24/12/2014 11h10
Nem o herói é perfeito em 'Caçada Mortal'
Assim como o tÃtulo original de O Mensageiro - Kill the Messenger permite uma leitura mais interessante do longa de Michael Cuesta em cartaz no PaÃs, o de Caçada Mortal também mostra como as diretrizes de mercado podem trair as intenções de uma obra. O tÃtulo Caçada Mortal é sob medida para explorar a nova popularidade do irlandês Liam Neeson como herói. Nos últimos anos, ele tem protagonizado filmes de sucesso que esculpiram sua persona de astro de ação. Mas Neeson é ator dramático, e dos bons.
Caçada Mortal tem um tÃtulo muito mais ambivalente no original - A Walk Among the Tombstones, Caminhando entre as Lápides. Não parece muito de acordo com a ideia de um brucutu armado e vingativo. Tem tudo a ver com a série de romances policiais de Lawrence Block, centrados no personagem de Matthew/Matt Scudder (e com o livro que também ganhou esse tÃtulo no Brasil). Alcoólatra, o ex-tira que perdeu a licença virou investigador particular. Logo no inÃcio, uma ação sucinta expõe seu caso. Ele bebe num bar, ocorre um assalto, Scudder sai disparando, mata dois assaltantes e deixa o terceiro paralÃtico. Há mais alguma coisa, e é o tormento de Scudder - aquilo que não vemos nem sabemos de imediato, mas que o persegue.
Nosso homem é contratado por um traficante para descobrir quem matou a sua mulher com requintes de crueldade. A ligação com o tráfico torna o herói objeto de escárnio da polÃcia, mas é ele quem faz as conexões que escaparam a seus antigos colegas. Uma dupla está matando mulheres. Usa a mesma técnica, sequestro com pedido de resgate, mas a vÃtima só reaparecerá morta.
Considerando-se como as armas são importantes para os norte-americanos, o filme surpreende pelo discurso do herói contra elas (o que não o impede de usá-las). Esse olhar crÃtico é coisa de Scott Franck, que é roteirista, e bom. Escreveu um filme ambicioso de Steven Spielberg sobre métodos policiais, Minority Report - A Nova Lei, e até obras mais pops como Wolverine: Imortal e Marley e Eu. Franck desenha seus personagens com intensidade. Ninguém, muito menos o herói, é perfeito. Scudder pode se envolver numa caçada mortal, mas seu passeio é muito mais entre as lápides de um cemitério.
Fonte: Estadão Conteúdo