11/04/2021 07h10
Plano de formação musical ajuda comunidades
Em tempos de pandemia, a música tem sido espaço de refúgio e de conforto para pessoas no mundo todo. E, em alguns casos, mais do que isso. O Instituto Baccarelli, baseado em Heliópolis, em São Paulo, e o Neojiba - Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia, projetos de formação musical brasileiros, lançaram campanhas de arrecadação para ajudar as comunidades em que trabalham a lidar com um grave problema: a fome.
"O instituto nasceu, há 25 anos, com o sentido único de ajudar Heliópolis. E a ferramenta que utilizamos é a música", diz Edilson Ventureli, diretor da entidade. "No entanto, durante a pandemia, vimos que o desemprego e a fome chegaram de maneira muito forte na comunidade. E ficou claro que era dessa forma que precisávamos também ajudar as famÃlias de nossos alunos. Então mobilizamos nossa estrutura fÃsica e de contatos para ajudar nesse sentido."
Ao longo de 2020, foram distribuÃdas quatrocentas toneladas de alimentos, doze mil marmitas, mais de mil botijões de gás, além de produtos de higiene. "De outubro para cá, as doações caÃram muito. E, em março, com o recrudescimento da pandemia, voltamos a investir nossos esforços na campanha Tocando Juntos por Heliópolis. Até agora, foram arrecadadas 1.300 cestas básicas e R$ 60 mil em dinheiro." Mais informações sobre como doar podem ser encontradas no site https://institutobaccarelli.doareacao.com.br/campanha/tocando_juntos_por_heliopolis/.
Na Bahia, por onde se espalham os núcleos do Neojiba, o diagnóstico foi parecido, conta o maestro e pianista Ricardo Castro, diretor do projeto. "Nós lidamos com populações com várias vulnerabilidades, entre eles a econômica", explica. Levantamento interno mostra que, entre as famÃlias dos integrantes do projeto, 80% têm renda de até três salários mÃnimos e que, destas, 31% têm renda de até um salário mÃnimo e 10%, de ate meio salário mÃnimo.
"Ao longo de 2020 oferecemos todo o atendimento psicossocial e pedagógico a essas famÃlias, mas a situação no inÃcio do ano nos mostrou que precisávamos ir mais a fundo, utilizando a força da instituição para levantar dinheiro para a compra de cestas básicas", diz Castro. "Trabalhamos com a formação integral do indivÃduo. E entendemos que, como uma entidade financiada também pelo Estado, temos que ajudar. Nosso DNA é solidário. Todas as instituições musicais brasileiras, que têm seu sustento garantido, com salários pagos mensalmente, deveriam estar trabalhando para dar um retorno mais efetivo à sociedade nesse momento em que estamos vivendo." Informações sobre como doar estão no site https://neojiba.org/.
Tanto o Baccarelli quanto o Neojiba seguiram, durante a pandemia, também com o trabalho de formação musical. Na última quinta-feira, 8, o projeto baiano lançou o Neojiba Sem Fronteiras, com quinze cursos diferentes que serão oferecidos de forma gratuita a qualquer pessoa interessada. "Temos um material humano e tecnológico de enorme valor e então fomos buscar maneiras cada vez mais amplas de compartilhar essa experiência com a comunidade", diz Castro. O projeto, lembra o maestro, é um MOOC, que em inglês significa Massive open on-line course (curso on-line aberto massivo, em tradução livre).
Em Heliópolis, as aulas foram realizadas de modo remoto no ano passado, dentro do projeto batizado como Conexão Heliópolis, incluindo master classes abertas não apenas aos alunos do instituto com mais de cem professores brasileiros e de fora do Brasil, além do ensino remoto semanal de musicalização, canto coral e prática de instrumentos para crianças.
As aulas retornaram presencialmente em fevereiro deste ano, mas, desde o inÃcio de março, com a entrada do estado de São Paulo na Fase Emergencial, voltaram para o ambiente virtual. "A experiência online nos deu lições importantes", explica Ventureli. Para ele, a internet ofereceu a possibilidade dos professores entrarem na casa das crianças e envolverem toda a famÃlia no processo de aprendizado. "Em diversos momentos, pudemos ver toda a famÃlia participando das aulas, ajudando a segurar a partitura, a filmar, assistindo juntas as apresentações. Isso nos deu a certeza de que a música também ajudou a cuidar dessas famÃlias." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo