27/04/2019 08h10
Vera Chytilová, o nome da transgressão checa
Começou na quarta, 24, no CCBB, uma retrospectiva completa dedicada à autora checa Vera Chytilová (1929-2014). No fim de semana, os cinéfilos poderão assistir aos dois filmes mais famosos de Vera. Os melhores? Muito provavelmente. No sábado, à s 19h30, As Pequenas Margaridas. No domingo, à s 16h, Fruto do ParaÃso. Vera sempre rejeitou o rótulo de feminista - preferia considerar-se individualista. "Se há algo de que você não gosta, não siga as regras - quebre-as. Sou inimiga da estupidez e do pensamento simplista, sejam de homens ou mulheres." Como diretora de cinema, ela se destacou nos anos 1960, integrando o que na época se chamava de nouvelle vague da antiga Checoslováquia, influenciada pela nova onda francesa.
Vera talvez não concordasse com o tÃtulo que a curadora Rosa Monteiro criou para o seu evento - A Grande Dama do Cinema Checo. Na juventude, ela estava mais para despudorada, realizando filmes para expressar as pulsões vitais da juventude. As Pequenas Margaridas é sobre duas Marias que se lançam num exercÃcio de hedonismo. Sexo, comida. Buscam o prazer imediato. O filme provocou grande escândalo em 1966. O Partido Comunista acusou Vera de indecente e niilista. Em 1961, com Strop/Teto, já havia rompido com o academicismo oficial e adotado práticas assimiladas do cinéma verité para embaralhar os limites da ficção e do documentário.
Em As Pequenas Margaridas, teve a cumplicidade do marido e fotógrafo, Jaroslav Kucera. Um passeio das Marias num jardim vira dança coreografada, o jantar com o velho rico é uma dupla forma de saciar a fome e enganar os homens - que merecem ser enganados. As Marias comemoram - "Estamos ficando cada vez melhores nisso." A liberdade de tom prosseguiu com Fruto do ParaÃso, em 1970. Com o namorado, Eva passa o dia numa espécie de spa, onde o casal se defronta com a tentação. Vera Chytilová fez sua fábula alegórica sobre o Jardim do Éden.
Alegórica - e psicodélica, porque se há uma coisa que essa diretora, melhor seria dizer artista, ajudou a estabelecer foi a fama do cinema checo como o mais belo, visualmente, do bloco socialista. Tudo isso, claro, antes que os tanques soviéticos invadissem Praga, em 1968.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo