07/10/2020 14h32
Palco em Paraisópolis
Um tambor, cujo som remete à s batidas do coração, ecoará por meio dos bits e bytes virtuais nas redes sociais pontualmente à s 18 horas neste sábado, 3. Esse som, um ijexá, ritmo dos blocos de afoxé da Bahia, será tocado pela percussionista Simone Sou em parceria com o professor Acácio Reis e os alunos da escola Unidos de Paraisópolis. A dupla dará inÃcio à live-filme Inspira: Quem jamais te esqueceria, um roteiro com a participação de 24 atrações, entre grandes nomes da música brasileira, escritores, pensadores e artistas do bairro de Paraisópolis. Serão cerca de duas horas de filme, entre as atrações gravadas e as participações ao vivo.
A lista é extensa e nela constam nomes como: Gilberto Gil, Chico César, Maria Gadú, Orquestra Filarmônica de Paraisópolis, Francis e Olivia Hime, Elza Soares e Flávio Renegado, entre muitos outros. O evento também contará com a presença da atriz Clarice Niskier, do escritor Milton Hatoum e do fotógrafo francês Yann Arthus-Bertrand que, além da participação na live, expõe sua célebre série de fotografias aéreas do planeta alertando para a destruição da Terra. Grandes painéis fotográficos podem ser vistos pelos corredores do Pavilhão de Paraisópolis, um ponto de encontro no bairro essencial nestes meses de isolamento social e combate à pandemia.
O projeto da live, sem fins lucrativos, é fruto do trabalho do produtor cultural Carlos Netto, ex-diretor de estratégia e recursos humanos do Banco do Brasil. Nos tempos de banco, Netto organizava o seu Inspira, uma série de bate-papos presenciais (pré-pandemia) e histórias de vida dos funcionários da empresa, que se tornou o embrião do que vem fazendo agora, em versão virtual e fora da instituição financeira, com parcerias de comunidades de todo o Brasil, como a favela da Maré, no Rio de Janeiro, cuja live foi exibida em junho, e Paraisópolis, neste fim de semana.
Na tarde da segunda-feira, 28, Carlos Netto esteve com uma pequena equipe pelas ruas de Paraisópolis captando as últimas imagens para tecer essa colcha de retalhos de depoimentos, narrativas e músicas. Boa parte do conteúdo já foi pré-gravada e passou na última semana por edição. "Queremos um projeto que estimule a reflexão nas pessoas. Mostrar esse Brasil bonito, esses bons exemplos de lugares como a Maré e agora Paraisópolis.
As pessoas precisam de uma janela de esperança", diz o produtor, que tem planos de levar em breve seu Inspira para outras cidades como Recife e Belém do Pará.
Uma parte do dinheiro arrecadado por meio da doação dos expectadores da live em uma conta própria, aberta pela comunidade, servirá para a construção de uma escola de teatro. A ideia da escola partiu do coordenador da rádio comunitária, Daniel Silva Cristóvão. "Já gravaram novela, documentário, tanta coisa por aqui, e nunca vi um ator de Paraisópolis participando. É hora de dar um basta de sempre ser figurante, nunca protagonista", diz o jovem nascido e criado no bairro. A outra parte da verba será usada para a compra de cestas básicas.
"Falando o português claro, há muita gente passando fome por aqui, que perdeu o emprego neste perÃodo de pandemia", acrescenta Daniel.
Com o tÃtulo Quem nunca te esqueceria, refrão da música Terra, de Caetano Veloso, a presença do cuidado com a natureza, com as matas, os rios e os oceanos permeia todo o filme. O roteiro foi feito em parceria com a atriz Clarice Niskier, que resume em uma frase o objetivo do projeto: "Um grande ritual de ressignificado do que é ser vivo".
Parcerias como a do maestro João Carlos Martins, que foi até Paraisópolis semanas atrás gravar uma música com a presença do casal de bailarinos Mariana Farias e Luiz Fabiano Dias, alunos do Ballet de Paraisópolis, enchem os olhos. Um piano de cauda foi levado até o mezanino do Pavilhão, numa "operação de guerra", segundo as palavras do próprio maestro.
Nele, João Carlos dedilhou, com o apoio de suas luvas biônicas, a belÃssima e pouco conhecida Playing Love, do compositor Ennio Morricone. "Quando vejo jovens como a Mariana e o Fabiano, com a qualidade da apresentação deles, sonhando com a Academia de Ballet de Londres, é porque algo deu certo neste paÃs. Nos traz esperança", completa o maestro, ele também um exemplo de resiliência.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo