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03/11/2015 17h51

Sam Smith lança nova canção 'Drowning Shadows'

Existe uma ligação direta, musicalmente falando, entre os ingleses Adele e Sam Smith. Dela para ele, que isso fique claro. No dia 23 de outubro, a cantora lançou "Hello", uma balada com a assinatura dela, peso e dor, tudo o que poderia se esperar de um retorno de alguém com dez gramofones do Grammy na estante de casa, conquistados com apenas dois discos. Smith é um fruto desse sucesso. Foi, inclusive, laureado em quatro categorias dessa mesma premiação. Nesta terça-feira, 3, ele também lança uma nova música, Drowning Shadows, classificada por ele como "a mais triste canção já composta" por ele.

O lançamento se deu no programa de Zane Lowe, na Beats 1 (rádio por streaming que está incluída no serviço oferecido pela Apple Music). Depois de exibir a faixa que estará na versão de luxo do álbum de estreia do britânico, In the Lonely Hour, o músico explicou que a canção é, assim como grande parte da leva que está presente no álbum, bastante pessoal. "Sinto muito se você está tendo um dia feliz. Talvez essa história entristeça você um pouco", disse Smith a Zane Lowe.

É a solidão que inspirou Smith a compor Drowning Shadows. Assim como foi o término com um ex-namorado que o fez criar outros hits certeiros do seu ainda diminuto repertório, caso de Stay with Me, I'm Not the Only One e Lay Me Down. Estes três petardos sombrios que deixaram alguns corações em frangalhos na sua passagem pelo Rock in Rio, em setembro.

A linha que conecta ainda mais diretamente Adele e Smith é a mesma: o término, o gosto amargo deixado na boca após ver alguém partir e nunca mais voltar. Adele popularizou um novo soul com sotaque britânico, que busca inspirações nas cantoras norte-americanas, mas atualiza a roupagem, opta-se por versos mais diretos e extravasa a dor pelo gogó. Smith só existe, hoje, como figura importante e popular da música britânica porque 21, segundo álbum de Adele, veio como um arrasa-quarteirão, liderando o topo de discos mais vendidos por dois anos seguidos.

Isto posto, Adele atualiza seus versos ainda extremamente melancólicos de Hello para sua nova vida. Em 21, ela chorava o amor perdido. Em Hello, que virá no novo disco a ser lançado neste ano, há um tom de reconciliação, retorno, na sua voz. Smith, por sua vez, faz o contrário.

A faixa, contou ele, nasceu ainda antes da trinca já citada acima. E mostra como ele, como compositor, ainda deveria evoluir para encontrar as sutilezas de Lay Me Down, por exemplo. O inglês é daqueles letristas imagéticos. É fácil deslizar para dentro da sua persona enquanto se ouve a voz doce e de alcance invejável. Seus versos costumeiramente encharcados de melancolia encontram o sentimento de solidão em Drowning Shadows.

E a solidão nos afoga. Afoga Smith também. O deixa sem ar - ou sem fôlego para ser delicado. O embebeda. Ele canta na faixa sobre a encruzilhada. "Ir para casa, para o nada" ou "fico para mais"? Ir para a escuridão vazia daquele espaço que se chama de lar ou perder-se em mágoas, copos e garrafas vazios, corpos quentes e corações frios?

O dilema de Smith é dolorido, é claro, mas é um dilema do medo. A ideia de voltar para casa e não encontrar o amado o perturba. Ainda não passou pelos outros processos de luto de um fim de relacionamento. Nega o encontro com o nada. O vazio é aterrorizante naquele momento.

Esteticamente, piano e pequenos trechos de cordas conduzem Drowning Shadows, enquanto a voz de Smith sobe para seus agudos desesperadores - e que já deram tão certo em outros tempos. Smith diz essa é a canção mais triste já escrita por ele. Talvez, para ele. O medo de encarar o buraco no peito, o escapismo direto para amores de uma noite e copos de bebida, é mais aterrorizante do que triste. Para o ouvinte, sobretuto. A melancolia que se ouve no disco In the Lonely Hour é rústica em Drowning Shadows.

Testemunhamos a versão inacabada de Smith de hoje. Um cantor enterrado pela própria solidão - e isso nem sempre é bom.

Fonte: Estadão Conteúdo
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