27/11/2014 11h35
Musa de 'O Carteiro e o Poeta' promove festival em SP
Maria Grazia Cucinotta é a primeira a ironizar seu status de estrela. Ela posa para fotos na piscina de um hotel de luxo da Paulista e diz que, daqui a pouco, já vai parar de bancar 'La Cucinotta'. Como? "Vou tirar esses sapatos altos, colocar uma roupa mais confortável. Quero ir à s compras. Qual mulher não gosta de ir à s compras?" Maria Grazia fez o que não deixa de ter sido um sacrifÃcio pessoal para vir à abertura da 10ª Mostra de Cinema Italiano, segunda-feira, 24, à noite no Auditório Ibirapuera. Tomou um avião pela manhã em Roma, fez conexão em Amsterdam e, à noite, chegou de helicóptero ao Ibirapuera para saudar o público.
Linda - passaram-se 20 anos, mas ela ainda reproduz o impacto que produziu ao estrelar O Carteiro e o Poeta, de Michael Radford, baseado no livro de Antonio Skármeta. 'Scusi', ela corrige o repórter. "O filme era de Massimo (Troisi), Radford minimizou o aporte dele após a morte do meu amigo. Ma lascia stare... Passou", diz. Há pouco, no Festival de Roma, houve uma homenagem aos 20 anos do Carteiro - e da morte de Massimo Troisi. O filme foi exibido numa versão restaurada. "Tivemos um segundo tapete vermelho, e eu fiz aquele percurso chorando. Tinha 23 anos, mas ainda era uma bambina. Vinha da SicÃlia, da proteção familiar. O Carteiro, e Massimo, me abriram um novo mundo. Não sabia nada de nada. Transformei-me."
Agora, aos 43, e ainda uma linda mulher, ela veio a São Paulo para a pré-estreia de La Moglie del Sarto/A Mulher do Alfaiate. O filme de Massimo Scaglione abriu a mostra italiana para convidados e hoje ganha a primeira sessão para o público. É sobre essa calabresa que herda a alfaiataria do marido, que morre de repente, e tem de lutar porque os poderosos locais querem expulsá-la do lugar. A alfaiataria possui uma vista privilegiada, sobre um platô do qual se descortina o mar, e ali daria um excelente empreendimento imobiliário - um grande hotel, um resort. A viúva resiste.
Inicia-se uma campanha para desmoralizá-la. "É uma linda história de resistência. Faço uma mulher vivida, forte, que não se intimida. E sou mãe - faço um belo sacrifÃcio que uma mãe pode fazer por sua filha. Ela não pode ter filhos, eu vou parir por ela."
É evidente que a personagem mexeu com a atriz. Ela conta. "No fundo, tive sorte. Massimo (o diretor) teve problemas com a atriz que foi sua primeira escolha. Ela não queria fazer uma mãe, e mais que isso uma avó. Eu não tenho problemas com a idade. Fazer a velha não me assustou, o importante é que o papel era bom." Como, velha? O repórter observa que ela segue deslumbrante, e ali está o decote generoso que não deixa mentir. A entrevista realiza-se sob o olhar vigilante do marido. "Estamos juntos há 20 anos, desde três meses antes de Il Postino. Foi o melhor ano da minha vida. Ganhei um papel com o qual mal podia sonhar e um marido que até hoje é meu companheiro querido."
E ela conta que é preciso um companheiro assim para dar conta de suas múltiplas atribuições. Enumera - "Ser mãe, atriz, produtora, dona de casa e La Cucinotta pode ser desgastante. Sem ele não sei o quer faria." O sucesso de O Carteiro e o Poeta a levou a Hollywood, onde viveu por dez anos. Foi sua escola profissionalizante. "Fiz uma grande amiga, Barbara Broccoli (a produtora de James Bond). Duas mulheres foram muito importantes para mim - Barbara e Geraldine Chaplin. É encantadora." O repórter concorda porque, afinal, entrevistou Geraldine duas vezes nos últimos meses. "Você sabe do que estou falando, então", ela arremata. Uma última observação. A paisagem de A Mulher do Alfaiate é deslumbrante. "Fica na Calábria. Conheço bem a região.
Passava muito de trem por ali. Viajei bastante pelo mundo, mas nada substitui aquela paisagem." E Maria Grazia conta que volta sempre a Messina, na SicÃlia - "Minha mãe mora lá. Está velhinha, mas não sonha em partir. Eu é que volto. São raÃzes muito fortes."
Fonte: Estadão Conteúdo