25/03/2023 16h30
Lollapalooza 2023: Mulamba transforma palco de festival em manifesto feminista
Inaugurando o palco Budweiser no segundo dia do Lollapalooza, Mulamba, grupo da cidade de Curitiba, é formado apenas por mulheres e faz música focada em temáticas como violência contra a mulher.
Ser uma banda formada inteiramente por mulheres, de todas as cores e formas, e com uma equipe completamente feminina é um ato polÃtico. No grupo estão Amanda PacÃfico (vocal), Cacau de Sá (vocal), Érica Silva (guitarra, baixo, violão), NaÃra Debertolis (guitarra, baixo, violão), Caro Pisco (bateria), Fer Koppe (violoncelo).
O nome já indica o que esperar da apresentação: um manifesto. Mulamba, afinal, é uma palavra de origem angolana que significa "pessoa suja e marginalizada".
"Que bom estar aqui pela primeira vez no Lolla. Para nós é uma honra vocês estarem aqui debaixo do sol, nesse calor dos infernos. Espero que vocês gostem", falou Amanda, uma das vocalistas.
A emoção tomou conta da performance, logo na abertura do palco Budweiser neste sábado. As seis, visivelmente emocionadas, dividiram com o público meia hora de músicas grandiosas e cheias de manifestações.
Entre os temas das canções está presente o empoderamento feminino, combate ao machismo, igualdade de gênero, a busca pelo sexo livre e a luta contra o feminicÃdio. As letras, tão fortes, tocam em quem escuta, assim como em quem as produz.
"Abaixo o feminicÃdio, abaixo a transfobia" foi um dos gritos de manifestação vindo de cima do palco.
Teve quem chegou mais cedo ao Autódromo de Interlagos para curtir o som de Mulamba, como a professora Giovanna Santos, de 23 anos.
"As letras são muito boas, e por ser uma banda só de mulheres é algo que gostei bastante. Cheguei mais cedo só por causa delas. E chorei na primeira música", comentou.
A conexão entre a força da batida e o conteúdo de cada música é perceptÃvel. Para o público pequeno porém animado que acompanhou o show, era impossÃvel não sentir a emoção das artistas.
"Eu gosto principalmente das letras, como mulher. Elas são pesadas, tristes e lindas. Até meu namorado, quando começou a ouvir, também (ficou impactado). Você sente o impacto, e isso é todo dia para a mulher", disse a designer gráfica Ana Luiza Roman, que ficou e cantou até a última música.
Mulamba pode ter sido a primeira banda a se apresentar no dia, mas para a fã essa era a atração principal.
"No Lolla, na verdade, é o que eu mais estava esperando. Gosto do Blink-182, mas na hora que comecei a pegar firme as músicas delas... nossa."
Ao fim da performance, a vocalista Amanda falou novamente no microfone e transbordou humildade.
"Vocês poderiam estar fazendo algo muito melhor, mas não. Vocês estão aqui. Obrigada de verdade. Quero agradecer a todo mundo, quem está trabalhando, quem filmou, quem cuida da limpeza", citou, deixando também uma crÃtica à s acusações de utilização de trabalho escravo na montagem do festival. "Espero que estejam todos trabalhando com dignidade."
Fonte: Estadão Conteúdo