12/10/2016 08h09
Mostra em Paris homenageia um dândi indomável
Em 2000, o centenário do desaparecimento do escritor irlandês Oscar Wilde passou em branco em Paris, no momento em que uma exposição literária e biográfica foi realizada em sua memória na British Library, em Londres. Para muitos de seus admiradores, tratou-se de uma injustiça do mundo cultural francês para com um autor que viveu e morreu na capital, em meio à sociedade que admirava e o inspirava. O erro histórico foi corrigido agora pelo Petit Palais, onde a mostra Oscar Wilde, o Impertinente Absoluto ficará em cartaz até 15 de janeiro, retraçando a vida e a obra do autor de O Retrato de Dorian Gray.
Escritor, romancista, dramaturgo e poeta, Wilde é um dos raros mestres capazes de marcar a literatura com textos originais escritos em duas lÃnguas diferentes, no caso o inglês e o francês. Filho de um médico cirurgião reconhecido na Irlanda, cujo hobby era estudar e escrever sobre a história e o folclore de seu paÃs, e de uma poetiza nacionalista, Wilde nasceu em Dublin em 1854. Seu percurso acadêmico e teórico começou a ganhar forma 20 anos depois, quando recebeu uma bolsa de estudos para o prestigioso Magdalen College de Oxford. Estudante de Letras Clássicas, foi também influenciado por dois professores de História da Arte, Walter Pater e John Ruskin, que ajudaram a fortalecer as bases de seu intelecto.
Mas, foi a partir de sua chegada a Londres em 1880 que o brilhantismo de sua obra começou a aparecer para a opinião pública britânica. Em um percurso cronológico, a exposição explica essa ascensão fulminante de Wilde, primeiro como o crÃtico de arte. Foi por suas mãos que a importância de Grosvenor Gallery, a galeria que começava a promover o "Aesthetic Movement", ganhou reconhecimento, abrindo caminho a um movimento artÃstico que contrastava com a seriedade conservadora da Royal Academy.
Nessa época, Wilde lançou luzes sobre obras de novos pintores e escultores, como George Frederic Watts, William Holman Hunt e Edward Burne-Jones. Assim como fez amigos, Wilde deixou desafetos à medida em que atacou reputações, como a do simbolista e impressionista James Whistler. Com uma pequena série de textos controversos, Wilde construiu seu nome em torno de uma reputação de escritor independente e indomável.
Essa fama incipiente de esteta, crÃtico e teórico, seu gosto crescente pela celebridade e pelo espetáculo e a necessidade de ganhar dinheiro levaram o artista a Nova York, em 1882, para uma série de conferências sobre o conceito de beleza e as artes decorativas. Esse percurso, marcado pelo reconhecimento no meio intelectual, está registrado na exposição por meio de fotografias em que revela seu estilo dândi, como Portrait dOscar Wilde #26, de Napoleon Sarony.
Mas, foi no seu retorno à Europa que sua carreira como escritor e poeta decolou. Em 1888, publicou o conto O PrÃncipe Feliz e, no ano seguinte, um ensaio filosófico, O DeclÃnio da Mentira, uma obra que o consolidou como escritor, ensaÃsta e conferencista, fama que culminaria com a publicação de seu único romance, o sucesso mundial O Retrato de Dorian Gray, em 1891. Seus demônios aflorariam pouco mais tarde, com sua perseguição pelo Ministério Público e sua condenação a dois anos de trabalhos forçados pela Justiça por "atos obscenos", a pena em que incorreu por sua homossexualidade "atestada por testemunhos", então um crime. "Uma boa reputação", ironizou, "é uma das inúmeras contrariedades à s quais eu nunca fui submetido".
Ao sair da prisão, Wilde exilou-se em Paris, onde viveu até morrer, três anos depois, em 1890. Rica, a exposição organizada por Dominique Morel, curador-chefe do Petit Palais, e por Merlin Holland, conselheira cientÃfica, explica essa trajetória por meio de mais de 200 peças, entre documentos raros ou inéditos, manuscritos, fotografias, desenhos, caricaturas, objetos pessoais e telas vindas do Reino Unido, dos Estados Unidos, do Canadá, da Itália e de diferentes acervos e coleções privadas. Uma primeira digna homenagem de Paris - bem mais rica do que uma mera visita a seu túmulo no Cemitério Père Lachaise. Enfim, a França faz jus ao dândi indomável.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo