06/08/2017 11h09
Por decisão de Veríssimo, 'Família Brasil' deixa de ser publicada todo domingo
A FamÃlia Brasil está saindo de cena - se não definitivamente, a tira de Luis Fernando Verissimo deve aparecer bem menos do que o normal. Publicada desde 1988 pelo jornal O Estado de S. Paulo, a tira do autor gaúcho não terá mais periodicidade definida.
O autor interrompe a FamÃlia numa ocasião parecida à quela em que 'matou' a Velhinha de Taubaté, outro personagem célebre de sua lavra, em 2005: em meio a uma crise polÃtica acentuada.
Verissimo, porém, não fala sobre isso quando se refere à decisão. "A razão para parar de fazer a FamÃlia Brasil é só uma prosaica vontade de trabalhar menos", diz o autor. "Minha ideia é, de tempos em tempos, mandar um desenho para a coluna, como ilustração ou cartum."
Da FamÃlia Brasil fazem parte um pai de profissão desconhecida, a mãe dona de casa, um filho adolescente, uma filha e seu namorado (o Boca) e um neto, da classe média de um PaÃs que, talvez, já não exista mais. A série virou um livro, em 2005, As Aventuras da FamÃlia Brasil, publicado pela Objetiva. O trabalho, como tudo que Verissimo faz, é reverenciado por fãs, colegas e profissionais.
Ziraldo faz uma comparação com a obra de Millôr Fernandes. "O Verissimo nunca faz uma piada pela piada", diz o cartunista de 84 anos. "Nunca vi o Millôr escrever uma frase vã, qualquer piada tinha uma profundidade arrasadora. Ele passou a vida toda sozinho, ninguém o alcançou nesse contexto. Aà de repente aparece um cara lá do Rio Grande do Sul que nem estava pensando nisso. E tudo que ele fala tem profundidade - ou quase tudo, para não comparar o Millôr", ri. "O Verissimo é f., é impressionante." Para Ziraldo, a FamÃlia Brasil representa a facilidade "extraordinária" do autor gaúcho para perceber o que acontece ao seu redor.
Para o quadrinista e historiador André Toral, a coincidência entre a pessoa de Verissimo e sua expressão gráfica é o que chama a atenção. "Um homem discreto, calmo e inteligente que gosta de jazz, cria um humor fino, algo cÃnico e sempre trazendo a perplexidade do cidadão comum com a polÃtica e com o nosso tempo", diz. "Que pena o fim da FamÃlia."
A quadrinista e chargista gaúcha Fabiane Langona (antes conhecida como Chiquinha) relata que essa persona e a obra de Luis Fernando Verissimo fazem "parte da formação basal de grande parte dos viventes" no Rio Grande do Sul. "Lembro do quão intrigada fiquei nessa época (ao descobrir os desenhos do autor), quando percebi que um cartunista não precisa, necessariamente, desenhar eruditamente para ser genial", diz a autora.
Outro autor gaúcho, Allan Sieber, diz também sempre ter gostado dos desenhos "sem malabarismos" de Verissimo. "A FamÃlia Brasil é uma classe média que não existe mais na nossa cansada pátria", ressalta ainda.
O paranaense Benett - que gentilmente cedeu o desenho homenagem que ilustra essa página - também lamentou a notÃcia da interrupção da tira. "É melancólico não ter mais essa tira, especialmente nesse momento sombrio que o PaÃs está vivendo. Mas não sei se ela era desse tempo mesmo. FamÃlia Brasil tem um humor refinado demais para essa era de discursos tão agressivos", diz Benett. "FamÃlia Brasil acaba num momento em que descobrimos que a classe média não era uma coisa tão fofa e simpática como imaginávamos. Talvez o próprio VerÃssimo tenha se dado conta disso."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo