20/10/2017 09h10
Vaias, aplausos e a noite marcou uma firme tomada de posição
Uma hora de atraso, uma hora de discursos dos patrocinadores e apoiadores e só depois dessas duas longas horas começou, de fato, a 41.ª Mostra, na quarta à noite, 18, no Auditório Ibirapuera. O longa de Ai Weiwei, Human Flow - mais de duas horas de duração -, foi precedido pela vinheta do evento, outro trabalho tecnicamente impecável, mas que é preciso confessar - aquele aperto de mãos pode ter um significado imenso como abertura para o outro e tentativa de entendimento, mas não oferece muita margem para uma animação.
Renata de Almeida e Sérgio Groisman foram, como tem sido a regra nos últimos anos, os apresentadores. Ela teve de administrar o que poderia ter virado nova vaia monumental contra o secretário municipal de Cultura, André Sturm. Usando de suas prerrogativas, e com autoridade, Renata interrompeu a vaia de parte do público, dizendo que o recado já havia sido entendido, mas que deixassem o secretário falar. Não faltaram, também, gritos de "Fora, Temer", mas houve contrapartidas. A diretora-presidente da Ancine, Débora Ivanov, foi saudada com gritos de "Bravo!" quando prometeu lutar pela MP que favorece a indústria do cinema e tem estado na mira do presidente.
A inauguração da Mostra é sempre um acontecimento que reúne o meio artÃstico. Entre os inúmeros presentes, o diretor Toni Venturi, cujo novo filme, A Divina Comédia, estreou nesta quinta, 19, aproveitou para manifestar seu repúdio à s tentativas de censura que, nos últimos tempos, se multiplicam no PaÃs. "Ninguém merece isso duas vezes na vida", disse ele, lembrando a censura do regime cÃvico-militar.
E veio o filme, propriamente dito. Human Flow - Não Existe Lar Se não Há para Onde Ir estreia em 16 de novembro, distribuÃdo pela Paris, que se associou à Mostra para trazer o artista ao Brasil. Weiwei foi impedido de embarcar em Nova York na terça à noite e acabou chegando somente ontem a São Paulo. Ele é um dos vencedores do Troféu Humanidade deste ano, que também será outorgado a Agnès Varda, grande autora do cinema francês que participa da programação com 11 filmes restaurados, mais o 12.º, que é justamente seu novo trabalho - Visages, Villages. Acredite - se você tivesse de escolher apenas um tÃtulo entre os 394 da Mostra deste ano, poderia muito bem ser esse. Trata-se de uma obra realmente excepcional.
A Mostra outorga o Prêmio Leon Cakoff, que leva o nome de seu fundador, ao diretor francês Paul Vecchiali. Ele desembarca na cidade nesta sexta. Há também o Foco na SuÃça, com direito a retrospectiva de Alain Tanner. Entre suas obras que merecem revisão está Jonas Que Terá 25 Anos no Ano 2000. Realizado em 1976, o longa aborda o tema da utopia por meio de uma comunidade de contestadores. Sob pressão da sociedade, eles começam a vivenciar suas frustrações de forma visceral, mas o diretor projeta a esperança do grupo no pequeno Jonas. Tanner, vale lembrar, foi um dos diretores que a Mostra revelou para o público brasileiro, ajudando a criar nichos para obras especiais, de reconhecido valor artÃstico, no mercado do PaÃs.
Agradecendo aos patrocinadores e colaboradores, Renata de Almeida define no programa seu desejo de uma grande Mostra. "Nesses tempos nebulosos, que ela possa trazer um fluxo de águas e ideias cristalinas."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo