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06/07/2016 11h52

'Incompreendida' marca a terceira direção da filha de Dario Argento

Poeta da infância - além de um dos mestres da comédia à italiana -, Luigi Comencini realizou, na segunda metade dos anos 1960, um filme que se tornou clássico, LIncompresso. No Brasil, chamou-se Quando o Amor É Cruel. A história de um garoto, filho de pai viúvo (e diplomata), que se sente cada vez mais solitário. A vida torna-se um peso para ele. Dizia Comencini - "O cinema deve provocar sentimentos e não representar ideias, porque as ideias acompanham os sentimentos, e não o contrário." Pode ser que, apesar do título, Incompreendida/LIncompressa, de Asia Argento, não seja bem a versão feminina do clássico de Comencini. Talvez uma livre adaptação. Mas Asia acredita, como ele, que o cinema deve se expressar por intermédio da emoção.

Filha do mestre italiano do fantástico Dario Argento, Asia estrelou filmes do pai e foi ganhando estatura no cinema italiano. Filmou até em Hollywood - com Vin Diesel fez Triplo X e, sob a direção de George A. Romero, Terra dos Mortos. Esculpiu a fama de transgressora. Se o pai fez Profondo Rosso, ela, ao se tornar diretora, fez Scarlet Diva (2000), apresentando-se em escancaradas cenas de nu frontal. Comparativamente, o espectador acostumado aos excessos de Asia talvez se pergunte onde foi parar a transgressora em Incompreendida. Ela só aparece em toques. O filme é sobre uma garota, filha de pais famosos. Asia jura que não tem nada de autobiográfico, mas é curioso que sua protagonista se chame Aria. Vale acrescentar que, em Cannes, onde seu filme passou na seção Un Certain Regard, também ficou surpresa quando o repórter citou Comencini. Disse nem saber da existência do filme. A coincidência pode estar nos olhos de quem vê.

Aria é filha de um pai astro de cinema (Gabriel Garko) e uma mãe pianista (Charlotte Gainsbourg). Nenhum dos dois tem tempo para ela. O pai só pensa na carreira, a mãe, em seus concertos. As irmãs mais velhas, de casamentos anteriores, abusam de Aria e, para complicar, ela descobre que papai e mamãe estão se separando. Incompreendida, desenvolve um precoce talento de escritora e refugia-se em sua ficção. A companhia preferida é o gato. O interessante é que Asia vai na contracorrente do cinema do pai. Filma em ambientes solares, com cores vivas. Todo esse colorido e vivacidade vira acinzentado no imaginário da garota. Predomina uma certa delicadeza, quebrada pelo tom caricato de algumas interpretações, que forçam o humor.

Logo de cara, Asia, como diretora, subverte a clássica refeição em família. Num total desrespeito pelas filhas, pai e mãe agridem-se verbalmente, sem a menor cerimônia. No fim, há uma cena sangrenta com o pai. Para o espectador italiano, a intensidade dessas cenas possui um significado particular. Gabriel Garko pode ser desconhecido no Brasil. Os mais velhos poderão pensar num possível parentesco com Gianni Garko, que desfrutou de muita popularidade como Sartana em spaghetti westerns, nos anos 1960. Não tem nada a ver. Gabriel Garko é pseudônimo e o ator é superconhecido na TV italiana como o dom (mafioso) de uma série de sucesso, Onore e Rispetto.

Não é a primeira incursão de Asia pelo universo infantojuvenil. Em 2004, com Maldito Coração, seu segundo longa como atriz e diretora - Incompreendida é o primeiro em que não atua -, ela já contou a história de um garoto forçado a abandonar uma família adotiva estruturada para viver com a mãe natural. A própria Asia é quem faz o papel e submete o filho a situações de violência e pedofilia. Em seu novo filme, a diretora pega mais leve. Em Cannes, embora ignorado pelo júri de Um Certo Olhar, seu filme foi bem recebido e ela foi comparada a autores como Todd Solondz e Ulrich Seidl. A menina Giulia Salerno, a Aria, ganhou, merecidamente, os maiores elogios.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Estadão Conteúdo
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