18/04/2018 07h40
O ano misterioso de Ernesto Che Guevara
O ano de 1965 é uma espécie de buraco negro na biografia de Ernesto Guevara. Uma das figuras mundiais mais notórias, desde a Revolução Cubana de 1959, o Che parecia ter sumido do mapa. Na verdade, preparava-se para outras aventuras revolucionárias, na Ãfrica e, depois, na BolÃvia. Em Che, Memórias de Um Ano Secreto, a diretora Margarita Hernández procura levantar o que foi esse último tempo de vida do guerrilheiro, morto em 9 de outubro de 1967, na BolÃvia, quando tentava implantar uma guerrilha no paÃs.
A ideia inicial de Margarita era fazer um documentário sobre um certo Dr. Luis Carlos Garcia Gutiérrez, que todos conheciam pelo apelido de FisÃn. FisÃn era um dentista de celebridades nos tempos do ditador Fulgêncio Batista. Era quem remodelava a dentição dos ricos e famosos e também o sorriso das coristas do Tropicana.
FisÃn aderiu à Revolução, tornou-se membro do Partido Comunista e, o que poucos sabiam, funcionário do Serviço Secreto cubano. Foi designado para "disfarçar" o Che, que precisava se deslocar pela Europa depois do fracasso da guerrilha no Congo, voltar incógnito a Cuba e preparar-se para a campanha na BolÃvia. FisÃn esteve com o Che na Ãfrica e na então Checoslováquia, e o deixou irreconhecÃvel. Cortou as melenas famosas do guerrilheiro e raspou sua barba. Providenciou óculos de fundo de garrafa e saltos para que parecesse mais alto. Toque final na obra-prima, uma prótese dentária que tornava a mandÃbula proeminente e arrebitava o nariz. Nem os auxiliares mais Ãntimos do Che o reconheciam. Sua mulher foi visitá-lo e estranhou aquele homem que se dirigia a ela com tanta intimidade.
O rumo do documentário foi previsto pelo próprio FisÃn. "Você vai começar a fazer um filme comigo e vai terminar fazendo um sobre o Che", disse. Dito e feito. Jamais o Che poderia entrar como coadjuvante em filme de que fizesse parte.
Além da presença de FisÃn, o filme é muito revelador. Inclui depoimentos de agentes secretos que acompanharam o Che em seus últimos percursos.
Testemunharam o fracasso da campanha no Congo, em ambiente hostil e pouco propÃcio à revolução. E o desfecho na BolÃvia, quando Guevara não recebeu apoios que esperava e viu-se sozinho em território inóspito.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo