24/03/2015 08h10
Livro com 783 textos de Sábato Magaldi é lançado hoje
O lançamento, nesta terça-feira, 24, à s 19 horas, do livro Amor ao Teatro: Sábato Magaldi (Edições Sesc), no Teatro Anchieta, não representa apenas um justo tributo ao crÃtico mineiro que o dramaturgo Nelson Rodrigues (1912- 1980) chamou de "o melhor" do Brasil. É o reconhecimento do papel desempenhado por ele como ensaÃsta e acadêmico que, em mais de um livro, analisou a formação do moderno teatro brasileiro com independência e autoridade. O livro Amor ao Teatro, que traz 783 textos do autor publicados no jornal O Estado de S.Paulo e Jornal da Tarde, entre 1966 e 1988, foi concebido pela mulher e companheira de teatro de Sábato, a escritora Edla van Steen, responsável pela pesquisa e organização da obra com assessoria do professor José Eduardo Vendramini.
A organização do livro é cronológica. Ficaram de fora textos sobre peças estrangeiras, espetáculos de dança ou assinados com as iniciais do crÃtico que, em 1953, convidado por Alfredo Mesquita para lecionar na Escola de Arte Dramática da USP, acabou aceitando outro convite: escrever crÃticas para o 'Estado', o que fez de 1954 até 1988. O perÃodo tratado no livro é justamente o que vai da censura ao teatro durante a ditadura até a abertura polÃtica, sintetizado num texto publicado em 1986 e que trata da busca de novos caminhos com a volta do PaÃs à democracia.
Magaldi teve uma participação decisiva no desenvolvimento do teatro brasileiro na época mais crÃtica do regime, quando a censura obrigou autores e encenadores a driblar o obscurantismo das autoridades. Graças a ele, autores como Gianfrancesco Guarnieri foram reconhecidos como renovadores da dramaturgia brasileira. Vale lembrar que, nos tempos duros de 1972, foi o crÃtico que, ao defender sua tese de doutorado sobre Oswald de Andrade, causou surpresa ao eleger o anárquico escritor como o primeiro dramaturgo moderno brasileiro, e não Nelson Rodrigues, que foi amigo de Magaldi por mais de 30 anos. Em sua tese, ele analisa três peças então inéditas de Oswald, duas delas escritas em francês em parceria com Guilherme de Almeida.
Foi justamente nesse ano, 1972, que o crÃtico assumiu a página de teatro do Jornal da Tarde, vespertino que causou uma revolução na imprensa paulistana (passou a matutino em 1988) e encerrou suas atividades há três anos. Dez anos antes, ele publicara um livro fundamental, Panorama do Teatro no Brasil (pela Difusão Europeia, em 1962, depois reeditado pela Global), em que Magaldi estuda desde o teatro como catequese nos tempos da colônia aos renovadores do palco (Jorge Andrade, Nelson Rodrigues e PlÃnio Marcos, entre outros, discutindo com eles, sugerindo mudanças nos textos e até cortes).
Magaldi, que nasceu em Belo Horizonte em 9 de maio de 1927, formando-se em Direito aos 22 anos, publicou 18 livros, todos essenciais para o entendimento da evolução do teatro brasileiro. Uma obra sempre lembrada por encenadores é Nelson Rodrigues: Dramaturgia e Encenações (1983), sua tese de livre-docência que traz curiosas observações sobre o autor de Vestido de Noiva, peça considerada por outros crÃticos como o marco zero da modernidade teatral.
Magaldi contabilizou 14 epÃlogos trágicos entre 19 peças do dramaturgo, notando uma obsessão do autor: duas mulheres amantes do mesmo homem.
Primeiro crÃtico de teatro eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras, em 1994, Sábato Magaldi também ocupou um cargo público. Foi secretário municipal de Cultura, sendo o responsável pela reforma de teatros de bairros em São Paulo, decidido que estava em descentralizar a cultura quando assumiu o cargo, em 1975. Como o teatro sempre foi sua paixão, voltou à crÃtica, mantendo paralelamente uma espécie de diário do teatro (que somam 49 cadernos, cada um com 400 páginas) em que registrou o que não publicou nos jornais. Há leitores ansiosos para ler, mas sua edição é improvável por causa de seu conteúdo privado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo