23/05/2016 11h42
Novo 'X-Men' tem efeitos demais para um roteiro ralo
O inÃcio recorda (ou cita) o clássico fechamento da pirâmide de Terra de Faraós, de Howard Hawks. Com a diferença de que a computação gráfica, se faz tudo mais fácil, também torna tudo artificial. Claro, cinema é artifÃcio. Sempre foi, ao menos desde Méliès. Mas, em boa parte das vezes, é artifÃcio que deseja esconder sua origem. ArtifÃcio que deseja passar por verdade.
Mas a que "verdade" pode aspirar um filme de super-heróis? Ora, trabalha-se aqui no campo da fantasia. Mas nem por isso essa fantasia pode se deixar ao luxo de funcionar sem estar atada, ainda que de leve, a certos princÃpios humanos básicos. Assim, os superpoderes podem ser, de um lado, o que mais atrai os fãs desse gênero. Mas o que pode dar algum fundamento aos "heróis" oriundos dos gibis são suas humanas fraquezas, quando não suas contradições. Suas limitações. Estas, digamos assim, fissuras, funcionam como âncoras, a emprestar credibilidade a uma trama que, de outra forma, não teria nenhuma.
Daà o relevo que se dá a um personagem contraditório como Magneto (Michael Fassbender), que perde a famÃlia e, como consequência, oscila entre o bem e o mal. Também não é à toa que, lendo os textos positivos sobre o filme seja sobre este personagem, e sua situação ambivalente, que os crÃticos mais se detêm. Não é difÃcil explicar. É que no personagem se concentra o material possÃvel para encarar essa história como algo mais que um divertissement visualmente impactante. É pena, porém, que essa complexidade se mostre tão restrita no projeto de Bryan Singer. De fato, bem esmiuçada, não passa de mero detalhe. A ênfase, sem dúvida, é sobre a ação. E sobre uma ação turbinada por efeitos de computação e muito trabalho de som. Basicamente, X-Men: Apocalipse é isso. Uma soma infindável de lutas e destruições no combate dos heróis a En Sabath Nur, vulgo Apocalipse (Oscar Isaacs, irreconhecÃvel sob a maquiagem espessa).
Ele desperta da sua catalepsia ancestral para um mundo dominado por superpotências equilibradas pelo terror nuclear. Como adicional à s ações dos heróis, uma agente da CIA, Moira (Rose Byrne) marca presença. É outra tentativa de diálogo, portanto, entre o mÃtico, o imaginário depositado de forma primeira nos gibis e depois transpostos à tela, e a realidade dos anos 1980, era à qual aporta o Apocalipse recém-desperto.
Essas fusões podem soar como "samba do crioulo doido" (ver Sérgio Porto, ou Stanislaw Ponte Preta, por favor), caso fossem para ser levadas a sério. Mas não é bem assim. Com o visual lembrando às vezes o de escolas de samba do Grupo 2, o filme parece bastante deficitário em especial num ponto: o roteiro.
Nele, não se vê qualquer traço de criatividade. Menos ainda da complexidade, ainda que hipotética, que se encontra nos melhores exemplares da ficção cientÃfica -, porque X-Men pretende, também, estabelecer conexões com este gênero. Mas o faz de maneira bastante precária, pois não consegue criar verossimilhança interna, tornar crÃvel o que seria apenas da ordem da hipótese cientÃfica (como, por exemplo, viagens no tempo).
Desta forma, a preguiça conceitual e a vocação de rotina dos blockbusters impõem sérias limitações ao projeto. O roteiro parece servir apenas de gancho para a torrente de efeitos especiais e destruição, enquanto atores e atrizes talentosas (como a gracinha Jennifer Lawrence) cumprem tabela numa produção aquém de suas possibilidades. Mas devem ter ganho um dinheirão. Para resumir: X-Men é muito barulho por nada.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo