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14/03/2016 16h00

Vivos e mortos que movimentam o Brasil

É dentro de um baú que estão guardados grandes segredos, mentiras e revelações sobre a fundação do Brasil. São os chamados inventários dos bandeirantes que contêm testamentos deixados pelos homens durante suas expedições em busca de ouro e escravos.

Os documentos reunidos foram abertos pela primeira vez pelo então governador paulista - e depois presidente do Brasil - Washington Luís (1869-1957). No palco de Sonata Fantasma Bandeirante, em cartaz no Sesc Ipiranga, esses documentos foram reproduzidos em tamanho real. "Estão descritos relatórios de bens e informações sobre a rotina das expedições, bem como das heranças deixadas", explica o dramaturgo e diretor amazonense Francisco Carlos.

A montagem teve como ponto de partida Vida e Morte Bandeirante, de Alcântara Machado. Na obra dividida em cinco volumes, o autor faz uma reconstituição do passado de alguns municípios e de algumas personalidades entre os períodos de 1578 e 1700.

A escolha do dramaturgo faz um recorte no século 1600 e se localiza no povoado de São Paulo do Piratininga, fundado em 25 de janeiro de 1554 por doze padres, entre eles Manuel de Nóbrega e José de Anchieta.

O acampamento podia ser encontrado entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí. "Era um dos principais lugares. Lá, os bandeirantes também planejavam suas expedições", conta Carlos. O autor já desejava pesquisar os primeiros casos de conflito étnico ocorridos na fundação que matou indígenas e escravizou negros no Brasil. No entanto, Carlos conta, o ato de fazer essa revisão faz surgir nuances na narrativa. "Toda história é uma falsificação. São edições e hipóteses levantadas", afirma ele.

Em sua perspectiva, Carlos resgata as lembranças de uma ambígua família, comandada pelo patriarca, vivido por Daniel Faleiros, e sua mulher, personagem de Alessandra Negrini. O papel do jovem filho é dividido por Begê Muniz e Daniel Morozetti. "Aos poucos, os vestígios vão surgindo e as memórias passam a assombrar como fantasmas", conta o autor.

Por meio de uma narrativa fragmentada, a Sonata revolve episódios de traição e morte. O marido evita a mulher, enquanto tem relações com as índias e as negras escravas. A mulher, em ódio, castiga. No palco, um filho hamletiano invoca a presença do pai que já está morto. Alessandra ressalta o empenho do diretor. "Fran tem um olhar muito cinematográfico, seu texto tem cortes secos e rápidos", analisa.

Autor da tetralogia Jaguar Cibernético, Carlos tem em seu repertório obras que procuram causar fricção pensando na tríade animais-homens-deuses. O resultado foi montagens intituladas Banquete Tupinambá, Aborígene em Metrópolis, Xamanismo The Conection e Floresta de Carbono - De Volta ao Paraíso Perdido. "São exercícios de mergulhar nessas épocas para, em seguida, criar um certo distanciamento e seguir na busca por compreender esse jogo de dominador e dominado."

Fonte: Estadão Conteúdo
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