30/06/2016 21h18
'UPPs estão em colapso e aguentam até a Olimpíada, diz Misha Glenny na Flip
Em dois momentos desta quinta-feira, 29, o jornalista inglês Misha Glenny revelou sua preocupação com a situação da violência no Rio de Janeiro após a OlimpÃada, que será realizada em agosto - pela manhã, em entrevista coletiva, e à tarde, quando dividiu uma mesa de debate com o repórter Caco Barcellos. "As UPPs (Unidades de PolÃcia Pacificadora) estão em colapso: aguentam até os jogos, mas, depois, não há nenhuma certeza pois o corte no orçamento da segurança no Rio foi muito grande", disse ele, autor de O Dono do Morro (Companhia das Letras), sobre o traficante Nem da Rocinha.
A informação alarmante foi complementada por Caco Barcellos, que veio a Paraty lançar o livro Profissão Repórter (Planeta), sobre os dez anos do programa de sucesso - ele, aliás, ficou mais de duas horas autografando a obra. "Nenhuma guerra recente ocorrida no mundo vitimou mais pessoas que os assassinatos acontecidos anualmente no Brasil", disse ele, lembrando a cifra de 50 mil mortes por ano. "É a pior guerra do mundo."
Barcellos comentou que, tão grave como a cifra, é a reação que isso provoca na sociedade brasileira. "Isso já não choca mais porque quem tem voz ativa nas transformações sociais não é atingida por essa marca, restrita às classes mais baixas."
Habitual frequentador do Brasil - chegou a morar três meses na Rocinha para poder escrever seu livro -, Glenny apontou exemplos que explicam a evolução da tragédia social nacional. "Quando vim aqui pela primeira vez, em 1982, as taxas de homicÃdios do Rio de Janeiro eram iguais à s de Nova York. Em 1989, os números cariocas eram três vezes maiores que os americanos. A explicação está no aumento do consumo de cocaÃna e na consequente guerra entre lÃderes da droga."
Em sua vivência na Rocinha, Glenny notou que a UPP só tem o controle da periferia da favela. "Lá dentro existe um poder paralelo, onde as pessoas andam armadas e a droga é livremente comercializada." Segundo ele, Nem foi esperto ao promover a paz na favela, o que atraiu mais consumidores.
Fonte: Estadão Conteúdo