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Variedades
15/07/2016 10h20

Palhaços narram batalha pela arte em cenário com som eletroacústico

Ao fim de cada número acrobático ou de mágica apresentado nos velhos circos, uma onda de aplausos costuma encher a tenda. Esse som produzido coletivamente se distingue com o barulho de uma única pessoa batendo palmas. Agora, imagine o som da batida de duas mãos executado ao contrário. Essa foi parte da alquimia sonora engendrada no espetáculo Adeus, Palhaços Mortos, que estreia nesta sexta-feira, 15.

A montagem da Academia dos Palhaços utilizou a peça Um Trabalhinho para Velhos Palhaços, do romeno Matei Visniec, sobre um trio de artistas circenses que se deparam com o fim de suas existências, de suas carreiras e da própria arte. O enredo veio a calhar já que o projeto itinerante da companhia virou cinzas no ano passado: a perua Kombi que servia de palco e armazenava cenários e figurinos sofreu um problema mecânico e se incendiou. O episódio também desmanchou o elenco. Dos cinco atores, dois deixaram a companhia. Os sobreviventes decidiram encarar a obra de Visniec como uma revisão da trajetória da companhia, explica Rodrigo Pocidônio. "Foi uma forma de refletirmos sobre o fim da companhia e esse recomeço", diz o ator. O projeto original viajava com o automóvel que se tornava palco de apresentações com palhaços e outras típicas do teatro popular.

Nessa nova empreitada, ao lado de Laíza Dantas e Paula Hemsi, a peça ganha um novo e irônico enredo. Três artistas circenses se reencontram, acidentalmente, em uma agência de empregos. A única vaga disponível fará com que cada um use suas melhores gags cômicas para trapacear o adversário. O diretor José Roberto Jardim ficou responsável por sofisticar as chamadas piadas físicas. "Havia muitas no texto original, mas elas eram bem infantis, como quando um palhaço chuta o outro."

O próximo passo foi criar o ambiente destinado a esses palhaços mortos. Com desenhos que aludem a cortinas e picadeiros de circo, as imagens criadas são projetadas nas três telas que formam um semiquadrado - a face oposta à plateia não existe e serve de entrada e saída para os atores.

Dentro desse cubo mágico vale tudo. Cheio de luzes, as cenas começam e terminam com cortes secos. Os atores só têm tempo para executar suas posições estáticas quando, em seguida, o cubo se apaga. Quando as luzes se acendem, o elenco está em outra posição. "São como os frames de um filme. O movimento típico dos palhaços fica congelado", diz Pocidônio.

Para acompanhar esse espetáculo em mosaico, os aplausos não poderiam faltar, o que, nesse caso é no singular. Durante os ensaios, o diretor usava instrumentos de percussão para marcar a transição de cenas. A sugestão do diretor musical Tiago de Mello foi substituir o instrumento manual por um som artificial. "Usei uma bateria sintética dos anos 1980 para isolar o som de uma palma", conta.

De posse do som, Mello consegue reverberar o ruído, executá-lo ao contrário e fazer outras distorções sonoras, como os glitchs, sons característico de falhas de comunicação em um sistema. "É para criar a sensação de um lugar deslocado, com um som que fica suspenso." Ele conta que, com as imagens, são mais de 500 goals efetuados no espetáculo, ou seja, combinações entre áudio e imagem. Diante de tantas coisas que acontecem no palco, Mello ressalta não ver quase nada. "São mudanças muito rápidas, eu fico com a atenção voltada para as falas. Não tenho chance de parar para assistir."

Para o diretor, o cubo reforça a ideia de um não lugar, que não está sob um fuso horário convencional. "São informações estéticas que se cruzam, se acumulam e criam essa ilusão."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Estadão Conteúdo
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