02/12/2022 16h50
Morre a cartunista Aline Kominsky-Crumb aos 74 anos
A cartunista underground norte-americana Aline Kominsky-Crumb, conhecida por destacar temas feministas e por seu trabalho muitas vezes brutalmente franco, altamente pessoal e autocrÃtico, morreu na terça-feira, 29, aos 74 anos, na França.
Kominsky-Crumb, que era colaboradora próxima de seu marido, o cartunista Robert Crumb, lutava contra um câncer, mas não resistiu. Ela estava em sua antiga casa na França, disse Alexander Wood, administrador do site que vende o trabalho de Crumb.
"Ela era o centro de sua famÃlia e da comunidade", escreveu o site ao anunciar sua morte. "Ela tinha uma enorme quantidade de energia que aplicou em suas obras de arte, sua filha, seus netos e nas refeições que reuniam todos."
Kominsky-Crumb era conhecida pelo trabalho que não era apenas autobiográfico, mas muitas vezes fortemente sexual - focando em suas inseguranças - e explÃcito. Ou apenas atrevido. Uma das primeiras capas da antologia Twisted Sisters - na qual ela colaborou com a também cartunista Diane Noomin - a mostrava sentada quase nua no banheiro, imaginando quantas calorias havia em uma enchilada de queijo.
"As pessoas me disseram: 'Isso é tão ultrajante, como você pode se desenhar sentada em um banheiro?'", disse ela em uma entrevista em vÃdeo em 2019. "Eu disse, 'Eu não sei, parecia natural para mim.'"
Kominsky-Crumb descreveu como influências criativas tanto a arte expressionista alemã quanto a falecida comediante judia Joan Rivers, cujas rotinas de stand-up ela admirava, em parte por sua natureza autodepreciativa. Recentemente, ela também elogiou Lena Dunham e sua série Girls, e afirmou ter ficado emocionada ao saber que Dunham foi influenciada pela arte de Kominsky-Crumb.
O autor Art Spiegelman fez uma conexão semelhante. "Ela tem algo em comum com Lena Dunham, Amy Poehler, Amy Schumer, Sarah Silverman, mulheres que estão tentando lidar com suas identidades de uma forma que não é embelezada", disse Spiegelman, autor de Maus, em um artigo de 2018 no The New York Times. "Elas estão apenas tentando viver e respirar como mulheres com todas as suas contradições. E é uma maneira liberada e libertadora de olhar para si mesmo."
Kominsky-Crumb nasceu em Long Island, no subúrbio de Five Towns. "Ler, desenhar e pintar foram as coisas que me salvaram de uma infância muito difÃcil", disse ela em uma entrevista de 2019, "com pais um tanto duros", acrescentou.
Ela estudou arte em seus anos de faculdade no The Cooper Union, em Manhattan, e mais tarde mudou-se para o Arizona, fazendo bacharelado em artes plásticas na Universidade do Arizona. Ela conheceu Robert Crumb no inÃcio dos anos 1970 em San Francisco, onde se tornou parte do coletivo feminino Wimmens Comix antes de romper com o grupo e começar o Twisted Sisters com Noomin, que morreu em setembro.
A ruptura no coletivo foi entre duas facções com abordagens diferentes, disse ela - aquelas que eram "feministas muito militantes" e outras, como ela, "que eram feministas, mas também gostavam de homens".
Fonte: Estadão Conteúdo