a vontade de Hungria se traduziu na música Céu Aberto. Ele e Falcão cantam sobre fé e honestidade: "Imagine a vibe e os amigos do lado/ Sempre correndo pelo certo/ Tem vezes que o dia amanhece nublado/ Mas dentro de mim sempre tem céu aberto".
O ex-vocalista de O Rappa, inclusive, abre o clipe da faixa com uma mensagem de incentivo e esperança. "Muitos vão te dizer que não é possÃvel; que nesse lugar, ninguém tem vez; que sonhar é só perda de tempo. Mas, para quem tem fé, a vida nunca tem fim."
O clipe, que conta com participação e depoimentos de Neymar e Whindersson Nunes, foi planejado por Falcão.
Fonte: Estadão Conteúdo